O Estoril, e em particular o Hotel Palácio, foi o palco de muita intriga política e espionagem durante a II Guerra Mundial, devido à localização estratégica de Portugal e à sua neutralidade.
Hoje em dia o Estoril é conhecido por ser uma zona cara e elitista, tendo até a alcunha da “Riviera Portuguesa”, mas esta reputação não é de agora.
Durante a 2.ª Guerra Mundial, enquanto a Europa era devastada pelo conflito, o Estoril e a Costa do Sol, em Portugal, emergiam como um centro de luxo e intriga política. A neutralidade portuguesa e a sua localização estratégica tornaram esta zona num destino de eleição para espiões, diplomatas, refugiados abastados e figuras ilustres de várias nacionalidades.
O cenário, aparentemente contraditório, resultou numa explosão de turismo forçado. Os hotéis da região tornaram-se ponto de encontro para agentes secretos das forças Aliadas e do Eixo. Hotéis como o Atlântico, o Grande Hotel do Monte Estoril e o Hotel do Parque receberam agentes alemães, enquanto o Grande Hotel de Itália e o emblemático Hotel Palácio hospedavam representantes britânicos e aliados.
Entre os hóspedes célebres do Palácio destaca-se o escritor Ian Fleming, que em 1941, enquanto trabalhava para o Naval Intelligence Department, se inspirou no ambiente enigmático do Estoril para criar James Bond, o icónico agente de espionagem do MI6. O hotel foi inclusive cenário do filme de 1969 “Ao Serviço de Sua Majestade”, da saga 007.
Segundo consta, a personagem terá sido baseada no agente servo Dusko Popov, que começou por estar ao serviço dos nazis, mas que depois se tornou agente duplo e colaborou com os britânicos. Durante a sua passagem pelo Estoril, Popov deu nas vistas — ao contrário do que seria de esperar de um espião — e mostrou o seu jeito de mulherengo e gastador, tal como Bond. Fleming, no entanto, nunca confimou se Popov foi a sua inspiração para James Bond.
O Hotel Palácio foi ainda palco de encontros estratégicos e recebeu figuras insuspeitas, como a atriz Zsa Zsa Gabor e Leslie Howard. Este último, colaborador dos serviços secretos aliados, foi morto num ataque aéreo alemão, o que sugere que a sua atividade clandestina teria sido descoberta.
Como um nome como Palácio, não é surpreendente que, até aos dias de hoje, o hotel continue a ter ligações com as famílias reais espanhola, italiana, francesa, búlgara e romena, para as quais chegou a ser uma segunda casa. Até foi criada em 2011 a Galeria Real, onde se expõem fotos das personalidades da realeza europeia que viveram no icónico hotel.
Outro nome marcante que passou pelo Estoril foi Juan Pujol, conhecido como “Garbo”, um duplo agente que enganou os serviços secretos alemães e lhes deu informações falsas, contribuindo significativamente para as operações aliadas.
A neutralidade portuguesa foi posta à prova quando, em 1943, Salazar foi informado pelas autoridades britânicas sobre redes de espionagem alemãs, como a organização Bremen, que operavam a partir de locais como o Estoril, Lisboa, Madeira e Açores. Em resposta, várias redes foram desmanteladas e os seus membros presos ou deportados, reafirmando a delicada neutralidade que o país procurava manter.
O período tornou o Estoril um microcosmo único, onde luxo e intriga se cruzavam. Espiões, refugiados e figuras públicas conviviam num ambiente de aparente normalidade, enquanto desempenhavam papéis cruciais nos bastidores da guerra.
A organizadora de passeios pela Grande Lisboa Peddy+ Events oferece várias visitas inspiradas por este passado intriguista do Estoril, como a “Lisboa dos Espiões” ou “007 — Licença para se divertir!“.
Esta combinação de glamour e espionagem marcou para sempre a história da região e consolidou a sua reputação internacional, que persiste até hoje.