O resultado do Chega nas legislativas está a tornar cada vez mais provável que o partido chegue ao poder. O que aconteceu nos países europeus onde já houve Governos da extrema-direita?
O grande crescimento do Chega nas últimas eleições rebentou a bolha em torno de Portugal, que durante muito tempo foi visto como a excepção europeia à ascensão da extrema-direita.
Agora com 48 deputados, o partido de André Ventura tornou-se o elefante na sala impossível de ignorar e pode ser decisivo para garantir a estabilidade de um Governo da Aliança Democrática, apesar de Luís Montenegro já ter reiterado que uma coligação com o Chega não está em cima da mesa.
Por toda a Europa, já vários países também ficaram “reféns” da extrema-direita. O ZAP faz uma viagem por alguns dos casos mais emblemáticos em que partidos da mesma família política do Chega já alcançaram o poder.
Itália
A subida meteórica dos Irmãos de Itália de Giorgia Meloni faz lembrar a do próprio Chega. O partido, que chegou ao poder após vencer as eleições em 2022 com 26%, obteve apenas 2% dos votos em 2013.
Juntamente com a Liga de Matteo Salvini (também de extrema-direita), e o Força Itália, o Governo de Meloni avançou com muitas mudanças na imigração, como punições mais duras para os traficantes, apertar as regras para conceder vistos humanitários e mais centros de detenção e períodos de detenção mais longos para os requerentes de asilo.
O executivo ordenou ainda tirar os apelidos dos pais não-biológicos dos documentos de identificação dos filhos de casais homossexuais. Uma das propostas mais polémicas de Meloni é uma reforma constitucional semelhante a uma mudança feita há um século por Benito Mussolini.
A alteração feita por Mussolini estabeleceu que o partido que vençesse as eleições, mesmo que apenas com 25%, obtenhia dois terços dos lugares no parlamento. A actual proposta de Meloni quer dar automaticamente ao partido com a maior percentagem de votos uma quota de 55% do Parlamento.
A mudança quer ainda que cada partido nomeie um candidato a primeiro-ministro antes das eleições, sendo o candidato do partido vencedor automaticamente considerado eleito pelo povo, aponta o Politico.
Uma das políticas de Meloni que fez a União Europeia suspirar de alívio foi o afastamento da Rússia após o início do conflito com a Ucrânia, após a proximidade do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi ter sido a causa de muitos choques com os aliados europeus.
Hungria
O caso húngaro é peculiar, dado que não foi um partido novo que veio abanar o sistema, mas antes uma mudança no centro-direita, que se foi radicalizando ao longo dos anos.
Sob a liderança de Viktor Orbán, que chefia o Governo do Fidesz desde 2010, a Hungria tornou-se um “Estado iliberal“, nas palavras do próprio — e uma grande pedra no sapato da União Europeia.
Desde políticas discriminatórias contra a população LGBT, conflitos sobre o acolhimento de refugiados, desentendimentos sobre a bazuca e vetos a pacotes de ajuda à Ucrânia, Orbán tem remado contra a corrente e já levou a que a UE ameaçasse várias vezes congelar ou cortar os fundos europeus à Hungria.
Apesar de inspirar um ódio de estimação entre os responsáveis europeus, os húngaros parecem discordar, com o Fidesz a conquistar dois terços do Parlamento nas legislativas de há dois anos e a continuar a arrebatar os adversários nas sondagens.
Polónia
Apesar de já não estar no poder, o Lei e Justiça deixou memórias amargas em Bruxelas. O partido governou a Polónia após obter uma maioria absoluta histórica em 2015 e avançou com várias medidas polémicas, como as restrições ao acesso ao aborto mesmo em casos de violação e malformações do feto.
Tal como a Hungria, a Polónia afirmou-se como eurocéptica durante o Governo do Lei e Justiça, apertou contra a imigração e avançou com a criação de “zonas livres de LGBT”, zonas estas que foram rapidamente revertidas após Bruxelas ameaçar cortar os fundos europeus.
Outra grande bronca com a UE surgiu em 2021, quando o Tribunal Constitucional polaco declarou que as leis nacionais estavam acima das leis europeias, o que lhe valeu uma intervenção das autoridades europeias.
O partido saiu do poder em 2023, sendo suplantado por uma aliança que vai da direita democrática à esquerda, encabeçada pelo liberal Donald Tusk. Mesmo assim, o Lei e Justiça foi o partido mais votado nas eleições.
Suécia
Na Suécia, os Democratas Suecos ganharam muita influência após as eleições de 2022. Apesar de o centro-esquerda ter vencido as eleições, os Democratas Suecos ficaram em segundo lugar e o Partido Moderado surgiu em terceiro lugar.
As negociações para a aliança com a extrema-direita não foram consensuais, com os Liberais a mostrarem-se reticentes inicialmente. No final, ficou acordado que os Moderados, Democratas-Cristãos e Liberais integrariam um Governo minoritário, com um acordo de apoio parlamentar dos Democratas Suecos a garantir a estabilidade.
A influência da extrema-direita fez-se logo sentir nas políticas restritivas em áreas como a imigração e a segurança, como por exemplo a redução das quotas anuais de refugiados de 5000 para 900. O líder dos Democratas Suecos, Jimmy Akesson, já indicou que quer integrar formalmente a coligação nas próximas eleições.
