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Esta é a fase mais importante do mandato de Biden até agora – e tem causado muitas dores de cabeça

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patquinnforillinois / Flickr

Joe Biden, Presidente dos EUA

Depois de ter conseguido evitar, por pouco, um shutdown no governo, o presidente norte-americano está a lidar com muitos problemas dentro do Partido Democrata, devido a conflitos entre as alas progressista e moderada sobre duas leis fundamentais para a sua agenda económica.

Joe Biden está em apuros – e desta vez não são só os Republicanos que estão na origem dos seus problemas.

Depois de ter visto uma quebra na taxa de aprovação com a saída das tropas norte-americanas do Afeganistão e o caos que se seguiu com o regresso dos talibãs ao poder e com os conflitos diplomáticos por causa do pacto AUKUS, a política interna de Biden já viu melhores dias.

Entre a lei das infraestruturas, a lei do orçamento, bloqueios dentro do próprio partido e o receio de que os EUA possam deixar de pagar a dívida, por estes dias a administração Biden está a viver a fase mais complicada do mandato e está a ser posta à prova a capacidade conciliadora e de negociação do presidente.

Bloqueio republicano e um shutdown evitado por um triz

A primeira prova de fogo desta semana foi passada com sucesso. Uma das maiores ameaças à economia não só norte-americana como global era a possibilidade dos Estados Unidos deixarem de pagar as dívidas já em Outubro, o que seria inédito.

A entrada dos EUA noutro shutdown do governo, de que se tem falado nos últimos dias, está agora fora da mesa, depois do líder Democrata no Senado, Chuck Schumer, ter anunciado que chegou a acordo para um orçamento provisório com o líder da minoria Republicana, Mitch McConnell, e evitado assim que as agências públicas ficassem sem financiamento e que os funcionários ficassem sem receber.

Biden assinou a nova lei orçamental a meras horas do fim do prazo, que era a meia-noite de quinta-feira. A lei definia o financiamento do governo até 3 de Dezembro e suspendia o limite da capacidade de endividamento dos EUA para que a Casa Branca pudesse continuar a  pagar a tempo as dívidas que foram contraídas no último ano.

A proposta estava a ser bloqueada pelos Republicanos por estes não estarem contentes com o plano para aumentar o tecto da dívida, mas os partidos conseguiram chegar a um acordo.

Esta oposição inicial Republicana ao aumento do limite do endividamento não é a posição normal do partido, tendo este já apresentado três propostas semelhantes durante o mandato de Donald Trump, que foram aprovadas pelos Democratas.

No entanto, quando esta última lei de Trump caducou em Agosto, Mitch McConnell avisou logo que se ia opor a uma proposta parecida que partisse dos Democratas, apesar de quase toda a dívida contraída no último ano dizer respeito a decisões do anterior Presidente.

Recorde-se que o líder Republicano no Senado já afirmou anteriormente que 100% do seu foco está em bloquear a agenda de Biden, pelo que esta posição não é surpreendente.

Caso a lei não tivesse passado, as agências públicas corriam o risco de esgotarem os orçamentos em poucos dias e os funcionários ficariam em casa sem receber ou então seriam obrigados a continuar a trabalhar sem salário – à semelhança do que aconteceu no shutdown mais longo de sempre durante a Administração Trump, quando o Presidente estava a tentar forçar a aprovação do financiamento para o muro na fronteira com o México.

Se o limite da dívida não tivesse sido aumentado, o Departamento do Tesouro poderia ter ficado sem fundos para pagar as dívidas do país a partir de meados de Outubro, o que poderia ter repercussões na economia mundial. Felizmente, Biden escapou por um triz.

As pedras no sapato também se vestem de azul

Mas os Republicanos não são os únicos a causar problemas a Joe Biden. A Casa Branca quer avançar com dois grandes pacotes de legislação que são peças importantes na sua agenda política – a lei das infra-estruturas de mil milhões de dólares e um pacote de investimentos sociais de 3.5 biliões -, mas está a sofrer bloqueios dentro dos Democratas.

