Uma “avalanche” trabalhista pintou o mapa do Reino Unido de vermelho, após uma vitória com maioria absoluta nas eleições legislativas de quinta-feira que infligiu ao Partido Conservador o pior resultado de sempre após 14 anos no governo.
O ‘Labour’ liderado por Keir Starmer ganhou 412 dos 650 lugares para a Câmara dos Comuns que foram a votos, mais que duplicando os 202 de 2019.
A imprensa britânica batizou esta vantagem de “avalanche” e de “golpe esmagador”.
À chegada a Downing Street depois de ter sido indigitado primeiro-ministro, Starmer prometeu um “governo livre de doutrinas, guiado apenas pela determinação de servir os vossos interesses”.
No entanto, acrescentou que “mudar um país não é como carregar num interruptor” e “isto vai demorar algum tempo”.
“Mas não tenham dúvidas de que o trabalho de mudança começa imediatamente. Não tenham dúvidas de que iremos reconstruir o Reino Unido”, prometeu.
Os ‘tories’ (conservadores) do ex-primeiro-ministro Rishi Sunak afundaram dos 365 deputados eleitos há cinco anos para 121 — menos menos 244.
“Ouvi a vossa raiva, a vossa desilusão, e assumo a responsabilidade por esta perda”, afirmou Sunak esta manhã, antes de apresentar a inevitável demissão ao Rei. Sunak também abriu a corrida à sucessão ao anunciar a renúncia à liderança dos conservadores.
Ao todo, o Partido Trabalhista conquistou 181 circunscrições eleitorais aos ‘tories’ de norte a sul do país, derrubando vários “barões”, incluindo os ministros da Defesa, Grant Shapps; da Educação, Gillian Keegan; da Justiça, Alex Chalk; da Cultura, Lucy Frazer; e dos Assuntos Parlamentares, Penny Mordaunt.
A antiga primeira-ministra Liz Truss, que ficará na história devido ao mandato curto de cerca de um mês e meio, também perdeu o assento na Câmara dos Comuns.
Em Basildon and Billericay, perto de Londres, o presidente do Partido Conservador, Richard Holden, foi eleito com uma diferença de apenas 20 votos em relação ao concorrente trabalhista, Alex Harrison.
Em Poole e Hendon, os trabalhistas Neil Duncan-Jordan e David Pinto-Duschinsky ganharam por 18 e 15 votos, respetivamente.
Os trabalhistas capturaram ainda 36 círculos ao Partido Nacional Escocês (SNP), aproveitando a crise de confiança no SNP, que queria que o resultado refletisse o desejo por um novo referendo à independência.
“Tenho de reconhecer que não conseguimos convencer as pessoas da urgência da independência nesta campanha eleitoral”, reconheceu o líder e chefe do governo regional, John Swinney.
Neste processo, o ‘Labour’ também perdeu sete assentos que ocupava, cinco dos quais candidatos independentes, entre os quais o antigo líder Jeremy Corbyn, que foi substituído por Starmer em abril de 2020.
Estes resultados são o fruto de um declínio significativo em áreas com grandes populações muçulmanas, refletindo a insatisfação com o apoio de Starmer a Israel durante o conflito na Faixa de Gaza.
Além do Partido Trabalhista, estas eleições tiveram outros vencedores, nomeadamente os Liberais Democratas, que obtiveram o seu melhor resultado de sempre ao eleger 72 deputados, regressando como terceiro maior partido com representação parlamentar.
Numa referência à queda no apoio depois de ter feito coligação com os conservadores em 2010, o líder centrista Ed Davey prometeu não desiludir. “A confiança é um bem muito precioso. É conquistada com dificuldade e, por vezes, perdemo-la e temos de nos esforçar muito para a reconquistar”, afirmou.
O populista eurocético Nigel Farage também reivindicou um triunfo ao conduzir o Partido Reformista na conquista de quatro assentos no parlamento britânico, incluindo um para ele próprio após sete tentativas falhadas.
O antigo eurodeputado e defensor do ‘Brexit’ não escondeu a ambição de ultrapassar os conservadores na direita britânica para tentar ganhar as eleições legislativas de 2029. “Agora vamos visar os votos dos trabalhistas, vamos atrás dos trabalhistas”, prometeu.
No outro extremo do espectro político, o Partido dos Verdes também elegeu quatro deputados, mais três do que em 2019.
Na Irlanda do Norte, o Partido Democrata Unionista (DUP) perdeu três lugares, cedendo ao Sinn Féin o lugar de maior partido, embora os republicanos não ocupem os assentos em Westminster por causa do boicote às instituições britânicas.
O lugar de South Antrim foi arrebatado pelo Partido Unionista do Ulster (UUP), mais moderado, o de North Antrim pelo partido Voz Tradicional Unionista (TUV), mais extremista, e o Lagan Valley pelo centrista Partido Aliança, que não é nem pró-britânico nem pró-republicano.
// Lusa