A Europa está a tentar convencer a Ucrânia que o melhor é congelar a guerra

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Justin Lane / EPA

Volodymyr Zelenskyy discursa na ONU

Há receios de que os EUA deixem de apoiar a Ucrânia. Receios para os ucranianos e para a União Europeia, que não quer ficar com um “fardo”.

Congelar a guerra na Ucrânia será a melhor solução?

A possibilidade já tem sido levantada há algum tempo. Em Março, Rolf Mützenich, um deputado alemão do SPD (partido de Olaf Scholz) deixou essa sugestão: congelar, parar o conflito, para mais tarde tentar terminar de vez com a guerra.

Mas o “congelar a guerra” foi traduzido como “congelar as fronteiras actuais”: ou seja, deixar que a Rússia integre mesmo no seu território as zonas da Ucrânia que ocupou ao longo dos últimos anos.

O Deutsche Welle lembra que este assunto é particularmente sensível na Alemanha: dividir a Ucrânia agora poderia fazer lembrar a divisão da Alemanha depois da II Guerra Mundial.

Rússia e Ucrânia já se mostraram contra essa ideia.

Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente da Ucrânia, avisou que congelar a guerra, neste contexto, seria dar a vitória à Rússia e sobretudo a Vladimir Putin.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse mais recentemente que um congelamento do conflito na Ucrânia seria inaceitável para o Governo da Rússia.

Também Ursula von der Leyen se mostrou contra. A presidente da Comissão Europeia aproveitou a cimeira da paz, em Junho, avisou que essa seria uma “receita para futuras guerras de agressão”.

Daniel Oliveira escreveu no Expresso que a guerra deve ficar congelada em breve, sobretudo por causa do regresso de Donald Trump à Casa Branca. E apontou: “Não sei se a solução no fim de uma guerra mais prolongada seria muito diferente desta, na verdade”.

Scholz e a Europa

Apesar das várias vozes contra, aparentemente a Europa está mesmo a tentar convencer Kiev que congelar a guerra é a melhor solução, antes que os EUA – por causa de Trump – interrompam a ajuda militar à Ucrânia.

O canal ucraniano TSN refporça a ideia: as principais capitais europeias temem que, imediatamente após a sua tomada de posse, em Janeiro, o futuro presidente dos EUA interrompa completamente o fornecimento de armas à Ucrânia – até que Zelenskyy aceite negociar com a Rússia.

Olaf Scholz foi a Kiev nesta segunda-feira. Sem avisar. O chanceler da Alemanha terá sido uma espécie de porta-voz da União Europeia na capital da Ucrânia.

Os meios de comunicação alemães admitem, por outro lado, que Scholz está a utilizar a guerra e eventuais negociações para ter mais votos, numa campanha pré-eleitoral que já começou na Alemanha, para as eleições antecipadas de Fevereiro.

O próprio Volodymyr Zelenskyy, presidente da Ucrânia, tem dito várias vezes que alguns políticos usam o tema da guerra e das negociações para os seus próprios fins políticos.

O TSN acrescenta que muitas declarações de responsáveis ​​ocidentais e publicações nos meios de comunicação ocidentais dão a ideia clara: Ucrânia e a Rússia vão começar a negociar em 2025; é assunto quase resolvido.

Exemplo disso são as palavras recentes do novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte: “É preciso fortalecer militarmente a Ucrânia antes de potenciais negociações com a Rússia”.

O seu antecessor, Jens Stoltenberg, disse recentemente que as concessões territoriais temporárias por parte da Ucrânia podem ajudar a alcançar um cessar-fogo rápido.

O outro lado dos receios

Como já tem sido referido, o que Donald Trump vai fazer quando substituir Joe Biden é essencial para a Ucrânia.

Mas também é essencial para a União Europa. Porquê? Os europeus não querem que a União Europeia (e não os EUA) seja o principal protagonista do “fardo” do apoio militar e financeiro à Ucrânia.

Por isso, tentam convencer os ucranianos que o melhor é acabar com as batalhas – pelo menos – temporariamente.

Mesmo que negociar com a Rússia seja sinónimo de perdas de territórios por parte da Ucrânia.

A União Europeia não quer aumentar os investimentos na sua indústria de defesa.

E tem “medo” de admitir honestamente que desperdiçou estes quase três anos de guerra em grande escala – é que a Rússia, sozinha, produz 10 vezes mais armas e munições.

Até Zelenskyy admitiu, no domingo passado, que o exército ucraniano já não consegue recuperar alguns dos territórios ocupados pelos russos; e que o melhor é procurar soluções diplomáticas.

Mas, repetiu, é preciso a Ucrânia entrar na NATO antes disso. E isso não será para já.

O problema é que, a partir de Kiev, avisou o ministro dos Negócios Estrangeiros, não se aceitam antecipadamente formatos alternativos à adesão à NATO.

ZAP //

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2 Comments

  1. E Kurks? Não se fala da grande vitória Ucraniana que é a ocupação de território russo por Kiev? E do peso que isso terá em futuras negociações?

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