Caso se confirme a interferência do primeiro-ministro António Costa no caso BIC pode “ser razão suficiente para colocar em causa” a sua “continuação”, indicou o social-democrata Miguel Poiares Maduro.
Em entrevista conjunta ao Público e à Renascença, considerou que a “independência” entre poderes “não é colocada em causa por existir comunicação em matérias em que as competências das duas partes se possam de alguma forma cruzar”.
No entanto, sobre o caso alegada pressão que Costa terá feito a Carlos Costa para manter Isabel dos Santos na administração do BIC, Poiares Maduro referiu que “nessa competência do Banco Portugal o Governo não tem de ter a mínima intervenção” e que essa interferência “poderia ser razão suficiente para colocar em causa a continuação” do primeiro-ministro.
“Se o primeiro-ministro comunicou uma preferência ao governador relativamente a uma questão de escolha de idoneidade para o exercício de funções de administração ou titular de um banco, isso é, do meu ponto de vista, uma interferência inaceitável na independência do Banco Portugal”, acrescentou.
Sobre o facto de o PSD avançar para uma comissão parlamentar de inquérito, indicou que teve “oportunidade de ler as perguntas” do partido, que lhe parecem “muito pertinentes e bem-feitas” e que está “plenamente de acordo com essa estratégia”.
Questionado sobre uma afirmação que fez há dois anos, na qual afirmou que Costa “tem a mesma concepção de poder de José Sócrates, um poder absoluto em que não existe margem para escrutínio independente”, respondeu que “Costa tem essa concepção de poder que o leva a colocar em causa a independência de entidades que são independentes por uma razão: não serem suscetíveis de tomar decisões em determinadas matérias por oportunidade política”.
“O primeiro-ministro, muitas vezes, se calhar até pode ser que o faça imbuído das melhores razões, mas isso tem um efeito absolutamente perverso no funcionamento do nosso sistema democrático”, indicou.
E continuou: “é no âmbito da legislação que se devem definir as prioridades políticas. Por exemplo, quando agora se discutiu esta questão da senhora Isabel dos Santos, uma das questões que eu ouvi é que, no fundo, o que o Governo fez foi propor um acordo a Isabel dos Santos e se esse acordo não fosse cumprido aplicava-se a lei que ainda era pior para ela”.
“Se o primeiro-ministro acha que as leis são inadequadas para resolver os casos da senhora Isabel dos Santos ou de quem seja, mude a lei. Mas não tem que andar a negociar acordos debaixo de um manto de secretismo, independentemente da boa vontade e dos objetivos não serem perversos de alguma forma. Mas será perverso no funcionamento da nossa democracia e do nosso Estado”, acrescentou.
Relativamente à postura do Presidente da República e sobre o facto de sair em defesa de Costa, indicou que Marcelo Rebelo de Sousa “devia ser o primeiro a dizer que se há uma lei para aplicar, aplique-se a lei”.
“Acho que o Presidente da República tem enormes virtudes. É alguém genuíno, que se preocupa com as pessoas. Mas é alguém que também tem uma tendência para não perder o seu hábito de comentador televisivo e para se pronunciar permanentemente sobre tudo e alguma coisa”, apontou.
Ao fazê-lo, “muitas vezes, como temos visto, infelizmente acaba por se pronunciar – se calhar sem ter intenção de o fazer – de uma forma muito infeliz”, constatou.
“Foi assim no caso dos abusos sexuais na Igreja, no caso sobre os direitos humanos no Qatar e acho que também foi assim nesse caso [ao defender o primeiro-ministro]. Tem de conseguir censurar-se um bocadinho mais, escolher melhor, ponderar melhor os momentos em que intervém”, indicou ainda.
“Espero que use as suas virtudes e a sua inteligência naquilo que é muito positivo para o país e não se deixe cair em declarações, em gestos precipitados. Sempre que ele intervém de forma precipitada, intervém quase sempre mal”, concluiu.
«…Desde um extremo ao outro do espectro partidário português, estes partidos são todos iguais no seu conservadorismo de regime. Fingem se combater uns aos outros, só para enganar os Portugueses mais distraídos. Porém, estão alinhados, todos e ainda que em estilos diversificados, sob as mesmas batutas que controlam a imposição do sistema político-constitucional ainda vigente…» – Alberto João Jardim in «A Tomada da Bastilha»
Concordo totalmente. É inaceitável a intervenção do PM junto do governador do banco de Portugal. Qualquer dia começa a lembrar-se de pressionar o diretor do INE para que a economia não registe dois trimestres negativos ou para baixar uns pós na inflação.
Nada de novo, desde o caso casa pia! Memória curta meus caros, mas sempre com o mesmo registo de impunidade.