Cruz Vermelha pede dignidade na troca de reféns. Hamas avisa que cessar-fogo pode colapsar

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HAITHAM IMAD / EPA

Combatentes do Hamas escoltam os reféns israelitas até ao palco antes de os entregarem a uma equipa da Cruz Vermelha em Deir al-Balah, no centro de Gaza

No dia em que se realizou (e exibiu) mais uma troca de reféns, o Hamas alertou que cessar-fogo entre Israel e o Hamas está em perigo e “pode colapsar”

Decorreu, este sábado, a quinta troca de reféns do Hamas por prisioneiros de Israel – prevista na trégua em vigor desde 19 de janeiro e que interrompeu 15 meses de guerra na Faixa de Gaza.

Antes de os entregar à Cruz Vermelha, em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, o Hamas montou um palco onde exibiu o três reféns que teve em cativeiro durante quase 500 dias.

A chefe da diplomacia alemã condenou o Hamas por ter exibido os três reféns israelitas libertados: “É (…) insuportável que o Hamas volte a mostrar os três homens em público, mesmo à última hora, e os obrigue a dar ‘entrevistas’”, declarou Annalena Baerbock nas redes sociais, citada pela agência francesa AFP.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), por seu turno, pediu que as próximas trocas de prisioneiros detidos em Israel e de reféns mantidos em Gaza decorra de forma “digna e privada”.

O CICV está cada vez mais preocupado com as condições em que decorrem estas operações”, indica um comunicado da Cruz Vermelha que lembra “a todas as partes, incluindo os mediadores, a responsabilidade que lhes cabe para que as próximas transferências decorram de forma digna e privada”.

Estado de saúde dos três é mau

Nas redes sociais, rapidamente, começaram a ser difundidas imagens do “antes e depois” dos reféns – Or Levy, de 34 anos, com ligações a Portugal; Eli Sharabi, de 52 anos; e o israelo-alemão Ohad Ben Ami, de 56 anos -, onde se questiona a forma como foram tratados, neste 16 meses em cativeiro.

Mais tarde, os hospitais confirmaram o que já se suspeitava: o estado de saúde dos três reféns é “mau”.

As consequências de 491 longos dias de cativeiro são evidentes (…) e o seu estado de saúde é mau. Esta é a quarta vez [que o Sheba recebe reféns libertados de Gaza desde o início das tréguas, a 19 de janeiro] e a situação é mais grave desta vez”, declarou Yaël Frenkel Nir, diretora do hospital Sheba, de Ramat Gan, perto de Telavive, onde Or Levy e Eli Sharabi ficaram internados.

O terceiro refém libertado, o israelo-alemão Ohad Ben Ami, encontra-se em estado de “sofrimento nutricional”, mas “o seu espírito é resistente”, informou ao fim da tarde o hospital Ichilov, de Telavive, onde foi internado.

“Ohad regressou em estado de sofrimento nutricional e perdeu muita massa corporal”, mas “o seu espírito é forte e é uma fonte de inspiração”, afirmou o professor Gil Fire, diretor-adjunto do hospital.

Família de Or Levy reencontrou-o num “estado devastador”

A família de Or Levy lamentou o “estado devastador” em que se encontra.

A sua cara mostra o inferno que passou durante os 491 dias em que esteve às mãos dos monstros do Hamas”, lamentaram os familiares do refém com ligações a Portugal, em comunicado através do Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos de Israel.

Or Levy foi certificado como sefardita pela Comunidade Judaica do Porto, requisito necessário para adquirir cidadania portuguesa.

Gabriel Senderowicz, responsável da Comunidade Judaica do Porto, disse à Lusa que em novembro de 2023 – quando Or já estava retido na Faixa de Gaza -, os seus representantes legais e a própria embaixada de Israel em Portugal “solicitaram à Conservatória dos Registos Centrais de Lisboa que instruísse o processo com urgência”.

Cremos que o requerente terá obtido a nacionalidade, uma vez que preenchia os requisitos legais”, acrescentou Senderowicz.

Or Levy foi raptado no festival de música Nova durante o ataque do Hamas em território israelita, a 7 de outubro de 2023, tendo a sua mulher, Eynav, sido morta.

Hamas avisa que cessar-fogo pode colapsar

Após a troca de reféns, o Hamas alertou que cessar-fogo está em perigo e pode colapsar – alertou um membro do gabinete político do movimento islamista palestiniano.

Em declarações à agência France-Presse (AFP), Bassem Naïm acusou Israel de “procrastinação” na implementação da primeira fase do acordo de cessar-fogo, com uma duração de seis semanas. Esta situação, alertou, coloca o acordo “em perigo e pode levar ao seu colapso”.

