Internados com alta que não têm para onde ir aumentaram 60% (e ocupam 10% das camas)

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Quase 10% das camas hospitalares estavam em março ocupadas por pessoas com alta, internadas por razões sociais — mais 60% que o ano passado. Lisboa e Vale do Tejo e o Norte representam oito em cada 10 dos casos.

Um total de 1675 camas dos hospitais públicos estavam, em março, ocupadas por pessoas internadas apenas por razões sociais, um aumento de 60% dos internamentos inapropriados face ao mesmo mês de 2022 que deve custar ao Estado 226 milhões de euros este ano.

Os dados constam do sétimo Barómetro de Internamentos Sociais que será hoje apresentado em Lisboa.

Lisboa e Vale do Tejo (34%) e o Norte (45%) são as regiões com maiores taxas de internamentos inapropriados, sendo responsáveis, em conjunto, por mais de oito em cada 10 casos de utentes internados sem necessidade clínica que o justifique, confirmada através de alta médica. A maioria são mulheres acima dos 80 anos.

“Os internamentos inapropriados nas unidades hospitalares do SNS aumentaram este ano, assim como os custos associados a estes casos, que se explicam por atrasos, quer na admissão para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), como na admissão para Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI)”, adianta a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) — responsável pelo estudo, em parceria com a EY — em comunicado.

O barómetro considera internamento inapropriado todos os dias que um utente passa no hospital quando já tem alta clínica e não existe um motivo de saúde para justificar que permaneça hospitalizado.

Os casos de internamentos sociais, à data da recolha dos dados (20 de março), representavam 9,4% do total de internamentos nos hospitais nacionais – excluindo as unidades psiquiátricas – e tinham um custo estimado de quase 52 milhões de euros para o Estado, muito superior aos 19,5 milhões em março de 2022.

“Extrapolando este cenário para o total do ano de 2023, os internamentos inapropriados podem ter um impacto financeiro de mais de 226 milhões de euros”, alerta a APAH, ao avançar que, no total, se verificam 102.807 dias de internamentos inapropriados, mais 228% do que os apurados na sexta edição do barómetro.

Idosos não têm para onde ir

De acordo com o estudo, este “enorme aumento resulta particularmente do aumento da demora média dos internamentos inapropriados”, que passou dos 29,9 dias em 2022 para os 61,4 dias em 2023, “tendo como sua principal causa o atraso na obtenção de vaga para ERPI”.

“Temos mais doentes a aguardar vaga na RNCCI, mas aqueles que aguardam por vaga em ERPI aguardam mais tempo”, salienta também o barómetro.

O presidente da APAH, Xavier Barreto, afirma que “importa revisitar os investimentos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência no sentido de perceber em que medida contribuem para responder a este desafio de saúde pública e social”.

“Ter quase 10% das camas com estes utentes é uma coisa que nos devia deixar a todos alarmados. É incompreensível como é que a situação não melhorou”, lamenta.

Já para a presidente da APSS, os dados agora divulgados vêm provar que a experiência durante o período da pandemia da covid-19, em que a Segurança Social conseguiu encontrar soluções que resultaram na diminuição do número de internamentos inapropriados e dos tempos de permanência indevida nos hospitais, “não teve continuidade”.

“Apesar da tentativa de aumentar a capacidade de resposta em ERPI através da contratualização de mais lugares em estruturas geridas pelo setor solidário, constata-se o fraco impacto desta medida, até pelo facto de sabermos que a capacidade de resposta deste setor é limitada, face às necessidades de um país que regista uma das maiores taxas de envelhecimento da Europa e do mundo”, lamentou ainda Júlia Cardoso.

Em 23 de março, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, anunciou novas respostas de retaguarda para os doentes da zona de Lisboa que podem ter alta hospitalar, mas que estão a aguardar vaga na RNCCI ou num lar.

Na altura, o governante avançou que a partir do início de abril, o hospital de Sant´Ana, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, iria funcionar como hospital de retaguarda, recebendo numa primeira fase 30 pessoas e com uma capacidade posterior até cerca de 100 utentes, mas esta semana isso ainda não tinha acontecido.

Aliás, esta situação não é novidade. Em 2020, a Segurança Social estaria a tirar das camas hospitalares pessoas que já teriam alta clínica mas que continuavam internadas por falta de resposta extra-hospitalar.

Este estudo teve o apoio da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS). Contou com a participação de 39 hospitais do SNS, num total de 19.462 camas, representando 88% da capacidade a nível nacional.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. Muito se “falou” da morte medicamente assistida , e nunca no hemiciclo , se veio a comtemplar seriamente o futuro dos nossos Idosos , abandonados nas suas próprias casas , en camas de Hospitais , com um só objetivo de Vida …….esperar uma morte menos penível possível . Cuidados continuados , Lares Sociais , Cuidados Paliativos en Quantidade e Qualidade suficientes , Para todos o que deles necessitam , qualquer que sejam as suas posses Financeiras , isto Sim deveria ser discutido na AR ! ……….seria Sim digno de uma Sociedade (dita Democrática e Humana) . Mas claro existe a diferença entre Governar e Governarem-se !

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