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Greve geral contra cargas policiais paralisa a Catalunha

Jim Hollander / EPA

Uma greve geral convocada por cerca de 40 organizações sindicais, políticas e sociais da Catalunha realiza-se esta terça-feira na região, em protesto contra a interferência do Estado espanhol no referendo de domingo sobre a independência, com “violência policial desproporcionada”.

A paralisação, que deverá reunir organizações patronais, empresários, sindicatos, trabalhadores, instituições e cidadãos da Catalunha, é uma reação da região à repressão policial usada por Madrid para impedir os catalães de irem às urnas a 1 de outubro, que teve como resultado mais de 800 feridos.

Do grupo impulsionador do protesto fazem parte, além da Assembleia Nacional Catalã (ANC) e do Òmnium Cultural, as duas maiores centrais sindicais da Catalunha – CCOO e UGT -, a Associação Catalã de Universidades Públicas (ACUP), o Conselho Nacional da Juventude da Catalunha, a Federação de Assembleias de Pais e Mães da Catalunha (FAPAC), as Organizações pela Justiça Global e a União de Federações Desportivas da Catalunha.

Os dirigentes sindicais da CCOO e da UGT na Catalunha apelaram à sociedade catalã para participar nesta “paralisação geral” como resposta à “violência desproporcionada da atuação da Polícia Nacional e da Guardia Civil”, mas sublinhando que não se trata de uma convocatória para uma greve geral, porque não tem por detrás um conflito laboral.

A mobilização para que apelaram a UGT e a CCOO circunscreve-se apenas ao dia de hoje, ao contrário da greve geral convocada por outra central sindical, a CGT, e três sindicatos minoritários, que se estende até 13 de outubro.

As confederações da CCOO e da UGT esclareceram ainda que “em nenhum caso apoiarão posições que deem cobertura a uma declaração unilateral de independência”, porque não concordam com essa estratégia, preferindo apostar na “via da negociação política e institucional para solucionar o conflito político que existe na Catalunha”.

Por essa razão, instaram também o Governo de Espanha “a abrir um cenário de diálogo e uma proposta com conteúdos”.

O sindicato CSIF, o mais representativo da administração pública, indicou que, embora lamente “os acontecimentos violentos” de 1 de outubro, não participará na greve geral de hoje, tendo reiterado a sua posição firme em defesa do Estado de direito.

Os deputados e senadores dos partidos independentistas ERC e PDeCAT anunciaram que se juntarão hoje à paralisação na Catalunha e não irão às reuniões parlamentares previstas no Congresso e no Senado.

Também os clubes de futebol FC Barcelona, Espanyol e El Girona anunciaram que se associam à paralisação de protesto contra a violência policial exercida sobre civis que tentavam exercer o seu direito de voto.

Um total de 24 manifestações cortaram hoje de manhã a circulação em várias estradas e autoestradas da Catalunha e provocaram, nalguns casos, filas superiores a 10 quilómetros, segundo as autoridades catalãs.

A autoestrada AP-7 está cortada junto a Girona, nos dois sentidos, pois um grupo de pessoas invadiu as faixas de rodagem. As enormes filas de trânsito são consequência das marchas lentas promovidas em dia de greve geral.

A greve geral está a ter uma “adesão muito elevada” em setores como os transportes, o comércio ou a agricultura. De acordo com a CGT, numerosos piquetes de bairro ou cidade organizados em comités de greve locais estão a mobilizar as pessoas para a greve nas ruas e em áreas industriais.

A estrutura sindical afirma ainda que foram instaladas “barricadas” em diversas áreas de Lleida, forçando o encerramento de empresas.

Uma percentagem muito elevada do pequeno comércio está fechada nas principais populações da Catalunha.

Em Barcelona, os transportes públicos operam com serviços mínimos nos horários de pico (entre as 06h30 e as 09h30 e entre as 17h00 e as 18h00), enquanto no resto do dia a mobilidade não é garantida.

Os portos de Barcelona e Tarragona também estão “praticamente parados” devido à adesão quase total que a greve está a ter por parte dos estivadores, refere o sindicato.

A justiça espanhola considerou ilegal o referendo pela independência convocado pelo governo regional catalão e deu ordem para que os Mossos d’Esquadra, a polícia regional, selassem os locais onde se previa a instalação de assembleias de voto.

Perante a inação da polícia catalã em alguns locais, foram chamadas a Guardia Civil e a Polícia Nacional espanhola, polícias de âmbito nacional que protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo, realizando cargas policiais sobre os eleitores e forçando a entrada em várias assembleias de voto ocupadas de véspera por pais, alunos e residentes, para garantir que os locais permaneceriam abertos.

A violência policial fez 893 feridos mas, apesar da repressão, 42% dos 5,3 milhões de eleitores conseguiram votar, e 90% deles votaram a favor da independência, segundo o governo regional da Catalunha (Generalitat).

ZAP // Lusa

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