Finlândia
Os vizinhos da Suécia também já não são estranhos a ter a extrema-direita no Governo. Na Finlândia, o Partido dos Finlandeses entrou no ano passado na coligação liderada pelos conservadores do Partido de Coligação Nacional, após ter conseguido o segundo lugar nas eleições.
Esta é a segunda vez que o partido participa num executivo finlandês. Na primeira vez, entre 2015 e 2017, as divisões internadas levaram a que o partido, que na altura se chamava Verdadeiros Finlandeses, se separasse entre uma ala mais moderada e numa mais radical. A ala radical manteve-se no Parlamento e ganhou popularidade, tornando-se a segunda força política em 2019 e em 2023.
A imigração e o combate à crise climática são duas áreas em que a influência do partido se tem feito sentir, com uma diminuição das quotas anuais de refugiados acolhidos de 1050 para 500 e a proposta — que pode ser inconstitucional — para a criação de um sistema social diferente para os imigrantes.
A ascenção do Partido dos Finlandeses também teve a sua quota de escândalos. O ex-Ministro da Economia Vilhelm Junnila demitiu-se apenas 10 dias depois de tomar posse, após terem circulado imagens captadas durante a campanha onde é visto a dar parabéns ao candidato número 88 nas listas e faz uma alusão à saudação nazi “Heil Hitler“. “Parabéns pelo excelente número de candidato. Obviamente, este 88 refere-se a duas letras H sobre as quais não vamos dizer mais nada”, disse Junnila.
A líder do partido, Riikka Purra, que assumiu a pasta das Finanças e é a número dois do Governo, também já esteve sob fogo por ter escrito um texto onde encorajava os leitores a cuspir em mendigos.
Áustria
Contrariamente a muitos dos partidos de extrema-direita em crescimento na Europa que foram fundados recentemente, o Partido da Liberdade austríaco já é bastante mais antigo, tendo sido fundado em 1956 por um ex-ministro nazi.
Em 2000, teve a sua experiência no poder, quando ficou em segundo lugar nas eleições e se aliou ao Partido Popular de centro-direita. Na altura, o caso abalou a União Europeia, que chegou a impor sanções à Áustria por ter a extrema-direita no Governo.
A sua segunda passagem pelo poder foi entre 2017 e 2019, que também acabou abruptamente com o escândalo Ibizagate. Em causa estavam vídeos filmados em Ibiza do então líder do partido e vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, a obter favores políticos de contactos comerciais russos. Strache também assinou um acordo de parceria com o partido de Vladimir Putin em 2016.
Strache acabou por se demitir e o Governo de coligação foi dissolvido pouco depois. Após esta polémica, o Partido da Liberdade teve um enorme tombo nas sondagens, onde chegou a ter apenas 11% em 2020, lembra o Euronews.
No entanto, a pandemia fez o partido renascer das cinzas, com protestos anti-confinamentos e anti-vacinas quase todos os fins de semana em Viena. O actual líder Herbert Kickl até negou publicamente boatos de que tinha sido vacinado secretamente em 2021.
Tal como o Chega, o Partido da Liberdade é actualmente a terceira força política da Áustria. No entanto, as sondagens para as eleições legislativas previstas para o Outono antecipam que salte para o primeiro lugar.
Eslováquia
O Partido Nacional Eslovaco já está quase entranhado no sistema político do país, tendo já integrado Governos com partidos de todo o espectro, desde conservadores a esquerdistas. Tem actualmente controlo das pastas do Ambiente, Cultura e Turismo e Desporto no Governo de Robert Fico, do partido populista de matriz social-democrata Smer.
Fundado em 1989, ainda na Checoslováquia, o partido é frequentemente acusado de defender uma ideologia racista, especialmente contra a minoria húngara na Eslováquia e contra ciganos. O líder do SNS, Andrej Danko, vai concorrer às presidenciais de 23 de março.
Vai ser “bonito” quando a maior parte da Europa for governada por este tipo de partidos que se dizem nacionalistas. Actualmente, são amiguinhos, mas quando deterem o poder na maior parte dos países, o tal nacionalismo vai levar ao fim da UE e da NATO e, pior, ao ressuscitar dos velhos conflitos fronteiriços, étnicos e económicos que dividiam a Europa antes da 2ª Guerra Mundial. Há muita “lenha” para queimar.
Obrigado pelo artigo, mas então e qual é o panorama político na França e na Alemanha?
No que toca a Melonia, porque nao dizem que ela teve a coragem de taxar os lucros extraordinarios da banca Italiana e aplicar esse dinheiro em favor do Povo Italiano, em toda a UE foi o unico Lider a faze-lo!!!!!, e a Esquerdalha bem falante o que fez??!!!!, no caso Portugues, alem de nao taxarem a Banca, desceram as taxas de juro dos Titulos do Tesouro…, para forcar o Povo a entregar o seu dinheiro a Banca Portuguesa!!!!!!, quer a Esquerdalha queira, quer nao queira, a Meloni esta a fazer um excelente trabalho em Italia, e tudo isto, com a aprovacao do Povo Italiano.
Estou para perceber qual foi a parte má destes partidos comparativamente com os de esquerda…
Históricamente a esquerda significa ruina.
Historicamente a direita significa prosperidade.
Os problemas ditatoriais são sempre apontados à direita, mas os únicos regimes ditatoriais que existem na actualidade são de esquerda…