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Historiadores pediram acesso ao arquivo secreto do PCP. Partido rejeita “interesses estranhos”

Manuel de Almeida / Lusa

Um grupo de historiadores pediu o acesso aos arquivos históricos do PCP para efeitos de investigação. No entanto, o partido rejeitou o pedido.

No sábado passado, o semanário Expresso noticiou que um grupo de historiadores, entre eles Pacheco Pereira, autor de uma biografia do líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal, iria pedir o acesso aos arquivos históricos do partido para efeitos de investigação.

O arquivo secreto do PCP, com notas de reuniões de militantes e dirigentes, relatórios da clandestinidade, documentos sobre os congressos realizados no estrangeiro na década de 60 até 1974, parte do espólio desaparecido da PIDE e microfilmes feitos nos anos 60 é uma espécie de “Santo Graal” dos investigadores, segundo o semanário.

A ideia do pedido, em forma de abaixo-assinado, surgiu num debate virtual, organizado em 6 de março pela Fundação Mário Soares, em que participaram José Pacheco Pereira, Fernando Rosas, João Madeira e João Arsénio Nunes, que é militante do PCP.

“O que lá está não se sabe, presume-se”, afirmou Pacheco Pereira.

Já Arsénio Nunes confessou estar dividido: “Como historiador, gostava de ter o máximo acesso. Como comunista, se tivesse responsabilidades políticas, punha restrições a zonas que correspondessem a atividades na clandestinidade e que envolvessem pessoas ainda vivas.”

No entanto, o PCP anunciou na quarta-feira que manter a sua “orientação” de dar acesso a documentos do seu arquivo histórico “norteado pelos seus legítimos critérios”.

“O PCP prosseguirá na sua orientação e reiterada prática de facultação e acesso aos seus arquivos (que, recorde-se, não são um arquivo público) mas sempre norteado pelos seus legítimos critérios e soberania de decisão e não ao sabor de interesses ou motivações que sejam estranhos à investigação e divulgação históricas”, lê-se numa nota do gabinete de imprensa do partido.

“Os comunistas recusam as “acusações de ‘secretismo’ e ‘ocultação’, que alguns procuram animar sabendo que são infundadas”, e apresentou argumentos que para desmentir essas acusações.

O PCP alegou ainda o partido que “a maior parte da imprensa clandestina quer do PCP quer de setores de atividade, assim como jornais de cadeia ou dossiês sobre a atividade dos seus principais dirigentes históricos estão disponíveis” no site oficial do partido.

Os comunistas afirmaram que o partido “de há muito que presta informação e disponibiliza materiais, incluindo pelo envio digitalizado, em resposta a numerosas solicitações de universidades, académicos, doutorandos, estudantes ou órgãos de comunicação social”.

No comunicado, argumenta-se que o PCP “mantém uma ativa cooperação sobre o seu acervo documental” com, por exemplo, os museus de Peniche ou do Aljube, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde se encontra a Biblioteca Magalhães Vilhena, ou o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

O partido admitiu, porém, que, por ter “vivido 48 anos na mais rigorosa clandestinidade”, os seus arquivos “apresentam lacunas e insuficiências, o que, por vezes, impede uma resposta positiva a determinadas solicitações”.

Maria Campos, ZAP // Lusa

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