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Evergrande escapa por um triz ao default e garante o pagamento de juros de 71.7 milhões de euros

Alex Plavevski / EPA

A gigante imobiliária chinesa conseguiu cumprir com o pagamento dos juros no limiar do fim da extensão do prazo. No entanto, persistem os receios sobre a possibilidade da crise na China contagiar a economia mundial.

A Evergrande conseguiu juntar dinheiro para conseguir pagar os juros de 83.5 milhões de dólares — cerca de 71.7 milhões de euros — de um pagamento que falhou em Setembro. Esta é um pequeno suspiro de alívio para a gigante imobiliária, cuja dívida chega aos 260 mil milhões de euros, um valor maior do que toda a economia portuguesa.

Segundo a Bloomberg, o pagamento vai ser feito ainda antes do final do prazo de sábado, o que dá à empresa mais uma semana para definir o que fazer para lidar com a gigantesca dívida que tem abalado a confiança dos investidores na economia chinesa, cujo crescimento assentou em grande parte no investimento imobiliário.

A empresa tinha também depositado fundos numa conta de um depositário na quinta-feira à noite antes do fim do prazo de 30 dias para o pagamento, escreve a Reuters. O presidente da empresa, Hui Ka Yan, teria concordado em usar a sua fortuna pessoal num projecto residencial ligado à obrigação para garantir o pagamento dos juros.

Os credores concordaram com a proposta para evitarem um colapso desastroso da gigante imobiliária ou uma batalha legal, segundo revela uma fonte à agência noticiosa.

O anúncio esta semana de que um acordo para a venda de 50,1% dos serviços de propriedade da empresa por 2.2 mil milhões de euros tinha caído aumentou as preocupações de que a Evergrande entraria em default — quando o atraso no pagamento das dívidas já passa de 30 dias. A empresa falhou também na venda dos escritórios em Hong Kong por 1.5 mil milhões de euros.

A Evergrande foi no passado a maior empresa imobiliária da China, assentando num sistema de empréstimos para construir. No entanto, a saturação no mercado no país, onde se estimam que haja 65 milhões de casas vazias, levou a que a empresa começasse a não ter forma de pagar as dívidas que contraiu.

A 23 de Setembro, a gigante falhou com o pagamento dos juros e fez soar alarmes nos mercados globais, com receios até de que o seu colapso desencadeasse uma crise mundial como a de 2008, causada pela queda do grupo Lehman Brothers.

No entanto, por enquanto as autoridades internacionais estão calmas, confiando que o governo chinês intervirá, caso seja necessário. Pequim está também a tentar assegurar os mercados de que a situação da empresa não se vai descontrolar.

Mesmo com estas garantias, muitos analistas esperavam o pior. “Esta é uma surpresa positiva”, revela James Wong, da GaoTeng Global Asset Management, ao The Guardian. Este pagamento vai melhorar a confiança dos credores, já que há “muitos pagamentos vencidos no futuro”. “Se a Evergrande pagou desta vez, não sei porque não pagará da próxima vez”, refere.

Recorde-se que além do pagamento de 23 de Setembro, a gigante imobiliária também não cumpriu com os juros de 193 milhões de dólares (166 milhões de euros) que expiraram a 29 de Setembro e 11 de Outubro, tendo estes também um prazo adicional de 30 dias.

Já o analista Jeffrey Halley está mais cauteloso. “Vai continuar a ser uma tempestade para os mercados da China porque há tantas variáveis, tantas maneiras que isto pode correr mal. Acho que isto é positivo a curto-prazo, mas não acho que isto vá mudar os medos generalizados sobre o verdadeiro estado do sector e da economia da China neste momento”, revela ao jornal britânico.

Outras imobiliárias chinesas também estão em risco

Apesar da boa notícia vinda da Evergrande, os sinais vindos de outras empresas do ramo imobiliário chinês, avaliado em 4.3 biliões de euros, não são tão animadores. A Oceanwide Holdings International Development revelou na quinta-feira que a sua ordem de pagamento de 134 milhões de dólares (115 milhões de euros) tinha entrado em default.

Já a Modern Land China Ltd anunciou que tinha deixado de procurar o consentimento dos investidores para estender a data para um pagamento marcado para 25 de Outubro e que ia chamar um conselheiro para resolver os seus problemas de liquidez. As acções da empresa trocadas em Hong Kong pela empresa caíram depois do anúncio, que abalou a confiança dos investidores.

A agência Fitch também baixou o rating da Central China Real Estate de B+ para BB-, depois da Moody’s ter também descido o rating da empresa.

Continuam assim os receios de que a crise no sector imobiliário contagie o resto da economia chinesa e mundial.

Adriana Peixoto, ZAP //

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