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Governos estrangeiros compram influência nos think-tanks americanos

DR Stephen Crowley / The New York Times

Borge Brende, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Noruega, na Brookings Institution, em Washington.

Borge Brende, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Noruega, na Brookings Institution, em Washington.

Os governos estrangeiros deram quase 100 milhões de dólares a think tanks norte-americanos para que os estudos e análises fossem coincidentes com as suas prioridades e para influenciar a política externa dos EUA, segundo o New York Times.

Segundo a notícia, que faz este domingo a manchete de um dos mais importantes jornais nos Estados Unidos, os governos estrangeiros estão a aumentar o financiamento aos institutos de investigação académica, conhecidos como think-tanks, recebendo, em troca, estudos, opiniões e análises favoráveis e coincidentes com as suas prioridades em termos de política externa.

A investigação dos jornalistas Eric Lipton, Brooke Williams e Nicholas Confessore, que assinam o artigo, conseguiu comprovar com registos oficiais que o financiamento feito por governos estrangeiros chega aos 92 milhões de dólares dados a 28 think tanks desde 2011, envolvendo pelo menos 64 governos, mas o total, garantem, “é certamente bem maior”, uma vez que a maioria destas instituições não revela total ou parcialmente a origem do seu financiamento.

“Mais de uma dúzia de proeminentes grupos de pesquisa em Washington receberam dezenas de milhões de dólares de governos estrangeiros nos últimos anos para empurrar as autoridades do Governo a adoptar políticas que muitas vezes reflectem as prioridades dos doadores”, lê-se no artigo.

A notícia conclui que “o dinheiro está a transformar o até agora sisudo mundo dos think-tanks num braço musculado dos governos estrangeiros em Washington, e levanta questões perturbadoras sobre a liberdade intelectual, com vários académicos a admitirem que foram pressionados a chegar a conclusões nas suas análises favoráveis aos governos que financiam a pesquisa”.

Um dos vários exemplos dados no texto, que nomeia os governos do Japão, Qatar e dos Emirados Árabes Unidos, entre outros, é um acordo no valor de 5 milhões de euros que o Governo da Noruega reservou para influenciar a Casa Branca e o Departamento do Tesouro no Congresso a duplicar o valor dado ao programa de ajuda externa dos Estados Unidos.

O surpreendente, escreve o New York Times, é que o destino do dinheiro “não foi uma das muitas empresas de lobbying que trabalham todos os dias a favor dos governos estrangeiros, mas sim o Center for Global Development, um think-tank como muitos outros nos quais os legisladores, membros do Governo e jornalistas confiam para encontrar análise política académica e independente”.

Entre os think-tanks citados no artigo estão os influentes e reputados Brookings Institution, Center for Strategic and International Studies, e o Atlantic Council.

Estas intituições garantem no entanto que o financiamento não influencia as conclusões dos investigadores, por uma razão: “a credibilidade é a nossa moeda“.

/Lusa

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