A remota ilha grega de Kastellorizo tornou-se um peão na disputa entre a Grécia e a Turquia sobre fronteiras marítimas e direitos de exploração offshore de gás e petróleo.
Nesta época do ano, os cafés e hotéis ao longo do pequeno porto na remota ilha grega de Kastellorizo costumam estar repletos de turistas. Porém, desta vez, não é o caso – e a culpa não é apenas da pandemia de covid-19.
De acordo com a NPR, a remota ilha tornou-se um peão na disputa entre a Grécia e a Turquia sobre fronteiras marítimas e direitos de exploração offshore de gás e petróleo. À medida que as tensões aumentaram no mês passado, os militares entraram em alerta, enviando navios e aviões de guerra para o Mediterrâneo oriental – e aumentando o temor de um confronto.
“Se procurar Kastellorizo no Google, terá uma ideia de guerra, zona cinzenta, de que algo terrível está a acontecer”, disse Eleni Karavelatzi, comerciante de turismo que cresceu na ilha, à NPR. “Este não é o nosso mundo. Isto é política.”
O problema começou quando o navio de invetsigação turco Oruc Reis, acompanhado por navios de guerra turcos, começou a planar perto de águas disputadas para explorar gás natural offshore entre a Grécia e Chipre.
A situação irritou o governo grego, que afirma que, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, a Grécia tem direitos exclusivos de perfuração na plataforma continental de cada uma das suas ilhas. A Turquia, que não assinou essa convenção, diz que define injustamente parte da plataforma continental turca como grega.
“A Turquia tenta fazer com que pareça mais injusto no caso de Kastellorizo. A Turquia argumenta: como pode esta pequena ilha tão perto da Turquia negar direitos de plataforma continental a uma longa costa turca?”, explicou Ioannis N. Grigoriadis, professor de ciência política da Universidade Bilkent em Ancara e chefe do programa para a Turquia na Fundação Helénica de Política Europeia e Externa em Atenas.
A Turquia localiza-se a apenas 10 minutos de lancha da pequena Kastellorizo.
A Turquia também questiona a presença militar grega em Kastellorizo, uma das ilhas do Dodecaneso que a Itália cedeu à Grécia após a II Guerra Mundial com a condição de que fossem desmilitarizadas. A Grécia diz que fez essa promessa a Itália – não à Turquia.
À medida que Oruc Reis avançava ao longo do Mar Egeu, a Grécia enviou os seus próprios navios da marinha para segui-lo. Quando uma fragata turca acidentalmente colidiu com um navio de guerra grego em 12 de agosto, os media de ambos os países especularam que um confronto parecia iminente em Kastellorizo.
E, para já, a tensão continua a sentir-se na pequena ilha grega.
A ilha do “Castelho Vermelho”
Os turcos chamam a ilha de Meis devido ao seu antigo nome grego, Megisti, que significa “grande”. Embora a ilha tenha menos de 6,4 quilómetros quadradas, é a maior de pelo menos uma dúzia de ilhas – a maioria delas desabitadas – num pequeno arquipélago.
O nome Kastellorizo tem raízes no latim. Os viajantes e invasores da ilha sempre avistaram um castelo e uma fortaleza antigos, sombreados de vermelho pelo sol poente. “Chamavam-no de Castello Rosso, Castello Rougio, o Castelo Vermelho. E acabou por tornar-se Kastellorizo”, disse Constantina Agapitou Crowley, ex-executiva de marketing.
A ilha mudou de mãos muitas vezes, entre bizantinos, cavaleiros de Malta e otomanos. Kastellorizo floresceu no século XIX como uma potência comercial marítima com uma população de mais de 14 mil.
Depois de duas guerras mundiais e ocupações por franceses, italianos e britânicos, a maioria dos seus residentes fugiu para o Egito, Palestina e Austrália.
Kastellorizo entrou no mapa turístico com o filme vencedor do Oscar de 1991, “Mediterraneo”, que foi filmado lá.
Hoje, menos de 500 pessoas vivem na ilha – a maioria perto do porto.