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Galp vai desistir do petróleo em 2022 e apostar em força no lítio

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José Sena Goulão / Lusa

A Galp vai deixar a prospecção e pesquisa de novos campos de petróleo e gás a partir do início de 2022. O anúncio foi feito pelo presidente executivo da petrolífera, Andy Brown, no âmbito da Web Summit em Lisboa. A empresa pretende investir “centenas de milhões de euros” no lítio.

As declarações do CEO da Galp surgiram em entrevista à Lusa, durante a Web Summit em Lisboa, depois de ter afirmado que os preços actuais do petróleo e, especialmente, do gás, são uma mensagem clara de que é necessário acelerar o investimento em energias alternativas.

O preço do crude está actualmente demasiado elevado, num patamar que tem reflexos no abastecimento de combustível e que prejudica o sistema mundial de energia, considerou o presidente executivo da Galp.

“Acho que o preço está elevado demais, porque significa que isso passa para o preço do combustível na bomba e não está num nível que seja bom para o sistema energético mundial”, apontou Andy Brown.

“Um lembrete de que se trata de uma transição”

O CEO que substituiu Carlos Gomes da Silva na liderança da Galp, em Fevereiro deste ano, salientou ainda que a alta do preço do crude tem de ser lida no contexto da transição energética.

“É um lembrete de que se trata de uma transição, não se trata simplesmente de carregar [num] botão, temos de ter a certeza de que há oferta para satisfazer a procura”, disse.

“Hoje as pessoas conduzem carros com motores de combustão interna, entram em aviões que usam combustíveis fósseis, e não podemos simplesmente desligar isso, temos de fazer uma transição“, adiantou também.

Recados ao Governo

O gestor britânico sublinhou que o sistema mundial de energia está a mudar, mas notou que é preciso manter o fluxo de petróleo para a economia global poder continuar a crescer.

“Os governos têm de perceber que precisamos de manter o petróleo e o gás a fluírem ao mesmo tempo que descarbonizamos, portanto temos de ser capazes de aprender a fazer os dois ao mesmo tempo“, referiu quando questionado sobre a decisão do Executivo de António Costa de limitar as margens das petrolíferas nos preços dos combustíveis.

Mas Andy Brown também alertou que regular as margens da venda de combustíveis é contrária ao core das ideias da União Europeia, que procura que a concorrência seja o caminho para obter o menor custo, e não a regulação.

“A tributação é uma parte importante da forma como [os Governos] obtêm receitas, e Portugal tem uma elevada carga fiscal sobre as margens de combustível, sendo que 60% do custo de um litro de combustível é imposto”, vincou ainda.

“Cabe ao governo definir as prioridades fiscais para o país, mas, sinto pelos consumidores que lutam para abastecer os seus carros com combustível”, concluiu.

Galp com plano “muito grande” para o lítio

Já em entrevista ao Jornal de Negócios, ainda no âmbito da Web Summit, Andy Brown revelou que a Galp pretende “fornecer 30% do hidróxido de lítio da Europa, a partir de Portugal”.

Esse objetivo pode passar pela construção de “três ou quatro” unidades de processamento de lítio já nesta década, realçou também.

“Será algo muito, muito grande”, antevê o CEO da Galp, considerando que será “muito relevante e vai ajudar a Europa”.

Estes grandes planos deverão ser apresentados “nas próximas semanas” e preveem um investimento de “centenas de milhões de euros” numa aposta que é “arriscada”, como assumiu Andy Brown.

Contudo, o CEO realçou que “é um mercado onde a procura vai aumentar muito nos próximos anos”. “Espera-se que a procura por baterias se multiplique por 10 nos próximos nove anos” e, “por isso, esperamos que o investimento tenha um retorno razoável”, salientou o presidente executivo da Galp.

Os planos da empresa passam por “acordos de parceria com outras empresas do sector, mineiras mas não só”, como nota o Negócios, para “criar uma cadeia de valor”, nas palavras do CEO.

“O processo começa com a mineração, depois há a refinação para hidróxido de lítio, há o fabrico de cátodos e, por fim, a fábrica de baterias. Portugal tem recursos naturais únicos e nós temos capacidades muito avançadas de refinação”, apontou Andy Brown ao Negócios.

A Galp está “a reunir os recursos mineiros e os fabricantes, para criar uma cadeia de valor” e avaliar que “parte dessa cadeia é que poderemos posicionar em Portugal“, revelou ainda o CEO da empresa.

Pelo meio, Andy Brown tratou de sublinhar que a empresa conta com o apoio do Governo, qualquer que ele seja em tempos de dissolução do Parlamento, pois trata-se de “uma grande oportunidade para o país”.

ZAP // Lusa

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