Há cerca de três meses, Freitas do Amaral escreveu que não se podia culpar apenas Ricardo Salgado pela queda do BES, imputando ao Governador do Banco de Portugal responsabilidades e sublinhando que Carlos Costa “enganou o mercado”. Mas agora, dá o dito por não dito.
Freitas do Amaral vem esclarecer, num artigo de opinião no Público, aquilo que escreveu a 19 de Dezembro de 2018 noutro artigo de opinião no mesmo jornal, garantindo que quando referiu que o Governador do Banco de Portugal (BdP) “enganou o mercado”, nunca quis dizer que ele tinha manipulado o mercado.
Nesse primeiro texto, intitulado “BES e GES – Um só responsável? Novos ataques a Ricardo Salgado”, Freitas do Amaral começava por salientar que “até no boxe é proibido bater em quem foi atirado ao chão”, questionando se “será Ricardo Salgado o único culpado da queda do BES?”.
A resposta do ex-vice-primeiro-ministro português é claramente não, atribuindo também responsabilidades ao Governo PSD/CDS, a outros gestores do BES e ao Governador do BdP.
“O Governador tinha escrito uma carta e fez declarações públicas a garantir que o BES tinha dinheiro suficiente para ultrapassar a sua crise, mas um mês depois decidiu que não tinha”, escreveu Freitas do Amaral, acrescentando que “o BdP exigiu ao BES um aumento de capital e aprovou o respectivo ‘prospecto’” e que, desta maneira, o “Governador enganou o mercado“.
O ex-dirigente do CDS sustentava ainda que “o Governador enganou o Presidente da República e levou este, sem querer, a reforçar o engano do mercado“. “No meio de tudo isto, como é que um semelhante Governador não foi demitido, podendo sê-lo? Pior ainda, pasme-se, foi reconduzido”, concluía nesse primeiro artigo.
Agora, num texto publicado pelo Público a 5 de Março de 2019, Freitas do Amaral atesta que “ao dizer que o Governador do BdP, declarando várias vezes que ‘o BES estava sólido’, por ocasião do aumento de capital efectuado em Junho de 2014, ‘enganou o mercado’, não quis imputar, nem imputei ao Governador ou à administração do banco a prática do crime de ‘manipulação do mercado’, tal como definido na lei portuguesa, nem a prática de ‘declarações enganosas’, tal como regulado em regras europeias”.
Esclarecendo que o texto foi escrito “a pedido do BdP” e após troca de “correspondência” com a entidade, Freitas do Amaral salienta a necessidade de efectuar “alguns esclarecimentos e precisões pontuais”.
“Nada me leva a crer que o BdP e o seu Governador tenham prestado ao mercado informação falsa ou incompleta, exagerada ou tendenciosa, ou tenham tido outro propósito que não o de actuar estritamente no sentido de manter e garantir o normal funcionamento do mercado”, aponta ainda.
Freitas do Amaral sustenta, contudo, que reafirma “as divergências de natureza política relativamente à solução adoptada no caso BES, embora sem qualquer intenção de ofender o BdP ou o seu principal responsável e, muito menos, de acusar aquele ou este da prática de qualquer crime”.
Tal como nas Ordens dos Médicos e Advogados, também na “ordem dos políticos” se tapam uns aos outros.