“Hora de recomeçar”? Vêm aí dias difíceis para Mariana Mortágua

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Manuel de Almeida / LUSA

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua.

Direção vai enfrentar quatro moções de oposição interna na XIV Convenção Nacional. Direção admite “erros próprios” na sua moção, mas denuncia ofensiva sistemática contra o Bloco.

A direção do BE, liderada por Mariana Mortágua, reconhece que cometeu erros que levaram à queda eleitoral e vai enfrentar quatro moções opositoras na XIV Convenção Nacional, que apontam falta de democracia interna e pedem mais atenção às bases.

Culpa da “viragem à direita” — mas houve “erros próprios”

Além da moção de orientação ‘A’, encabeçada por Mariana Mortágua, e da moção ‘S’, que a Lusa já tinha noticiado, no passado dia 27, que irá recandidatar-se à reunião magna, em novembro, foram divulgados mais três textos esta quinta-feira: a moção ‘B’, intitulada “Reconstruir para um novo ciclo político”, a moção ‘C’, “Mais Bloco, menos tendências” e a moção ‘H’, que considera que está na “Hora de Recomeçar”.

Na moção ‘A’, da atual direção, que congrega mais de 600 subscritores, Mariana Mortágua reconhece que tem entre mãos um “partido militante em reconfiguração”, após o pior resultado eleitoral de sempre em legislativas em maio, que levou o partido à representação única no parlamento.

Insistindo que a perda de confiança da sua base eleitoral deve ser explicada pela “viragem à direita”, a direção admite “erros próprios”.

“A resposta da direção à ofensiva sistemática contra o Bloco, limitada a respostas isoladas e sem uma resposta de conjunto, alimentou uma comunicação equívoca que agravou o desgaste público do partido”, defendem.

Face à perda de subvenção, o BE “será essencialmente auto-financiado”, avisa a atual direção, que salienta a importância do “pagamento de quotas, esforço militante, ou trabalho voluntário em funções técnicas e dirigentes”. Mortágua compromete-se a aumentar os mecanismos de democracia interna, sendo essa a principal crítica da oposição.

“Diluição ideológica”

A moção ‘S’, subscrita por cerca de 90 militantes, volta a incluir elementos que integraram a lista de Mariana Mortágua à Mesa Nacional na última convenção do partido, em 2023, como o dirigente Adelino Fortunato ou os antigos deputados à Assembleia da República Heitor Sousa e Alexandra Vieira.

Estes bloquistas mantêm os alertas sobre a possibilidade de uma “diluição ideológica” e apontam a falta de democracia interna como “principal fator de fragilidade” do partido.

“Excessiva proximidade ao PS”

A moção ‘B’, que agrega 36 subscritores, aponta para uma “crescente cristalização de práticas que favorecem a reprodução de lógicas de poder centralizadas e hierarquizadas, mesmo que revestidas de aparente abertura”.

Estes bloquistas sugerem que a direção do partido seja eleita em sufrágio universal, “sem delegados”.

A moção ‘B’ critica a linha política adotada pela atual direção, “frequentemente ambígua, que seguiu uma trajetória alicerçada na disputa institucional, ao centro, numa rota de afastamento da matriz fundadora” e apontam o dedo à “excessiva proximidade ao PS” e um “acantonamento parlamento-eleitoral” que “esvaziou o espaço de protesto à esquerda”.

Volta, partido “anti-sistema”

Também numa linha de maior “radicalidade das soluções socialistas”, os subscritores da moção ‘H’ querem que o BE volte a ser o partido “anti-sistema”.

Estes militantes pedem “um partido menos perdido nos Passos Perdidos” e “mais achado nas lutas”, e lamentam que o BE tenha “estigmatizado a divergência”, sugerindo a limitação de mandatos e rotatividade nos órgãos.

Alguns são mais moderados

A moção ‘C’, com 39 subscritores, converge com as restantes nas críticas à falta de democracia interna, necessária “como do pão para a boca”.

Apesar de mostrarem abertura para dialogar com as moções ‘H’ e ‘S’, deixam várias críticas à moção ‘S’ e ao movimento “Convergência”, que gerou a antiga moção ‘E’, encabeçada por Pedro Soares.

Estes bloquistas mostram-se mais moderados e rejeitam “radicalizações”.

“Devemos graduar as nossas posições, sem, contudo, abandonar os nossos princípios socialistas, pois precisamos de recuperar o eleitorado flutuante do PS, que, nestas eleições, nos virou as costas, preferindo votar no Livre”.

No texto, chegam a sugerir uma coligação pré-eleitoral com o Livre em futuras eleições para contornar o problema dos “votos desperdiçados”.

// Lusa

2 Comments

  1. Essa agenda obsessiva LGBT, anti-racismo, feminismo, pró-okupa, pró-Palestina, pró-imigração em massa e descontrolada que o BE não se cansa de defender, não interessa minimamente à maioria dos portugueses que têm problemas bem mais sérios e imediatos para resolver.

    • Exacto. Esse partido tinha um plano: «levar à prática» as «causas fracturantes» que eram proclamadas pelo guru Louçã. Ora, uma vez concretizadas praticamente todas elas, esse partido já não é necessário aos e às interessadas e interessados nas ditas que, por isso, foram frequentar outras praias.
      Só lhes resta assumirem claramente, em vez de fingirem serem amantes da democracia, o regresso ao trotsquismo, por terem esgotado o gramscismo.

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