Apesar de as tropas norte-americanas terem saído há um ano do Afeganistão, a presença militar de Washington nunca chegou mesmo a desaparecer — e o recente ataque de drone que matou o líder da al-Qaeda é exemplo disso.
Há quase duas semanas, Joe Biden fez um anúncio que fez as manchetes do dia por todo o mundo — os Estados Unidos tinham matado o líder da al-Qaeda, o médico egípcio Ayman al-Zawahiri.
“Depois de ter considerado cuidadosamente e de ter recebido provas convincentes da sua localização, autorizei um ataque preciso que o removeu do campo de batalha de uma vez por todas”, declarou o Presidente norte-americano.
Este anúncio só veio confirmar as suspeitas de alguns afegãos, que acreditavam que o pequeno ataque que tinham testemunhado a um edifício em Cabul durante o fim de semana e que aparentava não ter causado mortes, afinal, não era assim tão pequeno.
A primeira pista veio dos talibãs, que denunciaram um ataque de drone de Washington em solo afegão, sem adiantar mais detalhes para além de uma condenação geral. A revelação sobre a identidade do alvo do ataque só confirmada mais tarde, pelo boca de Biden.
Aos 71 anos, al-Zawahiri já não era a mesma figura imponente da al-Qaeda que tinha sido noutros tempos. Mas isso não diminui a importância da sua morte pela mão dos EUA — já mais de 20 anos depois do início da guerra no Afeganistão.
O líder da organização terrorista foi morto num bairro rico na baixa da capital afegã, na mesma zona onde viviam as elites diplomáticas ou estavam sediadas as organizações de ajuda humanitária durante a ocupação norte-americana.
Nos 20 anos em que as tropas de Washington estiveram no Afeganistão, as zonas rurais foram as mais massacradas pela guerra, muito em parte devido ao maior conservadorismo islâmico das populações nestas zonas, que eram frequentemente acusadas de estar a refugiar células de grupos extremistas.
No entanto, tal como lembra o jornalista austro-afegão Emran Feroz no portal progressista The American Prospect, em muitos dos casos, os rostos mais importantes dos grupos terroristas, como al-Zawahiri, não estavam escondidos em aldeias rurais e viviam antes no meio das elites, ou, como no caso de Osama bin-Laden, nem sequer estavam no Afeganistão. Muitas destas altas figuras também já tinham sido declaradas mortas antes, só para aparecerem vivas meses mais tarde.
Barack Obama também reagiu à morte de al-Zawahiri. “A notícia de hoje é prova de que é possível combater o terrorismo sem se estar em guerra no Afeganistão”, disse o ex-Presidente. Para Feroz, as palavras de Obama são de uma “ironia sinistra“, já que foi durante os seus mandatos que a guerra “escalou dramaticamente” e que o programa internacional de drones atingiu proporções enormes.
E os números confirmam esta acusação — em 2014, a organização de direitos humanos Reprieve concluiu que a caça por 41 alvos terroristas no Iémen e Paquistão entre 2002 e 2014 resultou na morte de pelo menos 1147 pessoas.
Uma investigação independente do site Airwars revelou que, desde o 11 de Setembro, já morreram até 48 mil civis vítimas dos ataques com drones norte-americanos.
“Continua a ser uma verdade inconveniente que o ataque contra al-Zawahir é uma violação clara da lei internacional e dos critérios de direitos humanos estabelecidos que as capitais ocidentais rotineiramente invocam para justificarem as suas desventuras no estrangeiro. A morte de al-Zawahiri num bairro calmo de uma cidade, alegadamente sentado numa varanda, revela a histeria reaccionária atrás da frase ‘guerra contra o terror'”, escreve Feroz.
E apesar de Biden ter um política de uso de drones mais moderada do que Obama, a chamada política anti-terrorista “Além do Horizonte”, o chefe de Estado continua a defender o direito dos Estados Unidos de “matar qualquer pessoa que considerem uma ameaça, em qualquer lugar e a qualquer hora, independentemente se a captura ou a extradição são viáveis”.
No meio de todos estes conflitos, quem sofre é a população afegã. Num país onde a 95% dos agregados familiares não têm comida suficiente, onde milhares de milhões de dólares de poupanças ainda estão congelados no estrangeiro e onde o domínio dos talibãs se faz sentir, o perigo de se sofrer um ataque de drone é mais uma das preocupações a juntar à lista.
1 – Os Americanos mandaram Ayman al-Zawahiri para o céu Islâmico onde tem não sei quantas virgens à espera? Boa viagem. Já vais tarde!
2 – …«caça por 41 alvos terroristas no Iémen e Paquistão entre 2002 e 2014 resultou na morte de pelo menos 1147 pessoas»??? A confirmarem-se estes números, é absolutamente inadmissível e criminosa a atuação dos Americanos.
Levar os terroristas à justiça, sim mas não a qualquer custo. O que os Americanos fazem (a ser verdade!!), não é muito diferente do que acusam os terroristas de fazerem: Matar inocentes com o intuito de atingir um qualquer objetivo.