Economista português, especialista em assuntos internacionais, falou com o ZAP sobre consequências da invasão à Ucrânia.
Estava tudo controlado; prognósticos só no fim do jogo; o impacto vai ser grande.
Foram estas três das ideias abordadas numa conversa que o ZAP teve com um economista português, especialista em assuntos internacionais, que nesta fase preferiu manter o anonimato.
O assunto foi, sem surpresas, a guerra na Ucrânia. Sobretudo as consequências económicas e práticas que o povo português pode sofrer: “Serão poucos os problemas directos nas cadeias de transmissão e de distribuição. Mas o impacto via preços vai ser grande“, resumiu, já na parte final da conversa.
Antes, recordações dos pensamentos que eram predominantes até ao dia 21 de Fevereiro (quando Putin reconheceu a soberania de Donetsk e Lugansk) e até ao dia 24 do mesmo mês (quando começou a invasão à Ucrânia).
Parecia que estava tudo controlado: “Nós já seguíamos o conflito e, até praticamente há 10 dias o pensamento era que se resolvia tudo. Depois desses dois momentos, vimos que não havia marcha-atrás e que isto iria virar a economia ao contrário“.
Previsões, agora, não
Passou a ser altura de citar um jogo de futebol, no momento de (não) fazer previsões concretas: “Agora vou parecer o João Pinto, mas só faço prognósticos só no fim do jogo. No nosso departamento estamos a reavaliar tudo. Não podemos dar números. Qualquer economista sério, o melhor que pode dizer, é que não sabemos quais os impactos que isto vai criar. Pode virar para qualquer lado“.
Evitam-se previsões porque num cenário de guerra “tudo é muito imprevisível“. Mas há algo certo: “O que sabemos é que, sendo este conflito tão perto, a inflacção vai aumentar“.
A Rússia é produtor de muitas matérias primas, como nos sectores das energias renováveis e dos automóveis. A Rússia, aí, é “muito importante” mas a Ucrânia também “é muito importante no sector do trigo“.
O impacto macro-económico é totalmente diferente, entre subidas de preço no petróleo e no trigo. Mas, especialmente no caso ucraniano, os aumentos de preços no trigo e no óleo de girassol podem aumentar o preço da comida.
Stock pode falhar
E o problema pode não ser só a inflacção: “Espero que não, mas podem haver falhas em cadeias de distribuição. O óleo de girassol pode falhar“.
No caso russo, apesar de Portugal, directamente, não depender muito dos russos no sector energético, “pode ser afectado no aumento de preços e até na falta de stock“.
“Eu espero que não cheguemos aí, mas a probabilidade de o stock falhar é muito maior agora do que até há três ou quatro semanas“, alertou.
“Nós dávamos as exportações e importações como adquiridas. Vieram a pandemia e a guerra…”, lamentou o especialista.
Barril interfere com PIB
A subida constante do preço do barril de petróleo tem consequências a curto prazo. Na próxima semana o litro do gasóleo deverá subir 14 cêntimos em Portugal.
Mas, num prazo um pouco mais alargado, o PIB também deverá ser alterado: estimava-se que, em 2022, o preço médio seria 80 dólares por barril; se, por causa da guerra, o preço do barril passa para 100 dólares, “só isso levaria a uma variação de -0,6% no PIB de países como Portugal, com dependência de importações de petróleo”.
Em média, uma subida de 10 euros no preço de um barril de petróleo é sinónimo de queda de 0,3 pontos percentuais no PIB de Portugal.
Desde 21 de Fevereiro o preço do gás quase duplicou. É um “choque energético do lado da oferta”, que se soma às inflacções que já estavam a subir muito. “Há um ano que nós, economistas, andamos a dizer que este choque de inflacção é temporário…”.
“As inflacções na zona Euro estão em 5% ou 6%. Há um mês prevíamos que o cenário iria normalizar-se até ao final do ano. Isso já não vai acontecer”, analisou o economista.
Juros BCE
Por outro lado, as subidas dos juros do Banco Central Europeu (BCE) vão ser adiadas.
Deveremos assistir a uma estagflação, em que o crescimento é bastante baixo, mas simultaneamente a inflacção é bastante alta.
O BCE deverá adiar a subida dos juros, sobretudo caso a guerra se prolongue. A subida programada para o Verão só deverá ser realizada no final de 2022, ou mesmo no início de 2023.
Afinal, quando e quanto?
Quando seremos afectados no dia-a-dia e quanto seremos afectados? “Volto a dizer que é muito cedo para apontar números. Nem se deve prever números nesta altura. Em relação a impacto nos preços nos sectores não energéticos, normalmente só meses depois“, respondeu.
Portugal é um dos países “muito menos dependentes” de Rússia e Ucrânia no sector não-energético.
No pouco que pode ser previsto, o impacto na electricidade em Portugal não vai ser sentido para já, devido às tarifas reguladas. E, no mercado livre, normalmente o preço é fixo.
Noutros países, em que não há tantos clientes a optar pelo mercado regulado, ou onde o mercado regulado não funciona da mesma maneira, a dependência é maior.
No sector energético, não dependemos directamente destes dois países, mas somos importadores de várias matérias-primas.
O petróleo chega a Portugal proveniente de várias fontes, por isso “a dependência directa da Rússia não é grande”.
Em relação ao gás, quase nem há importação de gás da Rússia. “Mas haverá efeitos no preço. Provavelmente a mesma quantidade virá num preço mais elevado”, salientou.
“Nós agora estamos numa constante contabilidade de impactos: e isto? E mais isto? Agora este preço vai subir, o que vai fazer subir o outro preço… Estamos sempre nestes exercícios”, explicou.
O que mais vai falhar , é a capacidade Económica para adquirir o essencial !…………Os “Stock’s” nem tanto !