Ao contrário do que se pensava, o simples ato de caminhar não é um processo automático e a privação de sono pode afetar esta atividade.
Existem muitas evidências que mostram que o sono pode afetar o nosso desempenho em diversas tarefas cognitivas, como na resolução de um problema de matemática, numa conversa ou até mesmo a ler um artigo.
Porém, pouco se sabe sobre a questão do sono influenciar a forma como andamos ou realizamos outras atividades que são consideradas menos desgastantes mentalmente.
Num novo estudo, realizado por investigadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universidade de São Paulo, no Brasil, é demonstrado que a caminhada pode ser afetada pela falta de sono.
Em experiências com alunos voluntários, a equipa descobriu que, no geral, quanto menor fosse o tempo de sono dos alunos, menos controlo estes tinham enquanto faziam caminhadas.
“Cientificamente, ainda não estava claro quais eram as atividades quase automáticas, como é o caso de caminhar, que seriam influenciadas pela falta de sono”, refere Hermano Krebs, um dos autores do estudo.
O investigador realça que com a experiência a equipa também descobriu “que compensar o sono pode ser uma estratégia importante. Por exemplo, para aqueles que sofrem de privação crónica de sono, como é o caso das pessoas que trabalham em turnos, se estes construírem uma compensação regular de sono, podem ter um melhor controlo sobre a sua marcha”.
O simples ato de caminhar já foi visto como um processo totalmente automático, que envolve muito pouco controlo cognitivo e consciente. Experiências anteriores que envolveram animais sugeriram que andar parecia ser um processo automático, governado principalmente pela atividade reflexiva da coluna vertebral.
No entanto, este novo estudo revela que o ato de andar é um pouco mais complexo do que se pensava. Na última década, Krebs estudou intensivamente o controlo da marcha e a mecânica da caminhada, com o objetivo de desenvolver estratégias e robótica assistiva para pacientes que sofreram derrames e outras condições que limitam os movimentos.
Nas suas experiências, o especialista mostrou que os indivíduos saudáveis podem ajustar a sua marcha para corresponder a mudanças subtis nos estímulos visuais, sem perceber que o estão a fazer. Estes resultados sugerem que caminhar envolve alguma influência subtil e consciente, além de processos mais automáticos.
“Os resultados mostram que a marcha não é um processo automático e que pode ser afetada pela privação de sono”, diz Krebs.
Citado pelo SciTechDaily, o cientista acrescenta que o estudo sugere “estratégias para mitigar os efeitos da privação de sono. Idealmente, todos deveríamos dormir oito horas por noite. Mas se não pudermos, devemos compensar ao máximo e com a maior regularidade possível”.
O estudo foi publicado no jornal Scientific Reports.
Parece que nunca ouviram falar em “bebedeira de sono” (quando não dormimos parece que estamos bebados a fazer tarefas). É preciso ser um génio para descobrir isso…