Uma equipa desenvolveu um penso higiénico capaz de detetar a presença do papilomavírus humano (HPV) através do sangue menstrual. Designado Q-Pad, é feito de algodão e contém uma tira de teste amovível, que permite a recolha da amostra para análise.
De acordo com os investigadores responsáveis pelo projeto – cujos resultados foram publicados recentemente na Obstetrics & Gynecology -, o objetivo é que desenvolver alternativas ao exame do papanicolau, que sejam menos desconfortáveis no momento da realização mas igualmente precisas.
Uma opção como o Q-Pad poderia ajudar a reduzir o estigma em torno da menstruação, disse Paul Blumenthal, professor na Universidade de Stanford. Além disso, trata-se de um auto-teste, privado e indolor, que aproveitaria “um recurso não utilizado, fácil de obter e recorrente” – o sangue menstrual, continuou.
O HPV é a infeção sexualmente transmissível mais comum no mundo, lembrou o Futurity. Alguns dos seus tipos são considerados de “alto risco”, podendo levar ao cancro do colo do útero caso não sejam tratados. Contudo, muitas pessoas com HPV de alto risco não desenvolvem quaisquer sintomas, o que dificulta o diagnóstico.
Na maioria dos casos, o sistema imunitário elimina a infeção no prazo de dois anos. No entanto, em cerca de 10% das mulheres esta persiste e, com o tempo, as células normais podem tornar-se anormais, formando lesões. Se não forem tratadas, podem originar cancro do colo do útero, mesmo em mulheres vacinadas contra o vírus.
O rastreio padrão do HPV é feito através do papanicolau. Trata-se de um procedimento de rotina recomendado para mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 65 anos, de cinco em cinco anos.
Na maioria dos casos o cancro do colo do útero pode ser evitado através de uma combinação da vacinação, do rastreio e do tratamento atempado de lesões. Mas o risco é elevado para as mulheres que não têm acesso ao exame ou ao rastreio, como acontece nos países em desenvolvimento, onde ocorrem 80% dos casos.
Neste projeto, as participantes foram instruídas a usar o penso no segundo ou no terceiro dia de menstruação. As tiras de teste presentes nos pensos permitiram acumular uma quantidade de fluxo, que depois originaram manchas de sangue seco – essas amostras foram então analisadas para comprovar a eficácia do penso.
O estudo incluiu amostras de papanicolau e de sangue menstrual coletados em casa de 106 mulheres. O Q-Pad foi capaz de identificar 12 casos de HPV de alto risco, não identificados nos exames realizados pelos médicos.
De acordo com Blumenthal, é possível que isto se deva ao facto de o HPV estar alojado numa área do colo do útero ou do canal vaginal onde o clínico não chegou durante o exame, mas através do qual corria sangue menstrual.
O sangue seco não é considerado um material perigoso e não requer refrigeração especial. Uma vez analisada a amostra no laboratório, os resultados podem ser facilmente partilhados com as pacientes e com os seus médicos.
Na opinião de Blumenthal, esta pode ser uma “ferramenta de diagnóstico global”. O investigador indicou que parte da missão da equipa é reduzir o estigma e aumentar o acesso das mulheres a exames. O Q-Pad “poderia alargar o acesso aos cuidados, especialmente para as mulheres que não dispõe dos recursos necessários para testes caros, realizados por médicos”, referiu.
O especialista acredita ainda que a ferramenta tem potencial para, no futuro, detetar uma série de informações de saúde, como biomarcadores que sinalizam condições inflamatórias indicativas de infertilidade.