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Investigação ao IKEA quase matou um dos envolvidos. Cai uma árvore a cada 2 segundos

Empresa sueca acusada de exploração intensiva da madeira e do trabalho humano, de alimentar comércio ilegal. Documentário deixa alertas.

A IKEA é uma das marcas mais conhecidas em muitos países, incluindo Portugal. É líder mundial na produção de imobiliário, tem receitas de milhares de milhões de euros, inúmeros visitantes todos os dias.

É essencial nas cozinhas de muitos portugueses, nas salas, nos quartos. Apresenta peças simples, atractivas, fáceis de montar e mais baratas.

Também se apresenta como uma “empresa verde”, uma “amiga do ambiente”, uma empresa que aposta na sustentabilidade e que escolhe materiais mais sustentáveis. Uma empresa que respeita o planeta, oficialmente.

Mas um documentário da Arte TV, publicado no ano passado e recuperado recentemente pela RTP, mostra outro lado dos bastidores da IKEA.

A empresa sueca é acusada de exploração intensiva da madeira e do trabalho humano, de alimentar o comércio ilegal da madeira e de ameaçar as últimas florestas mais preciosas da Europa.

Os dados recolhidos nesta análise mostram que a IKEA “devora” uma árvore a cada 2 segundos, faz cair 20 milhões de metros cúbicos de madeira por ano.

A maior consumidora de madeira destrói florestas; não protege o ambiente, segundo o documentário.

Esta investigação única acompanhou a cadeia de produção da IKEA durante mais de um ano. Os suecos subcontratam o fabrico dos seus móveis em dezenas de países. Para renovarem o seu stock de madeira, compram milhares de hectares de terra em todo o mundo e colocam ecossistemas em risco.

A IKEA precisa de ter matéria-prima barata (madeira, essencialmente) para continuar a vender a preços mais baixos. E, para isso, acusa o documentário, “contorna as regras e fecha os olhos” – chegava madeira da China, mas através da Sibéria. Tudo de forma ilegal. A empresa nega.

Gabriel correu riscos

Suécia, Brasil ou Nova Zelândia são alguns dos países afectados. Na Roménia, a IKEA é a maior proprietária florestal daquele país europeu. Tem cerca de 50 000 hectares.

Gabriel Paun, biólogo e protector de florestas, começou a inspeccionar as actividades realizadas na floresta da Roménia. E quase morreu ao tentar mostrar que a IKEA recebe madeira por intermédio de actividades ilegais.

Em 2015, estava a fazer uma das suas viagens, nas suas investigações, quando foi alvo de uma emboscada. Eram cerca de 10 homens à sua volta: “Mal me viram, reconheceram-me. E tentaram matar-me. Atiraram-me ao chão e agrediram-me ao soco e ao pontapé” – mas levantou-se e fugiu, enquanto ouvia os madeireiros gritar que aquele obstáculo (Gabriel) tinha de desaparecer. Queriam “acabar” com ele.

Em parcelas que pertencem ao IKEA, há valas escavadas de forma ilegal, que podem originar deslizamentos de terra; florestas arrasadas, árvores periféricas estragadas; trilhos muito profundos em locais proibidos. A erosão do solo arranca, alerta Gabriel Paun. “É um massacre”.

“É um roubo. Eles são implacáveis. Parece que perdem a cabeça perante a natureza. Parece que a detestam. Chamo a isto pilhagem”, reage o activista.

“Fazemos o necessário para preservar o ambiente. Antes de qualquer intervenção florestal, realizamos uma avaliação exaustiva do potencial impacto sobre o ambiente; e são tomadas medidas para evitar a erosão do solo”, reage a IKEA.

As multas no Brasil

A jornalista de investigação Sílvia Lisboa relata que a Artemobili, empresa que então era fornecedora da IKEA no Brasil, foi alvo de duas multas ambientais graves.

A primeira por desmatar uma mata nativa e por descartar produtos químicos de forma inadequada, enterrando-os.

A segunda multa esteve relacionada com a construção de uma serração, sem autorização, na zona que desflorestou.

“Não sei de nada. Talvez a direcção, o departamento jurídico saibam”, reage Rafael Bocchi, director de operações da Artemobili.

“Levamos a sério qualquer violação do nosso código de conduta. Esperamos que todos os nossos fornecedores cumpram todas as leis e os regulamentos locais”, reage a multinacional sueca – que costuma transferir responsabilidades para as empresas que subcontrata, evitando processos judiciais.

Os investigadores queriam ver melhor os bastidores da tal exploração sustentável da floresta anunciada pela IKEA. A empresa recusou “abrir portas” várias vezes.

ZAP //

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