O TikTok é a rede social mais popular no Paquistão, mas a aplicação mostra um lado do país que não se alinha com a sua imagem conservadora.
Em 2019, o TikTok tornou-se a segunda aplicação mais popular no Paquistão com cerca de 16,3 milhões de downloads entre janeiro e novembro. Muitos paquistaneses alcançaram a fama partilhando partes das suas vidas em áreas rurais.
Contudo, depois de se tornar a rede social mais popular do país, o TikTok foi banido.
O governo do Paquistão proibiu a aplicação pela primeira vez em outubro de 2020, citando “conteúdo indecente” como motivo, de acordo com Vice. A proibição foi suspensa menos de duas semanas depois, mas outra voltou a ser implementada em março, com a Autoridade de Telecomunicações do Paquistão (PTA) citando “conteúdo antiético e imoral”.
Esta segunda proibição foi suspensa mais uma vez no início de abril.
“Onde quer que vá, as pessoas pedem-me selfies. Onde quer que passe, as pessoas dizem ‘Oh, é aquele rapaz!’ Essa é a reação que recebo, esse é o tipo de mudança [que o TikTok] trouxe à minha vida”, contou Zeeshan Akram, um agricultor e celebridade de TikTok de 21 anos.
Akram faz vídeos de si mesmo a semear arroz e a ordenhar vacas e agora tem cerca de 193 mil seguidores no TikTok. “Queria mostrar a todos que as pessoas no campo podem ser de todos os tipos. Alguns são instruídos e outros não”, disse.
O TikTok também deu a estes paquistaneses uma nova fonte de rendimento. “Todo o dinheiro que ganhei de empresas e marcas, todas as empresas com as quais colaborei e nas quais me tornei embaixador, e todas as promoções que fiz recebi por causa de TikTok”, disse Hareem Shah, um influencer de 27 anos com mais de 5,8 milhões de seguidores.
A rede social deu também uma voz a pessoas que eram excluídas nos grandes media. Por exemplo, Usman Nasim, um homem de meia-idade, partilha conteúdo religioso, e Tauqeer Abbas, um trabalhador partilha partes da vida na aldeia.
Contudo, as mesmas qualidades que tornam o TikTok tão atraente para a juventude paquistanesa também o tornam polémico.
A vida conservadora no Paquistão
O Paquistão é uma sociedade amplamente conservadora e patriarcal e o TikTok tornou-se uma plataforma que apresentava diferentes aspetos do Paquistão, aspetos esses que não coincidiam com o país muçulmano conservador.
Em agosto, o advogado Nadeem Sarwar entrou com uma petição no Tribunal Superior de Lahore para proibir o TikTok. Em entrevista ao jornal paquistanês Dawn, Sarwar disse que havia “pouca diferença entre alguns destes vídeos e a pornografia”, referindo-se a um vídeo em que uma mulher amamentava um bebé.
Isso foi seguido por relatos de incidentes perigosos relacionados com o TikTok, como o caso de uma jovem que foi supostamente violada por uma gangue depois de se encontrar com um amigo que conheceu na plataforma.
Quando o governo bloqueou oficialmente o TikTok em outubro, o PTA disse, em comunicado, que a decisão veio “[em] vista do número de queixas de diferentes segmentos da sociedade contra conteúdo imoral e indecente” na aplicação.
Há muitas pessoas céticas quanto aos motivos do Paquistão para proibir o TikTok.
“Se o TikTok é um meio para indecência, outras aplicações de redes sociais tabém o são. Temos dramas da televisão do Paquistão em rede nacional que promovem a vulgaridade. Se o Paquistão tiver problemas com a segurança nacional, apoiaremos o Paquistão. Mas essa desculpa de ‘vulgaridade’ não faz sentido , disse Shah.
Enquanto o governo cita a “indecência” como o seu principal motivador, outros acreditam que pode haver outros fatores em jogo. Quando a covid-19 chegou ao país, impactou o sustento da classe média baixa e da classe trabalhadora e aumentou o número de utilizadores ativos mensais no TikTok.
Antes da proibição, começaram a surgir os vídeos a criticar o governo. Alguns analistas e jornalistas acreditam que a proibição foi menos sobre conteúdo imoral e mais sobre como conter as críticas à resposta à pandemia do primeiro-ministro Imran Khan.
Esta não foi a primeira vez que TikTok foi banido de um país. A Índia baniu oficialmente o TikTok e uma série de outras aplicações chineses em julho de 2020, após um conflito entre tropas chinesas e indianas, com o governo a dizer que as plataformas estavam “envolvidos em atividades prejudiciais à soberania e integridade da Índia“.
O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também tentou banir o TikTok por razões de segurança nacional, embora isso não tenha funcionado.