Funcionários das Finanças, da Segurança Social, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e advogados estão entre os principais suspeitos desta rede criminosa de auxílio à imigração ilegal.
A Polícia Judiciária (PJ) desmantelou, esta terça-feira, uma organização criminosa de auxílio à imigração ilegal. No total, 22 pessoas foram detidas, incluindo três advogados, dois funcionários do Fisco, dois funcionários da Segurança Social, uma inspetora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e angariadores de “clientes”.
O grupo suspeito criava empresas fantasma para criar contratos de trabalho fictícios para as centenas de imigrantes oriundos do Paquistão, Índia, Nepal ou países africanos. De acordo com o Jornal de Notícias, a rede conseguia obter documentos e autorizações de residência graças à cumplicidade de funcionários do Estado que recebiam 200 euros por cada processo, sendo que alguns eram resolvidos em apenas dois dias.
Para se perceber a dimensão desta fraude, escreve também o jornal Público, uma só funcionária da Autoridade Tributária (AT) emitiu 15 mil números de contribuinte fraudulentos num período de três anos.
Além do Fisco, a ajuda na Segurança Social também era preciosa. Para isso, uma empregada de limpeza do Centro Distrital da Segurança Social de Lisboa fazia chegar a um funcionário os requerimentos dos clientes para a emissão dos números de Segurança Social, que depois fazia chegar aos irmãos do advogado que era o líder do esquema.
O diário escreve até que havia uma expressão em código para falar com a agora arguida ao telefone, para saber se os processos já tinham sido despachados. “Trazes as chamuças hoje?”.
Os clientes pagavam entre mil e cinco mil euros ao líder desta rede para que tratasse de toda a documentação. De acordo com o JN, depois de terem os processos tratados, os imigrantes instalavam-se em França ou no Reino Unido, ou ficavam a trabalhar na agricultura em zonas como a Zambujeira do Mar ou Grândola. Caso não pagassem na totalidade os serviços prestados pelo advogado, as vítimas desta rede tinham de trabalhar até conseguir pagar as dívidas, que podiam aumentar com os juros.
Além desta situação, a rede criminosa também angariava noivas para os chamados “casamentos brancos” – um imigrante casava com uma mulher de nacionalidade portuguesa e obtinha assim o visto comunitário. Os valores pagos chegaram a atingir os 12 mil euros.
Os detidos na chamada Operação Rota do Cabo, com idades compreendidas entre os 28 e os 64 anos, são suspeitos da prática dos crimes de associação criminosa, auxílio à imigração ilegal, de casamento por conveniência, de falsificação de documentos, de abuso de poder, de corrupção ativa e passiva, de branqueamento, de falsidade informática e acesso indevido, atividade criminosa que permitiu obter elevados proventos financeiros.