“Dava beijos nas páginas, com batom vermelho”. Biblioteca privada de Amy pode ser visitada a partir de hoje na Livraria Lello.
Uma “janela” que poucos espreitaram. A cantora Amy Winehouse, que perdemos tragicamente a 23 de julho de 2011, escondia pelo menos desde os seus 15 anos uma extensa coleção de teatro, ficção e banda desenhada, que foi agora comprada pela Lello.
A famosa livraria portuense vai expor 230 livros da biblioteca privada da artista que “era muito mais do que apenas cantora”, como diz a administradora do espaço literário, Aurora Pinto, à Lusa.
Em várias obras, é possível ver notas pessoais, mas também a marca dos lábios vermelhos da artista responsável por “Back to Black”, “Valerie”, “You Know I’m No Good” e outros clássicos. “A paixão de Amy ao ler alguns destes livros era tal que ela dava beijos nas páginas com baton vermelho”, diz Aurora Pinto.
Num dos livros, “O Uivo e Outros Poemas”, de Allen Ginsberg, Amy terá também deixado escrita a primeira frase de uma canção que nunca existiu, diz ao Público Mário Rui Vieira, a quem a Lello pediu uma “análise crítica” da coleção.
“Ela deixou lá escrita a frase ‘Eu não mostrarei remorsos’ e, ao lado, várias palavras que rimam com ‘remorsos’. Só podemos especular, mas talvez fosse o início de uma letra”, confessa o jornalista da Blitz.
As “quatro fases da vida” de Amy
A coleção está exposta a partir desta quinta-feira na sala Gemma, “um espaço exclusivo dedicado às joias literárias mais valiosas”. Está dividida em “quatro fases da vida” de Amy Winehouse.
“A primeira parte é a ‘Adolescente’, que tem os livros que terá lido enquanto jovem. O que encontramos, essencialmente, são peças de teatro, como, por exemplo, de Arthur Miller e “a primeira peça na qual entrou”, na escola de teatro onde estudou, ‘A pequena loja dos horrores’, em que Amy mostra a sua satisfação com o drama ao escrever no livro, em letras gordas, ‘Amo o Drama’. Isto revela que ainda muito jovem Amy tinha esta vertente, este lado dramático”, disse a responsável.
A segunda parte é “Nerd“.“São livros, essencialmente, de banda desenhada ou novela gráfica, os que ocupam a maior fatia da coleção — é algo que acompanhou a vida dela e que ela valorizou muito“. Nesta secção, estão as obras dos irmãos Hernández e outros autores ligados à BD em que “se vê uma Amy que procurava o gosto pela identidade visual, o gosto e a paixão pela narrativa visual e que marca a sua carreira musical”.
A parte três, “Os artistas“, é composta por “livros sobre outros artistas, especialmente biografias, como Frank Sinatra, Madonna, Bob Marley, Boy George, Jimi Hendrix ou Anthony Kiedis.
Por fim, a “quarta e última parte”, dedicada aos livros “mais tradicionais”, a “Literatura”, na qual se encontra, por exemplo, a “obra completa de [J.D] Salinger, todos os livros e alguns em mais de que uma edição”.
“Também sabemos que começou a ler Salinger aos 12 anos, leu ‘À Espera num Centeio’, um livro forte, pesado, sobre um jovem com um percurso de vida até parecido com o dela – foi expulso da escola, depois o problema de como contar aos pais. Há aqui identidades que se vê que [Amy Winehouse] procura nas obras que lê, de paralelismo com a sua própria vida”, disse Aurora Pinto.
O valor da biblioteca “vai muito além do valor de cada livro”. A Lello optou por não revelar a quantia pela qual comprou a coleção.
A coleção foi apresentada esta quinta-feira à noite num evento privado que contou com um concerto da banda que acompanhou Amy Winehouse ao longo da sua carreira. Mas a partir desta sexta-feira, a coleção está aberta ao público, durante o horário habitual da Livraria Lello.
O grupo que acompanhava a cantora, The Amy Winehouse Band, não passa apenas pela Lello. Vai estar em Lisboa, no Capitólio, esta sexta-feira, e no sábado volta ao Porto, onde atua no Hard Club.
Tomás Guimarães // Lusa