Identificados os genes que tornam as medusas imortais

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Ao comparar o ADN de duas espécies semelhantes de medusas, os investigadores encontraram os genes que parecem permitir reverter o envelhecimento do único ser vivo imortal que se conhece.

Uma espécie imortal de medusa tem cópias duplas de genes que protegem e reparam o ADN. A descoberta poderia ajudar a inverter ou parar o envelhecimento humano, bem como condições relacionadas com a idade.

As medusas começam a sua vida como larvas à deriva. Acabam por se fixar ao fundo do mar e desenvolver-se em pólipos semelhantes a rebentos. Elas clonam-se, formando colónias empilhadas e sedentárias.

Essa fase é um beco sem saída para a maioria das medusas — mas a medusa imortal (Turritopsis dohrnii) pode inverter o ciclo, explica a New Scientist.

Quando os tempos se tornam mais complicados, como em ambientes agressivos ou após ferimentos, a medusa imortal os seus corpos em quistos amorfos, voltam a fixar-se no fundo do mar e regressam a pólipos. Podem reiniciar o ciclo indefinidamente, para contornar a morte por velhice.

A imortalidade da Turritopsis nutricula foi descoberta por acaso, em 1988, pelo então estudante alemão de biologia marinha Christian Sommer.

Agora, uma equipa de investigadores da Universidade de Oviedo, em Espanha, descodificou o genoma da medusa — e identificou os genes que podem explicar a sua imortalidade.

Para descobrir como é que a medusa imortal se afasta do envelhecimento, Maria Pascual-Torner, investigadora da Universidade de Oviedo em Espanha, e seus colegas sequenciaram o seu genoma e compararam-no com o da medusa carmesim (Turritopsis rubra) — uma medusa mortal.

Descobriram que a medusa imortal tinha o dobro de cópias de genes associados à reparação e proteção do ADN. Estas duplicações podiam produzir maiores quantidades de proteínas protetoras e restauradoras.

A medusa também tinha mutações únicas, que atrofiavam a divisão celular e impediam a deterioração dos telómeros — as “pontas” protetoras dos cromossomas.

ZAP // Maria Pascual-Torner, U.Oviedo

Comparação dos genomas de medusas Turritopsis dohrnii (“a medusa imortal”) e Turritopsis rubra

Depois, para identificar como a T. dohrnii revertia para a forma de pólipo, os cientistas analisaram quais os genes que estavam ativos durante esta metamorfose inversa.

Os investigadores descobriram que as medusas silenciaram os genes de desenvolvimento para devolver as células a um estado primordial, e ativaram outros genes que permitiam que as células por nascer retomassem, assim que um novo rebento de medusa fosse criado. Juntas, diz Pascual-Torner, estas alterações genéticas protegem o animal das consequências do tempo.

Contactada pelo ZAP, Maria Pascual-Torner adianta que a equipa vai agora explorar estes mecanismos e aprofundar o estudo com novas técnicas.

A autora principal do estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences a 29 de agosto, realça que os genes que identificaram poderiam ser relevantes para o estudo do envelhecimento humano.

Os resultados deste estudo podem assim inspirar novos tratamentos na medicina regenerativa e fornecer conhecimento sobre doenças relacionadas com o envelhecimento, como o cancro e a neurodegeneração.

A imortalidade humana está, aparentemente, um passo mais perto.

Alice Carqueja, ZAP //

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