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Uma criança com esta idade “não se veste sozinha”. Especialistas estranham contornos do (des)aparecimento de Noah

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Noah, o menino de dois anos que esteve 36 horas desaparecido em Proença-a-Velha, foi encontrado numa zona de mato, sozinho, “bem e vivo”. Especialistas ficaram espantados e consideram os acontecimentos improváveis para uma criança tão pequena.

O percurso do pequeno Noah, desde que desapareceu até ser encontrado, terá sido de cerca de dez quilómetros a pé e descalço, o que para muitos populares parece ser impossível.

Ao Correio da Manha, o coordenador da PJ da Guarda, José Monteiro, dizia que pelo que conheciam do caso até ao momento “a possibilidade de ter havido uma intervenção de terceiros no desaparecimento da criança” é “praticamente inexistente”.

No entanto, de acordo com especialistas ouvidos pelo Expresso, não é habitual que uma criança entre os dois e os três anos se consiga vestir nem calçar sozinha, quanto mais levantar-se da cama, sair de casa e andar vários quilómetros durante 36 horas e ser encontrada “bem e viva”.

Para o pedopsiquiatra Augusto Carreira, a história seria um pouco mais plausível se a roupa com que a criança saiu de casa fosse a mesma que tinha vestida enquanto dormia. “Com essa idade não se veste sozinha. As botas de borracha até admito que seja só enfiar os pés e deixar escorregar mas ainda assim isto exige uma motricidade elevada.”

“Tudo aqui nesta história sai fora dos parâmetros normais e habituais”, disse ainda, em declarações ao semanário. “Estes comportamentos não são de todo habituais numa criança de dois anos e meio, nem é expectável que tenha este desenvolvimento motor ou psicológico. Não é de todo expectável”, continua.

“Por mais desenvolta e por mais destreza que tenha – quer do ponto de vista cognitivo, quer do ponto de vista motor -, dificilmente [Noah] teria esta capacidade de sair assim de casa”, principalmente tendo em conta que a “família morava ali há poucos meses, portanto não estaria familiarizada com o ambiente“, concordou a psicóloga Rute Agulhas.

“Em princípio, uma criança de dois anos e meio não deve ter a possibilidade de se ausentar de casa sozinha sem que nenhum adulto note que se ausentou. Uma criança de dois anos e meio tem de ter supervisão constante porque por muito desenvolvimento motor que possa ter não tem uma avaliação dos perigos que lhe permita sair de casa sozinha. Talvez alguma negligência seja um termo que se possa empregar aqui. Naturalmente há aqui uma falha de supervisão dos adultos”, disse Augusto Correia.

“Eu admito que uma criança que viva nestas condições, habituada a viver com os animais, a fazer grandes caminhadas, com grande liberdade, tenha este desenvolvimento motor. Em todo caso é excessivo. Andar dez quilómetros? Deambular perdida? É uma brutalidade”, atirou, considerando que só há duas hipóteses: ou Noah é uma criança extremamente resistente ou terá existido ajuda de terceiros. “Se assim foi, então o caso é para a polícia.”

Rute Agulhas estranha também os relatos de que Noah foi encontrado apenas com algumas escoriações e muito falador.

“Quando foi encontrada, o mais expectável para uma criança de dois anos e meio que está sozinha, perdida, que passou ali a noite era estar em pânico, muito assustada e cheia de medo ou, pelo contrário, muito apática e desligada do meio que a rodeia. E aparentemente não era esse caso”, comentou.

Noah esteve 36 horas desaparecido

Noah apareceu esta quinta-feira à noite, numa zona de floresta próxima de Medelim, a norte da casa da família , segundo anunciou Jorge Massano, capitão da GNR de Castelo Branco, “está bem e está vivo”.

“Não está nada ferido, mandaram-me uma fotografia dele de pé, embrulhado a um casaco e a beber uma garrafa de água”, contou, na berma da EN239, um amigo da família, citado pelo Observador.

Entretanto, a diretora clínica do hospital para onde Noah foi transportado avançou que o menino deu entrada de ambulância, acompanhado pelo pai, e que apresentava ferimentos ligeiros – nomeadamente arranhões – mas foi estabilizado e recebeu soro.