Nancy Pelosi, a líder da Câmara dos Representantes e também Democrata, já anunciou o adiamento da votação da lei das infra-estruturas, que devia ter acontecido ontem, devido à oposição da ala progressista do partido, que se recusa a dar votos favoráveis enquanto não tiverem garantias de que o pacote de medidas sociais vai também ser aprovado.

Pelosi também era inicialmente adepta desta ideia, mas acabou por ceder e agendar o voto devido a dois Senadores que se recusam a aprovar o pacto de medidas sociais.

A lei das infra-estruturas foi já aprovada no Senado depois de meses de negociações, tendo Biden conseguido uma união rara entre Republicanos e Democratas, mesmo com Trump nos bastidores a tentar sabotar a votação. Mas já se esperavam dificuldades nas negociações na Câmara dos Representantes.

“Já conseguimos fazer muitos progressos esta semana e estamos mais perto de um acordo do que já alguma vez estivemos. Mas ainda não chegámos lá e por isso vamos precisar de tempo adicional para terminarmos o trabalho, começando logo amanhã de manhã”, afirmou esta quinta-feira a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, depois do anúncio de Pelosi, tendo assim mais um dia para tentar negociar.

O partido afirma que o impasse é temporário, mas os atrasos demonstram mais uma vez as complicações nas negociações, especialmente porque os Senadores Democratas mais conservadores Kyrsten Sinema e Joe Manchin têm-se recusado a votar favoravelmente o pacote de medidas sociais que os representantes progressistas querem ver aprovado antes da lei das infraestruturas, alegando que o custo da lei é demasiado alto.

Estes dois votos são essenciais, visto que o Senado tem actualmente 50 Democratas e 50 Republicanos e todos os votos contam, sendo até precisa a intervenção da vice-presidente Kamala Harris para se desempatar as votações.

Assim, isto trata-se de um esticão da corda entre membros mais progressistas e mais conservadores dentro dos Democratas – e a paciência já se está a acabar, visto que ambas as leis são essenciais para a visão económica e climática de Biden e para que o Presidente cumpra promessas eleitorais.

Sinema e Manchin têm agora nas mãos o futuro da agenda do partido e podem possivelmente influenciar os resultados das eleições intercalares do próximo ano caso se recusem a aprovar as medidas sociais. Outros membros do partido estão frustrados e querem saber quais as exigências dos dois Senadores e qual o valor que querem para a lei.

“Só precisamos de saber qual é o número, certo? A Câmara dos Representantes vai continuar unida. Precisamos de saber um número de um Senador e acho que vamos deixar bem claro que é isso que está a prender tudo”, afirmou Ro Khanna, representante Democrata da ala progressista.

A Casa Branca lá vai tentando chegar a um consenso. Esta terça-feira, Sinema reuniu-se com Biden uma vez, e duas outras vezes com conselheiros do Presidente, tendo Manchin também falado com o Chefe de Estado durante mais de uma hora.

Desde o Verão, Sinema já foi dez vezes à Casa Branca, mas a CNN avança que ainda há muitas áreas de discórdia e que tudo continua em águas de bacalhau.

Adriana Peixoto, ZAP //

3 Comments

  1. Os Estados Unidos fazem lembrar gente que, para manter a ilusão de grandeza, vive acima das suas posses, e precisa de se endividar cada vez mais para pagar dividas, que, por sua vez, geram novas dividas. Se não encontrarem uma solução, dá medo pensar o que acontecerá quando a coisa bater no fundo.

  2. Todos os países estão a viver acima das suas posses, todos vivem com duvida e mais divida e penso que são praticamente obrigados a funcionarem deste modo, mas um dia quase de certeza essa divida vai deixar de poder ser paga e depois veem os abutres destruir o resto!
    O que eu não percebo é que depois de tanta queda insistem no erro e voltam ao mesmo!
    Cresçam mais devagar mais cresçam com sustentação!

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