As rotinas de jet set de Bill Gates e Paris Hilton significam que eles produzem 10 mil vezes mais emissões de carbono do que as pessoas comuns.
Esta foi a conclusão de um estudo, publicado na revista Annals of Tourism Research, às contas das suas redes sociais, bem como as de várias outras celebridades. Como tal, esta estimativa é conservadora – é possível que tenham voado mais e não tenham partilhado com os seus milhões de seguidores.
Isto destaca a disparidade insana de emissões de carbono entre ricos e pobres. Em 2018, um ser humano médio emitiu menos de cinco toneladas de CO₂ no total. No entanto, isto esconde grandes diferenças nas contribuições individuais.
No caso de viagens aéreas, a média global é de 115kg CO₂ por pessoa, por ano. Contudo, a grande maioria da humanidade nunca voa. Esta média é criada pelas impressionantes emissões da fatia mais rica da humanidade. O autor do estudo, Stefan Gössling, calculou que Bill Gates, por exemplo, faz com que pelo menos 1.600 toneladas de CO₂ sejam emitidas na atmosfera – apenas com o contributo dos seus voos.
Obviamente, não são apenas as celebridades que são o problema. Os números publicados recentemente revelam que 1% dos residentes ingleses são responsáveis por quase um quinto de todos os voos para o exterior. Enquanto isso, quase metade (48%) da população não realizou um único voo para o estrangeiro em 2018.
Desigualdade de carbono
É importante realçar a extensão desta disparidade, uma vez que a humanidade concordou em estabilizar o aquecimento global em 2°C. Para atingir este objetivo, as emissões de gases com efeito estufa precisam de ser drasticamente reduzidas.
Celebridades, por definição, são influentes e normalmente ricas. Embora evidências sugiram que elas voam frequentemente, tem sido difícil determinar a sua contribuição para o aquecimento global. Pessoas muito ricas raramente são representadas em estudos domiciliares. Para descobrir, Gössling acompanhou o estilo de vida de jet-set de dez celebridades, analisando a sua ampla presença nas redes sociais.
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Gössling analisou as contas do Twitter, Facebook e Instagram à procura de informações sobre viagens. Para restringir a pesquisa, apenas as viagens aéreas foram registadas, embora as celebridades também façam distâncias (adicionais) de carro.
As publicações nas redes sociais foram avaliadas quanto aos pontos de partida e chegada da viagem, o tipo de aeronave usada e as distâncias percorridas. Esta informação foi usada para calcular o uso provável de combustível e as emissões associadas.
As vastas emissões causadas por estes indivíduos sugerem que uma parcela muito pequena da humanidade tem um papel muito significativo no aquecimento global. Provavelmente isto é verdade para uma gama muito maior de elites económicas, culturais e políticas.
Já sabemos há algum tempo que os 10% mais ricos do mundo produzem metade das emissões globais de carbono. Mas as políticas climáticas até agora tendiam a omitir essa questão da desigualdade de carbono.
Em todo o mundo, as nações têm-se concentrado na descarbonização da produção, ignorando grandes diferenças nos hábitos de consumo. E parece cada vez mais que a crise climática não pode ser tratada, enquanto um pequeno mas crescente grupo de super emissores, continua a aumentar o consumo de energia.
Esta é também a principal questão destacada pelo crescente movimento juvenil que exige responsabilidade pessoal no carbono. Como a ativista Greta Thunberg afirmou desde o início, “quanto maior a sua pegada de carbono, maior o seu dever moral”. E voar, como uma atividade que consome muita energia, foi identificada como particularmente prejudicial e socialmente indesejável.
Isto resultou num grande conflito sobre as normas sociais e morais que envolvem as viagens aéreas. Ser um viajante global infere automaticamente uma alta posição social. As celebridades, em particular, promoveram essa perspetiva por meio da comunicação de estilos de vida glamourosos. As dez celebridades estudadas neste estudo, por exemplo, têm coletivamente 170 milhões de seguidores apenas no Instagram.
Mas mais e mais pessoas estão a começar a questionar o que é desejável, justificável e até “normal”. No caso dos voos, isso passou a ser conhecido como “flight shame”. As viagens aéreas estão a começar a ser enquadradas como uma atividade humana destrutiva. O novo foco no consumo desafia todos os indivíduos a viverem dentro de um orçamento pessoal sustentável de carbono.
As implicações dos hábitos de voo dos superemissores globais são, portanto, de grande alcance. É claro que os governos precisam de seguir o público e prestar mais atenção ao consumo, a fim de conter a classe crescente de pessoas muito ricas que contribuem significativamente para as emissões e incentivam todos os outros a aspirar a estilos de vida prejudiciais como estes.
ZAP // The Conversation
Quem mais fala sobre o CO2 mais polui, é um pouco disso que se passa. Que se saiba o CO2 é apenas 0,04% do ar e as plantas convivem optimamente com ele.