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Ex-baronesa da droga da maior favela do Brasil inspira novela que bate recordes

Bibi Perigosa / Instagram

Bibi Perigosa foi casada com o “barão” do tráfico de droga na Rocinha, a maior favela do Brasil.

“Bibi Perigosa” foi casada com o “barão do pó” da Rocinha, a maior favela do Brasil, e inspirou a novela que, actualmente, recolhe maiores audiências no Brasil. A baronesa contou a sua história de redenção no livro que inspirou “A Força do Querer”.

“Bibi”, alcunha de Fabiana Escobar, de 37 anos, contou a sua história de arrependimento numa autobiografia chamada “Perigosa” que inspirou a novela “A Força do Querer”, da TV Globo, que também está a ser transmitida em Portugal, pela SIC.

A novela escrita por Gloria Perez tem a actriz Juliana Paes a fazer de “Bibi” e tem batido recordes de audiência, sendo já a mais vista desde 2012, segundo dados citados pela BBC Brasil.

Com final previsto para 20 de Outubro, no Brasil, a trama levou Fabiana Escobar a ser conhecida nacionalmente no seu país. Fabiana esteve casada com Saulo Silva, conhecido como o “barão do pó” da Rocinha, durante 14 anos, e aceitou o papel de baronesa, aproveitando os luxos que a actividade do marido lhe proporcionava.

O casal, que tem dois filhos em comum, manteve-se unido, mesmo após a prisão dele. Só terminou quando ela descobriu que o homem que se dizia apaixonado por ela a tinha traído com várias mulheres.

Na novela, ainda não se sabe se “Bibi” será ou não apanhada, pelas actividades ilegais que tem cometido, nem se terminará o casamento com “Rubinho”, o “Saulo” da ficção. Se fosse Fabiana a determinar o final, “mataria os dois”. “Porque essa é a história real, muita gente morre na guerra do tráfico e a Glória estaria a representar essas famílias, já que optou por mostrar como é a mão de obra do tráfico”, afirma em declarações à BBC Brasil.

Bonnie e Clyde

Na vida real, Fabiana Escobar, que actualmente sobrevive com os rendimentos de um imóvel na Rocinha e das vendas do livro, foi acusada de associação ao tráfico de droga, mas como não havia provas, nada aconteceu. Já Saulo está preso há dez anos.

O mesmo não aconteceu com Danúbia Rangel, mulher do traficante Nem, um dos envolvidos nos recentes confrontos violentos na Rocinha, que foi presa esta semana sob acusações de tráfico de droga, de associação com o tráfico e de corrupção.

Fabiana diz que as meninas da Rocinha e de outras favelas brasileiras continuam a envolver-se com bandidos porque se apaixonam por eles, ainda na adolescência, quando não sabem distinguir o certo do errado.

“O pobre está muito perto do rico”

A novela tem recebido algumas críticas de quem diz que a autora dá um certo glamour à vida do crime, principalmente exibindo “Bibi” a ostentar dinheiro e outros luxos, e a divertir-se em bailes funk, mesmo após ter cometido crimes – incendiou um restaurante e participou no tráfico de drogas.

Fabiana Escobar não concorda com essas críticas, notando que “o primeiro contacto de qualquer menina ou pessoa com o crime é de glamour. A parte má só aparece depois”, nota.

Para ela, a falta de maturidade dos adolescentes é um dos principais factores que leva à aproximação ao crime. “Eles não têm maturidade para esperarem as coisas acontecerem, trabalhar para ter algo”, aponta.

No Rio de Janeiro, diz, a proximidade entre a favela e a classe média alta só piora o cenário. “Porque aqui o pobre está muito perto do rico. Você está lá na praia com fome e vê o rico puxar uma nota de 100 reais e comprar camarão“.

Vida na Rocinha

Actualmente afastada do mundo do crime, Fabiana Escobar continua a viver na Rocinha e não tem planos para sair da favela, mesmo com os últimos acontecimentos de verdadeira “guerra civil”, com dois grupos rivais a disputarem o controlo do tráfico de droga.

“Estamos numa guerra psicológica. A qualquer hora vai haver uma guerra a sério. Mas eu não saio daqui”, garante à BBC Brasil.

“O recomeço da minha vida não foram flores, passei muitas dificuldades, tinha a polícia a bater na minha porta, mas não reagi com raiva”, refere a ex-estudante de Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Esse controlo da raiva é para ela uma constante, “assim como um alcoólica tem que se controlar”, diz. O apelido “Perigosa” vem do temperamento irascível, mas Fabiana diz que, agora, “já discute menos”, embora continue a merecer o epíteto. “Mas sou perigosa para o bem”, conclui, entre sorrisos.

ZAP // BBC

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