Falar sobre suicídio: sim, mas com “muita cautela”

Ainda sem dados, pandemia deve ter aumentado o número de comportamentos suicidários, por causa das depressões.

A pandemia chegou para alterar rotinas de milhões de pessoas mas sobretudo alterou pensamentos em milhões de pessoas. E as tendências suicidas podem estar a acumular-se nos últimos dois anos.

Ainda não há estatísticas sobre este assunto, em Portugal, mas a psiquiatra Ana Matos Pires acredita que agora há mais pensamentos de suicídio por causa do aumento no número de depressões: “Tem havido mais comportamentos suicidários, muito em reacção do aumento da sintomatologia da patologia depressiva”.

No entanto, estes números só devem ser analisados em períodos entre três e cinco anos: “Não se deve comparar os suicídios em 2020 ou 2021 com 2022. Isto é uma verdade epidemiológica para todos os fenómenos raros”.

Nesta entrevista à agência Lusa, a psiquiatra defendeu que as temáticas do suicídio “podem e devem ser faladas; a questão é a maneira como falamos delas“, reforçando que se deve abordar este assunto com “muita cautela”.

“Sendo um fenómeno raro, basta que haja uma ou duas mortes a menos, ou uma ou duas mortes a mais, para haver implicações nessas taxas”, continuou, lembrando que este é um “acto sem retorno, com implicações enormes” nas pessoas mais próximas.

Ana Matos Pires, membro da Coordenação Nacional das Políticas para a Saúde Mental, reforçou a ideia de que o suicídio não é uma doença; é um comportamento.

Em média, três pessoas morrem por dia devido a suicídio, em Portugal. Muitas mais tentam o suicídio, também diariamente: “A melhor estratégia de combate ao suicídio é a sua prevenção“.

“A saúde é muito importante no aumento da literacia e no tratamento de eventuais doenças psiquiátricas que estejam por trás da ideação suicida, mas a prevenção do suicídio é um assunto que diz respeito a nós todos enquanto sociedade”, analisou a psiquiatra.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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