Obama, ficção, talk show: dois furacões podem definir as eleições nos EUA

Robert Perry / EPA

Barack Obama, ex-Presidente dos Estados Unidos, a discursar na cimeira Cop26

Barack Obama

Apesar de ter deixado um rasto de destruição na Florida, o furacão Milton não atingiu as proporções que se previa — mas a sua proporção política deve ser grande e decisiva.

O furacão Milton deixou várias zonas da Flórida irreconhecíveis, matando pessoas e animais, destruindo ruas e casas.

Ainda se fazem contas ao que aconteceu nos últimos dias – e os danos, apesar de serem muitos e visíveis, não foram tão grandes como tinha sido previsto.

Mas o mesmo fenómeno natural – além do furacão Helene, duas semanas antes – deve causar outros tipos de danos: políticos. Ou para um lado, ou para o outro.

Só faltam cerca de três semanas para as eleições presidenciais nos EUA – um país onde os desastres ambientais sempre foram politizados. Aqui não está a ser excepção.

Obama emocionado

Na quinta-feira passada, Barack Obama apareceu num evento da campanha eleitoral do Partido Democrata, apoiando novamente a vice-presidente e candidata Kamala Harris.

O discurso foi – para não variar – cativante, forte. Com muitos argumentos contra o outro candidato, Donald Trump. E com outros argumentos a tentar conquistar o eleitorado masculino (o ponto fraco de Kamala).

Mas de repente, nesse discurso em Pittsburgh, Obama baixou a voz. Acalmou o tom político habitual e falou num volume mais suave sobre as vítimas dos furacões Helene e Milton.

Quase a chorar, elogiou a reacção do governo de Joe Biden e dos governadores dos Estados.

Sem esquecer, novamente, o rival. Donald Trump disse que Biden e Kamala estão a desviar fundos de ajuda humanitária para dar esse dinheiro a migrantes ilegais e que o governo federal está a negligenciar áreas dominadas pelos republicanos. “Isto é tudo fictício. Desde quando está certo dizer mentiras?”, reage Barack Obama.

Lá estavam os furacões a entrar já na campanha eleitoral. Dois grandes furacões em duas semanas, e sendo a poucas semanas das eleições presidenciais, agitam ainda mais a já tensa estrutura política.

Os nervos estão à flor da pele, as gafes verbais estão a aumentar, descreve o Handelsblatt.

Além das mais de 200 mortes e dos milhões de dólares em prejuízos, estes dois fenómenos devem mexer com as preferências dos eleitores, tão perto do dia 5 de Novembro.

Ainda não se sabe bem como mas, numa disputa tão equilibrada e feroz, os estados indecisos podem virar para qualquer lado, também por causa dos furacões.

A escolha do próximo presidente está completamente em aberto. Por isso, a autoridade demonstrada na reacção a catástrofes naturais pode ser decisiva.

Há um grande nervosismo entre democratas e republicanos.

Trump mente, Kamala inconveniente

E o talvez nervoso Trump começou a espalhar (mais) mentiras. Além do alegado desvio de fundos, disse ainda que os americanos com menos rendimentos que perderam as suas casas só receberiam 750 dólares. É verdade, mas isso será só na primeira fase; depois há mais.

Do lado do partido de Trump, até há quem sugira que o furacão foi encenado pela administração Biden. Os republicanos até estiveram em debate sobre se poderia haver meios técnicos para criar artificialmente um furacão deste tipo.

O apresentador e humorista Jimmy Kimmel resumiu: “Donald Trump levou-nos ao ponto em que nem sequer conseguimos concordar sobre a meteorologia”.

Kamala Harris não terá mentido mas, já em plena crise, apareceu num “programa da manhã” dos EUA para falar sobre assuntos como estilo de vida e rotinas caseiras.

Nesse aspecto não venceu Trump – que foi logo para Geórgia e Carolina do Norte para se encontrar com sobreviventes da tempestade.

Donald Trump condenado, tentativa de assassinato, desistência de Biden e agora dois furacões. Um ano caótico, uma campanha única e dramática.

ZAP //

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