O eurodeputado socialista Francisco Assis demitiu-se do cargo de coordenador da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-American, depois de ter sido “impedido de participar” num debate de urgência no Parlamento Europeu sobre a Venezuela.
Francisco Assis considera, na carta de demissão à qual o Observador teve acesso, que a sua “dignidade parlamentar e pessoal” foi posta em causa.
“Inexplicavelmente, fui impedido de participar no debate hoje [terça-feira] realizado no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, sobre este tema, sem que me tenha sido apresentada uma explicação plausível”, lê-se na carta.
No debate, o eurodeputado socialista pediu para falar, depois de o candidato do PSD às eleições europeias, Paulo Rangel, ter falado. Mas, ao contrário do que costuma acontecer, o grupo parlamentar a que pertencem os eurodeputados do PS não lhe deu autorização para falar, alegando que não se tinha inscrito para o fazer.
De acordo com fonte próxima de Francisco Assis, isto nunca tinha acontecido até agora. O eurodeputado não compreendeu este impedimento especialmente porque “até à presente data”, acrescenta, participou “ativamente em todos os debates levados a cabo neste Parlamento sobre a situação vivida neste país”.
“Considero tal facto ofensivo da minha dignidade parlamentar e pessoal, pelo que, para a devida salvaguarda da mesma, venho apresentar a demissão das funções de Coordenador dos Socialistas & Democratas no EUROLAT, com efeitos imediatos”, escreveu.
Fonte próxima do eurodeputado disse que Francisco Assis sentiu que estava a “ser encostado” pelo PS e que lhe estavam a tirar a liberdade e a responsabilidade numa área onde é coordenador.
Francisco Assis compreendeu que não o quisessem pôr em confronto direto com o Paulo Rangel e considera que esta decisão eventualmente até foge ao controlo do próprio primeiro-ministro. Mas, ainda assim, não aceita ser limitado no seu mandato.
Fonte oficial da delegação portuguesa dos eurodeputados do PS rejeitou que tenha havido “qualquer indicação para que Francisco Assis não falasse sobre a Venezuela ou qualquer outro assunto que tenha a ver com a América Latina, antes pelo contrário”. A mesma fonte alega ainda desconhecimento da carta de demissão.
De acordo com a descrição que é feita por um socialista português em Bruxelas, “Assis é o ponta-de-lança” do PS nessas matérias e o caso ter-se-á dado como o culminar de “um conjunto de situações entre o eurodeputado e o grupo do S&D que se têm acumulado nos últimos tempos”, sem especificar quais são essas situações.
Fontes próximas do eurodeputado explicaram que Francisco Assis tem-se sentido colocado em segundo plano desde que começou o período de pré-campanha para as eleições europeias, sobretudo depois de o anúncio dos candidatos do PS. Têm-no posto num palco secundário, “claramente para não tirar protagonismo ao Pedro Marques”, alega a fonte.
Francisco Assis ocupou o cargo durante dois anos e meio “com empenho e dedicação”, escreve na carta de demissão.
Vergonha socialista !
Nem os militantes se safam à prepotência do capo.