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Samih Sawiris é um dos homens mais ricos de África e tem negócios no futebol português
Com uma fortuna de 57 mil milhões de dólares, têm mais do que 750 milhões de pessoas juntas. Dado é da ONG Oxfam, que alerta que a crescente desigualdade em África está a inviabilizar a democracia.
As quatro pessoas mais ricas de África detêm, em conjunto, 57,4 mil milhões de dólares (cerca de 49 mil milhões de euros) e são mais ricas do que 750 milhões de africanos — o equivalente a metade da população do continente — segundo um relatório divulgado este mês pela Oxfam, organização não-governamental que combate a pobreza e a desigualdade.
África, que não tinha quaisquer multimilionários no ano 2000, conta atualmente com 23. E este grupo viu a sua fortuna crescer 56% nos últimos cinco anos, atingindo os 112,6 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros), de acordo com a Oxfam.
Os 5% mais ricos do continente concentram quase 4 biliões de dólares (3,4 biliões de euros) em riqueza — mais do dobro da riqueza dos restantes 95% da população africana.
Em janeiro, a Oxfam já tinha alertado que a riqueza dos multimilionários estava a crescer como nunca antes em todo o mundo.
“A riqueza em África não está em falta. Está a ser desviada por um sistema fracassado que permite a uma pequena elite acumular fortunas imensas, enquanto nega a centenas de milhões de pessoas até os serviços mais básicos. Isto é um fracasso total das políticas públicas — injusto, evitável e totalmente reversível“, afirma Fati N’Zi-Hassane, director da Oxfam para o continente africano.
Pobreza disparou desde 1990
O relatório da Oxfam indica que 23 dos 50 países no topo do ranking mundial da desigualdade estão em África. Mas o panorama é ainda mais grave em termos populacionais: de cada dez pessoas que vivem em pobreza extrema no mundo, sete encontram-se em África. Em 1990, essa proporção era de uma em cada dez. Atualmente, quase 850 milhões de pessoas passam fome.
A ONG denuncia que políticas governamentais prejudicam os mais pobres e permitem aos ultrarricos acumular ainda mais riqueza, aprofundando a desigualdade. “A maioria dos países africanos não está a utilizar plenamente a tributação progressiva para taxar eficazmente os super-ricos e combater a desigualdade”, refere o relatório.
Segundo a Oxfam, os sistemas fiscais em África são quase três vezes menos eficazes na redistribuição de rendimentos do 1% mais rico, em comparação com a média global.
Um imposto adicional de 1% sobre a riqueza e de 10% sobre o rendimento do 1% mais rico em África poderia gerar 66 mil milhões de dólares (cerca de 56 mil milhões de euros) por ano — mais do que suficiente para colmatar os défices de financiamento de uma educação pública gratuita e de qualidade, e para garantir acesso universal à electricidade, defendem os autores do relatório.
A Oxfam estima ainda que África perde anualmente 88,6 mil milhões de dólares (491,1 mil milhões de euros) devido a fluxos financeiros ilícitos.
O relatório sublinha que a desigualdade compromete a democracia, impede a redução da pobreza e agrava a crise climática no continente africano. Destaca ainda que a captura da política por parte dos ultrarricos enfraquece as políticas públicas voltadas para os mais pobres e compromete a eficácia das instituições públicas.
Na Nigéria, a maior democracia africana, por exemplo, a exigência de quantias exorbitantes por parte dos partidos políticos desencoraja muitos cidadãos a concorrerem a cargos públicos. Por outro lado, a compra de votos continua a ser uma prática relativamente comum.
Quem são os homens mais ricos de África
1. Aliko Dangote
No seu relatório, a Oxfam identifica o bilionário nigeriano Aliko Dangote como o homem mais rico de África, com uma fortuna estimada em 23,3 mil milhões de dólares (19,9 mil milhões de euros).
Empresário autodidata, fundou a Dangote Cement, a maior produtora de cimento do continente. Também opera nos sectores de fertilizantes e refinação, e em 2025 ocupa o 83.º lugar na lista da Forbes.
2. Johann Rupert
A seguir a Dangote, surge o sul-africano Johann Rupert, com 14,2 mil milhões de dólares (cerca de 12 mil milhões de euros).
O empresário é conhecido por ser o presidente do grupo suíço Richemont, um dos maiores conglomerados de luxo do mundo — detém marcas prestigiadas como Cartier, Montblanc, Van Cleef & Arpels e Jaeger-LeCoultre. Rupert é também presidente da Remgro, uma holding de investimentos com sede na África do Sul, e da Reinet Investments, uma sociedade de investimento com sede no Luxemburgo.
Filho do magnata do tabaco Anton Rupert, iniciou a sua carreira em bancos nos Estados Unidos antes de regressar à África do Sul para expandir os negócios da família.
3. Nicky Oppenheimer
O também sul-africano terá uma fortuna de 10,2 mil milhões de dólares (8,7 mil milhões de euros).
Herdeiro da dinastia que controlou a De Beers durante mais de 80 anos, é co‑proprietário da Tswalu Kalahari, a maior reserva privada da África do Sul, e da Shangani Ranch no Zimbábue, com mais de 65 mil hectares.
Estudou em Harrow School, no Reino Unido, e obteve um mestrado em Filosofia, Política e Economia na Universidade de Oxford. Ingressou na Anglo American em 1968, tornando‑se director em 1974, vice‑presidente em 1983 e presidente da De Beers em 1998, posição que ocupou até 2012, ano em que a família vendeu 40% da empresa à Anglo American por cerca de 5,2 mil milhões de dólares.
4. Nassef Sawiris
O egípcio surge em quarto lugar com 9,4 mil milhões de dólares (cerca de 8 mil milhões de euros) nos cofres pessoais.
Fundador do grupo Orascom Construction Industries, o investidor é herdeiro da família mais rica do Egito.
Em 1998 tornou-se CEO da Orascom Construction Industries; em 2013 liderou a reorganização que criou a OCI NV, uma das maiores produtoras mundiais de fertilizantes à base de azoto, cotada na Euronext Amsterdam.
É detentor de uma participação significativa no grupo Adidas (cerca de 6–7 %). Em 2020 adquiriu cerca de 5 % da Madison Square Garden Sports, dona de equipas da NBA e NHL nos EUA.
Com o bilionário Wes Edens, cofundou o grupo V Sports (antigo NSWE), que detém o clube de futebol inglês Aston Villa e uma participação de 29 % no Vitória de Guimarães.
Em abril de 2025 anunciou que transferiu a sua residência fiscal do Reino Unido para Itália e Abu Dhabi, devido a alterações legislativas que afetaram regimes fiscais favoráveis no Reino Unido.
ZAP // DW