Até ao momento, não foi divulgado qualquer avanço das negociações relativas à segunda fase do acordo, que visa garantir a libertação de todos os reféns e que deveria arrancar na segunda-feira.

Na sequência da mais recente troca de reféns, o Hamas denunciou o que classificou como um “assassinato a conta-gotas” dos detidos palestinianos nas prisões israelitas, após a hospitalização de sete prisioneiros libertados.

As hospitalizações, incluindo a de Jamal al-Tawil, um dirigente político do Hamas na Cisjordânia, refletem “as agressões e os maus-tratos sistemáticos das autoridades prisionais israelitas contra os nossos prisioneiros, com um total desprezo pela sua idade ou pelos problemas de saúde que enfrentam”, escreveu o Hamas, denunciando uma “política de assassinato a conta-gotas dentro das prisões”.

O Hamas libertou este sábado três reféns israelitas que raptou a 7 de outubro de 2023, quando atacou o sul de Israel e desencadeou uma ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza, em troca de 183 prisioneiros palestinianos.

À AFP, Bassem Naïm exortou ainda os países árabes “a não normalizarem as relações” com Israel, depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter afirmado que um acordo com a Arábia Saudita iria “concretizar-se”.

Riade reagiu de forma contundente às declarações de Netanyahu, afirmando que não haverá qualquer normalização sem a criação de um Estado palestiniano, qualificando a sua posição como “inabalável”.

A Arábia Saudita tinha iniciado negociações com Israel em 2020 em troca de um pacto de defesa com Washington e de assistência para um programa nuclear civil, mas suspendeu as conversações após o início da guerra em Gaza.

Israel alargou a ofensiva na Cisjordânia

Entretanto, este domingo, Israel alargou a ofensiva na Cisjordânia ocupada ao campo de refugiados palestinianos de Nur Shams, na província de Tulkarem, onde abateu várias pessoas, anunciou o exército israelita.

As forças israelitas anunciaram que as tropas do exército, da guarda fronteiriça e do Shin Bet, a agência de informação interna, mataram “vários terroristas” e detiveram pessoas procuradas na zona, segundo a agência espanhola EFE.

O Crescente Vermelho palestiniano confirmou que tinha levado para o hospital uma mulher encontrada sem vida e outra gravemente ferida, depois de os soldados israelitas terem impedido as ambulâncias do grupo de entrarem na zona durante várias horas.

A agência oficial palestiniana WAFA noticiou que as forças israelitas enviaram maquinaria pesada e ‘bulldozers’ para o campo durante as primeiras horas da manhã, e lançaram vários ataques a casas na zona.

No campo vizinho de Tulkarem, as forças israelitas continuam a invadir casas, muitas das quais estão agora vazias e em ruínas após duas semanas de rusgas, segundo a EFE.

Em 21 de janeiro, Israel lançou uma operação de grande envergadura contra o campo de refugiados de Jenin, um reduto histórico das milícias palestinianas no norte da Cisjordânia ocupada. A ofensiva foi mais tarde alargada ao campo de Tulkarem e à cidade de Tamun, na província de Tubas.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Pelo menos os alemães se perceberam do comportamento e a forma desumana em que o Hamas tratou os três civis que foram raptados. Ao contrario de muito português a comentar a chamar nomes ao português como ele merecesse o que lhe foi feito.

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    • Já agora, fala nos reféns Palestinos que Israel soltou, que estão feitos pele e osso, depois de serem brutalmente torturados. Ao contrário dos reféns israelitas, que parecem ter sido tratados com uma dignidade que gajos como tu se recusam a admitir.

      Ainda ontem os israelitas assassinaram mais uma grávida de 8 meses no West Bank, tinha apenas 23 anos e era o seu primeiro filho. Uma prática que virou tão comum que há 16 anos o IDF vendeu e usou T-Shirts com uma imagem de uma grávida dentro de uma mira onde se lia: “Um tiro, 2 mortes.”

      A vossa propaganda está a ser destruída diariamente e é isso que vos dói mais.

  2. Já agora, falem nos reféns Palestinos que Israel soltou, que estão feitos pele e osso, depois de serem brutalmente torturados. Ao contrário dos reféns israelitas, que parecem ter sido tratados com uma dignidade que a imprensa até tem medo de admitir.

    Ainda ontem os israelitas assassinaram mais uma grávida de 8 meses no West Bank, tinha apenas 23 anos e era o seu primeiro filho. Uma prática que virou tão comum que há 16 anos o IDF vendeu e usou T-Shirts com uma imagem de uma grávida dentro de uma mira onde se lia: “Um tiro, 2 mortes.”

    A propaganda israelita está a ser destruída diariamente e é isso que vos dói mais.

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