“Noah está desidratado e com algumas escoriações”, disse a diretora clínica do Hospital Amato Lusitano, Eugénia André, adiantando que não lhe será dada alta esta sexta-feira.

“Surpreende-me. Podia ter vindo muito pior. Teve sorte”, acrescentou.

“A criança encontra-se consciente, lúcida, colaborante e bem-disposta, apresentando um quadro de desidratação, devido ao longo período em que esteve sozinha. Deste modo, ficará internada por precaução e para estabilizar esse mesmo quadro de desidratação”, disse Eugénia André, citada pela TVI24.

“A criança não está chorosa ou deprimida. Isso é um bom sinal”, disse a responsável, acrescentando que Noah “dormiu tranquilamente”, já comeu e está a reagir bem.

O menino de dois anos e meio foi dado como desaparecido na quarta-feira de manhã, na zona de Proença-a-Velha, no município de Idanha-a-Nova, pela mãe. Durante a tarde, polícias e populares encontraram a cadela que desapareceu juntamente com Noah, a cerca de 3 ou 4 quilómetros da casa.

Mais tarde, foi encontrada uma camisola que, segundo os pais da criança, lhe pertencia e pegadas compatíveis com as de uma criança.

Sofia Teixeira Santos, ZAP //

12 Comments

  1. Os “filmes” do costume…
    “Especialistas” que não foram ao local, que não interagiram com os intervenientes, que não sabem practicamente nada do caso… enfim: estavam bem juntos com o “gajo de Alfama”!…
    São tipo o José Gomes Ferreira que garante que a cor de Marte não é predominantemente vermelha, porque viu na Internet…

  2. É a diferença entre a província e a cidade onde umas crianças são feitas de fibra e outras de leite.
    Uma criança de 8 anos também não devia conduzir tratores nem trabalhar com a família nas terras como eu trabalhei e fui condutor oficial das vindimas, anos a fio, onde nem força para carregar na embraiagem do trator tinha. Mas cá estou um homem feito, trabalhador e responsável.

    • Ficaste foi assim. Mas paciência, sempre conseguiste chegar a adulto o que atendendo às circunstâncias, nomeadamente conduzir o trator, já é um feito!

      • Comecei a conduzir um trator e agora “conduzo” uma frota de 200 funcionários diretos e quase outros tantos indiretos.
        Sim, tenho orgulho no caminho percorri…

  3. O Expresso a fazer concorrência ao Correio da Manha. Portugal já tinha 10 milhões de treinadores de futebol e 10 milhões de epidemilogistas, agora também está cheio de especialistas em comportamento infantil.

  4. A diferença entre um menino que nasce naquele sitio, e que é criado segundo as leis da natureza, e filho de um cidadão creio se não estou em erro belga, e um menino que nasce numa família de pais portugueses, dentro de 4 paredes, onde a criança não se pode expressar, gritar, apanhar alimentos e comer, pegar num recipiente e beber água, jogar objetos onde quiser, calçar-se ao contrário, vestir o que quiser, como quiser e quando quiser, e tudo mais que a natureza nos dá, é verdade que não são iguais, não são iguais em coisa nenhuma a única igualdade é serem dois humanos, e nenhum especialista, que não tenha sido criado nas mesmas condições, sabe opinar sobre o assunto, para saber falar disto tem que ter vivido os dois mundos, a mesma pessoa desde o principio, o que não é possível, agora eu faço perguntas, porque não sei, e quando não sei pergunto, qual é a diferença de acidentes das crianças no campo e na cidade?qual a diferença de melhor desempenho em sobrevivência? qual a diferencia de doenças causadas por traumas psicológicos? só tem o direito de falar os bons pais, e eles existem? existem bons pais? só os que não são pais ou não foram, os outros pudessem voltar atrás, mudavam se não tudo, mudavam alguma coisa, o mais sensato é não atirar pedras.

  5. Cresci no campo e com 6/7/8 anos fazia coisas a nível físico que até hoje eu próprio fico espantado, costumo até às vezes brincar com amigos dizendo que fui eu que inventei o parkour 35 anos antes dos franceses…; enfim hoje vivo na cidade, as crianças presas em apartamentos e quando no clube da zona vejo crianças com 9/10 anos que nao sabem atar os cordões das sapatilhas, é algo que me deixa a pensar.

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