A culpa é do Inflation Reduction Act. De um lado Europa e Ásia, do outro EUA – mas há divisões mesmo entre os países europeus.
O Inflation Reduction Act está mesmo a ser alvo de uma disputa internacional. Já era à distância, agora passou a ser presencial.
As divergências começaram há cerca de meio ano mas, graças à realização do Fórum Económico Mundial, em Davos, o ambiente aqueceu entre líderes de diversos países.
De um lado Europa e Ásia, do outro EUA – mas há divisões mesmo entre os países europeus.
Tudo junto representa uma ameaça de guerra comercial mundial, escreve o jornal Público. É uma hipótese que se tornou mais visível em Davos, no penúltimo dia do evento, nesta quinta-feira.
Já tínhamos explicado aqui o que é este Inflation Reduction Act, uma lei de combate à inflação nos Estados Unidos da América.
O grande pacote legislativo dos EUA, assinado em Agosto pelo presidente Joe Biden, pretende combater a inflação e acelerar a transição para as energias limpas.
Mais de 300 mil milhões de dólares de apoios públicos são destinados para a transição para as energias renováveis – mas este apoio só seguirá para infraestruturas e componentes fabricados dentro dos EUA. Ou seja, só as empresas norte-americanas terão créditos, benefícios fiscais especiais.
A União Europeia vê nesta medida uma concorrência desleal. Até porque os Estados-membros da União Europeia não podem fazer o mesmo: não podem ceder créditos fiscais apenas às empresas que produzem internamente.
Entretanto, nos EUA, já muitas empresas anunciaram investimentos em energias renováveis (desde que o Inflation Reduction Act foi anunciado). A corrida começou.
Da Europa, da Coreia do Sul, do Japão e da Índia, chegam reacções de desconfiança e de preocupação. Esta medida pode ser um instrumento de distorção do comércio mundial, com os outros blocos económicos a ficarem mais frágeis, com um papel menos relevante no panorama comercial mundial.
É que este pacote legislativo, além de dar um auxílio extra às empresas locais, transforma os EUA num país ainda mais atractivo para diversas empresas estrangeiras.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, anunciou em Davos que a Europa está a preparar uma resposta: um Plano Verde Industrial e um novo fundo europeu.
Também em Davos, um ministro da República Checa avisou: “Compreendo a importância desta legislação mas também tenho de pensar nos interesses europeus“.
Mas, mesmo entre os países europeus, há divergências. Os responsáveis de países de topo económico (Alemanha, França, Espanha) concordam com apoios estatais mais elevados; países mais pequenos, como Portugal, acham que só os governos com folga orçamental e economias poderosas aproveitariam essa política.
Já na Ásia, a Coreia do Sul classifica este pacote como “traição”, a Índia nunca viu legislação “mais proteccionista” e o Japão poderá cortar investimentos nos EUA.
Está aberta uma “guerra de subsídios verdes”, numa espécie de “espiral de quem dá mais”. O proteccionismo está de volta.