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As emoções dos ex-soldados do Afeganistão que agora competem nos Paralímpicos

Os ex-soldados que serviram no Afeganistão, agora atletas paralímpicos, têm sentimentos ambíguos em Tóquio: viram recentemente o país cair nas mãos dos talibã, enquanto se preparavam para conquistar uma medalha.

“Tem sido um pouco difícil concentrar-me no que tenho que fazer”, disse o australiano Curtis McGrath, que conquistou o ouro na canoagem, esta sexta-feira, garantindo que tem dificuldade para se abstrair da situação atual.

O bicampeão paralímpico de 33 anos coloca todo o seu “coração” ao lado dos afegãos “que correm o risco de serem privados da sua liberdade”.

McGrath perdeu ambas as pernas há nove anos na explosão de um artefacto numa missão na zona de insurreição. Mas diz-se “satisfeito” com a sua contribuição para o país.

As vozes dos veteranos do Afeganistão reconhecem as semanas difíceis após a tomada de Cabul pelos talibãs. Entre eles, a velocista italiana Monica Contrafatto, que entra na competição este sábado.

“O meu coração partiu-se”, disse a atleta, que perdeu a perna direita num ataque a tiro em 2012, ao jornal Le Messaggero.

“Senti-me mal a assistir aos tiroteios em Cabul, pensei nelas dia e noite. Depois parei de ver televisão para não distrair os meus pensamentos da competição”, explicou Contrafatto.

O mesmo tipo de resposta de Stuart Robinson, campeão paralímpico de râguebi em cadeira de rodas. “Para mim é uma página da minha vida passada há alguns anos”, disse o ex-soldado, que perdeu as duas pernas numa explosão durante a sua quarta missão, em 2013.

“A situação afegã provocou emoções negativas em muitos, lembrou-os da guerra e das coisas que ex-combatentes viram durante as suas missões”, disse à AFP o psicólogo Colin Preece, que trabalha com a associação de ajuda aos veteranos ‘Help, for Heroes’.

Este grupo afirma ter apoiado 25.600 soldados e as suas respetivas famílias, incluindo três atletas paralímpicos feridos no Afeganistão e que ganharam medalhas: Micky Yule, Stuart Robinson e Jaco Van Gas.

Outros veteranos feridos no Afeganistão também conquistaram o pódio em Tóquio: o ciclista americano Shawn Morelli, ouro na modalidade de ciclismo quilometro, e o seu compatriota Alfredo de los Santos, bronze no revezamento no ciclismo de estrada.

Alguns sucessos explicam-se pelos paralelismos entre a vida militar e a de atleta de alto rendimento.

“É preciso determinação e coragem”, diz Preece, especialista em controlo de stresse e melhoria de desempenho.

Esta é uma das razões para o número de subidas ao pódio de veteranos. Nos 100 metros (categoria T63), no sábado, Monica Contraffato espera “uma medalha” para dois países. “No meu coração represento a Itália e o Afeganistão”, diz.

ZAP // AFP

 

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