O França-Turquia desta segunda-feira, de apuramento para o Euro2020 de futebol, escalou para a política, depois de Ancara ter lançado uma ofensiva militar contra as posições das milícias curdas no nordeste da Síria.
A ofensiva militar turca contra as posições das milícias curdas no nordeste da Síria, que já provocou dezenas de mortos e levou vários países europeus, entre os quais a França, a anunciar um embargo temporário da venda de armas à Turquia, está na base da tensão.
Emmanuel Macron, presidente francês, condenou, no sábado, a ofensiva turca na região, sublinhando que a mesma podia “criar uma situação humanitária insuportável” na região.
Esta segunda-feira o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, abdicou da presença no jogo entre a França e a Turquia “A presença estava prevista na agenda do ministro, mas ele decidiu não assistir ao jogo”, revelou o gabinete ministerial à AFP, sem revelar os motivos que levaram Le Drian a recuar na decisão de estar presente hoje no Estádio de França, em Paris.
O jogo entre as duas seleções, a ser disputado no Stade de France, em Paris, teve um reforço significativo das medidas de segurança. A Polícia Francesa teme que haja atos de violência por causa da tensão política entre os dois países. São esperados 3800 adeptos turcos na capital francesa vindos da Turquia e muitos outros, a viver em França mas também nos países vizinhos. “Ouvimos dizer que 40 mil turcos iriam estar em França. Será como jogar em casa”, disse Cagri Devran, jornalista do diário desportivo turco ‘Fanatik’, em declarações à AFP.
Alguns políticos franceses pediram mesmo o cancelamento do jogo. “O futebol não devia servir como veículo de propaganda de Erdogan. É impensável que os jogadores turcos façam a saudação militar no nosso território ou que haja assobios durante a Marselhesa [hino francês] esta noite”, escreveu no Twitter, Jordan Bardella, deputado da Rassemblement National, partido de extrema-direita francesa.
No jogo da primeira volta, disputado em Konya e que acabou com a vitória turca por 2-0, os franceses ficaram irritados com o facto de o seu hino nacional ter sido assobiado pelos adeptos turcos.
Didier Deschamps espera que o foco dos jogadores esteja apenas no relvado. “Os problemas de geopolítica existem. Quais as consequências? Claro que isto está ligado ao jogo mas não vamos pensar nisso. Estamos no campo desportivo, num jogo de futebol, num estádio e vamos garantir que estejamos focados apenas nisso”, garantiu, na conferência de imprensa de antevisão do jogo.
O selecionador turco, Senol Gunes, também abordou a questão política que envolve o jogo entre ambos, de qualificação ao Euro2020. “Não quero fazer qualquer declaração política mas as nossas crianças podem vir a ser esses soldados. Não quero que haja mais mortes. Não quero que estes debates substituem o jogo. Estamos com os nossos soldados mas sou contra qualquer tipo de violência. Independentemente do resultado, espero que as duas seleções possam felicitar uns aos outros, não só no relvado mas também nas bancadas. Fazendo isso, estaremos a contribuir para a paz mundial”, pediu o selecionador da Turquia.
A UEFA também já se pronunciou sobre o caso, indicando que vai “examinar” os gestos, reforçando que “os regulamentos interditam referências à política e à religião”.
França e Turquia lideram o H de apuramento para o Europeu de futebol de 2020. Ambas seleções têm 18 pontos, frutos de seis vitórias e uma derrota. Em caso de triunfo, os franceses apuram-se logo para o Euro 2020: passam a somar 21 pontos, mais três que os turcos.
O terceiro posto é da Islândia, que tem 12 pontos e recebe a seleção de Andorra. Mesmo que vença os jogos que restam e a França não pontuar mais, o máximo que os islandeses irão conseguir é igualar os gauleses mas perdem no confronto direto (duas derrotas por 0-1 e 0-4). Se os turcos vencerem em solo gaulês, também garantem o apuramento ao Euro2020, se a Islândia não vencer.
ZAP // Lusa
Como se França não fosse um dos principais responsáveis de que se passa na Síria!…