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Há hospitais a deixar de dar medicamentos por falta de pessoal

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A Ordem dos Farmacêuticos denunciou hoje que há hospitais públicos a deixar de dar medicamentos em dose unitária aos doentes por dificuldades de pessoal, lembrando que este método dá mais segurança e diminui erros.

Em declarações à agência Lusa, a bastonária dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, referiu que há “serviços em alguns hospitais” onde se deixou de distribuir a medicação por dose unitária, que é uma prática mais segura.

É quase uma questão civilizacional. Nós temos neste momento serviços em hospitais onde não fazemos a dose unitária, onde entregamos a medicação em embalagens de medicamentos. Há muitos anos que não fazíamos isto. A dose unitária permite muito menos erros”, explicou Ana Paula Martins.

A dose unitária e individual permite reduzir o tempo de enfermagem dedicado à preparação da medicação, permite diminuir os riscos de contaminação do medicamento e os erros de administração.

A representante dos farmacêuticos recorda que todo o circuito do medicamento hospitalar exige “presença humana” e lembra que há défice de farmacêuticos nos hospitais no Serviço Nacional de Saúde, sobretudo nos últimos quatro ou cinco anos.

No final de junho, a bastonária tinha enviado uma carta ao Ministério da Saúde na qual anunciava que previa uma rutura de prestação de cuidados nos hospitais “como não há memória” a partir de julho, com a passagem às 35 horas a partir do início deste mês. A situação é tão grave, referia a carta, que “está posta em causa a segurança dos doentes”.

A Ordem indicava ainda que “a maioria dos serviços farmacêuticos hospitalares” reporta impactos da falta de pessoas na dispensa de medicamentos aos doentes, nomeadamente na distribuição em dose unitária.

Verão difícil com agravamento em setembro

A Ordem dos Enfermeiros avisa que a situação nos hospitais com a passagem às 35 horas de trabalho deve agravar-se em setembro, estimando que o Governo não contrate sequer metade dos profissionais de saúde necessários.

Quase uma semana depois da entrada em vigor das 35 horas de trabalho semanais para milhares de profissionais de saúde, Ana Rita Cavaco prevê que as dificuldades nos hospitais se mantenham por todo o verão e piorem em setembro.

Inácio Rosa / Lusa

Ana Rita Cavaco, Bastonária da Ordem dos Enfermeiros

“Apesar de o ministro da Saúde ter dito que haveria mais contratações em setembro, já veio admitir que não poderia contratar os profissionais necessários”, refere a bastonária, alertando para dificuldades em várias unidades de saúde, com fecho de camas.

Seriam necessários pelo menos 1.700 enfermeiros, apenas para cobrir a passagem das 40 para as 35 horas, diz a representante da classe.

Ana Rita Cavaco dá exemplos de situações que considera críticas e que não correspondem sequer ao mínimo que deve ser feito pelos doentes. No hospital da Covilhã há um serviço de medicina com 30 camas e apenas com um enfermeiro e a sua chefia, que não presta cuidados.

“Não compreendemos. Se 3.000 enfermeiros custam por ano 65 milhões, 0,6% do orçamento total para a saúde, 1.700 seriam cerca de 30 a 35 milhões“, diz a bastonária. “Como é que não há este dinheiro, que é tão pouco?“, questiona.

“Porque depois os portugueses ouvem falar em milhares e milhares de euros para a banca. Eu como portuguesa não compreendo”, lamenta Ana Rita Cavaco.

Maternidade encerra alas

 

Já na sexta-feira, a Ordem dos Enfermeiros tinha dado conta de que a Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, teve de encerrar três salas de parto dada a falta de pessoal para suprir a passagem às 35 horas de trabalho de profissionais de saúde.

Além do encerramento, a Maternidade teve de reduzir o número de enfermeiros por turno, “o que não dá segurança às pessoas”.

A representante dos enfermeiros relata que todos os dias tem conhecimento de “encerramento de camas e fecho de alguns serviços”, fruto do que os profissionais têm considerado como a falta de planeamento adequado com a passagem às 35 horas de trabalho semanais por parte de milhares de profissionais de saúde a 1 de julho.

Esconder o que está a acontecer não vai resolver o problema“, refere a bastonária, que acrescenta que em Chaves, Lamego e Vila Real “vão encerrar 48 camas”, porque do reforço de 60 enfermeiros que se estima necessário só foram autorizados 32.

A bastonária lembra ainda que os enfermeiros que entram, além de serem em número insuficiente, “não contam logo como elementos”, visto que têm de fazer a sua integração na equipa.

Segundo a Ordem dos Enfermeiros, no Hospital de Gaia, por exemplo, chegaram três enfermeiros novos hoje ao serviço de urologia, mas uma das enfermeiras da equipa entrou de baixa por “não ter aguentado trabalhar sozinha com 18 doentes, como tem acontecido”.

Vários profissionais de saúde e também partidos políticos têm criticado o Ministério da Saúde por falta de planeamento atempado com a passagem das 40 para as 35 horas de trabalho semanais desde 01 de julho, considerando ainda que os profissionais que o Governo anuncia são insuficientes para cobrir as necessidades”.

Segundo o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, até maio entraram no Serviço Nacional de Saúde cerca de 1.600 profissionais já a contar com as 35 horas. De acordo com o ministro, serão contratados este mês cerca de 2.000 profissionais para cobrir a passagem às 35 horas.

Adalberto Campos Fernandes tem reiterado que o Governo e os hospitais estão a fazer um planeamento “como nunca foi feito”, mas não se compromete com a contratação adicional de profissionais depois do verão e indica que não deverá haver margem financeira para contratar o número desejável de profissionais.

// Lusa

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2 Comments

  1. Isto de más notícias sobre a saúde surgem diariamente e muito mais complicado e doloroso para quem necessita de tais serviços e espera anos a fio por uma cirurgia, não vale a pena virem agora governantes e a claque que os apoia com desculpas de que a culpa não é deles, são todos culpados sobretudo pela forma irresponsável que assumiram a situação fazendo crer ao povo que havia dinheiro para tudo incluindo diminuição de horas de trabalho e acabaram por transformar o SNS num caos onde falta dinheiro e profissionais.

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