“Estado está a ganhar” com a subida da inflação. Pensionistas e reformados são os que mais perdem

Mário Cruz / Lusa

Luís Marques Mendes

No seu habitual comentário semanal na SIC e SIC Notícias, Luís Marques Mendes afirmou que os pensionistas e os reformados são os que mais perdem com a subida  da inflação, enquanto o Estado fica a ganhar.

“Mesmo que o aumento dos preços no segundo semestre seja nulo, a inflação anual fixar-se-á em 7,2%. Como é provável que o aumento dos preços prossiga nos próximos meses, embora a ritmo mais lento, é previsível termos uma inflação da ordem dos 8% este ano”, indicou.

Numa pensão de 810 euros, exemplificou o comentador, uma inflação de 8% fará com que o valor real da pensão se reduza para 745,20 eruos, o que equivale a uma redução de quase 65 euros.

E continuou: um trabalhador da função pública com um salário nominal de 1.548 euros, uma inflação de 8% gera um salário real de 1.424,60 euros, ou seja, uma redução de quase 124 euros.

Já o “Estado ganha com a inflação”, referiu, explicando que, segundo a execução do Orçamento de Estado, a receita fiscal estava em maio a crescer 21%, no mesmo mês em que a receita do IVA estava a crescer 25% e o ISP (imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos) tinha um crescimento de 12%.

Quanto aos incêndios, salientou que no plano do combate, se nota “mais organização, mais coordenação, mais meios e melhor comunicação”. Apontou também o facto de as populações estarem mais conscientes em matéria de limpeza de matas e a evitar comportamentos de risco. “O MAI dá uma imagem de serenidade e eficácia”, disse.

Mas no plano da prevenção “estamos ainda muito aquém do desejável”. “Há inúmeros proprietários para quem a floresta é um custo. Perdem dinheiro em vez de tirarem valor. Assim, não investem e não limpas as matas. E há casos e casos de heranças indivisas em que os herdeiros não se entendem e as terras ficam ao abandono”.

“Com o flagelo das mudanças climáticas, corremos o risco de fogos cada vez mais generalizados e intensos”, declarou ainda, acrescentando sobre o tema: “a grande notícia da semana vem da Alemanha e é má: o governo alemão vai reativar 27 centrais a carvão que tinham sido encerradas”.

Relativamente ao debate do Estado da Nação desta semana, indicou que será o mais difícil do governo de António Costa, devido à inflação, à perda de poder de compra e redução de rendimentos e o facto de o primeiro-ministro e o Governo terem avaliações negativas dos portugueses.

Contudo, acredita que o Governo não vai cair, “protegido pelo escudo da maioria absoluta”, podendo até ganhar o debate. Costa “vai aproveitar seguramente este debate para fazer alguns anúncios de novas medidas, concentrar o enfoque nas suas propostas e desviar as atenções dos “casos” políticos que o atormentam”, indicou.

No campo da descentralização, referiu que está iminente um acordo entre Governo e autarcas, que deverá ser aprovado esta segunda-feira. Como aspetos positivos identificou as verbas para conservação de escolas, as refeições escolares, o financiamento a 100% da reparação de escolas e o facto de os municípios passarem a intervir na fixação de horários dos Centros de Saúde.

Os aspetos negativos, na sua opinião, passam pelo facto de o acordo só cobrir as áreas da educação e da saúde, bem como a ausência de portarias essenciais (transportes escolares e pessoal não docente) e de áreas importantes como a ação social, a cultura, os portos e a proteção civil.

Defendeu, no entanto, que se trata de “uma grande vitória dos autarcas”, sublinhando que o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, que “esteve sozinho durante meses a criticar um “simulacro” de descentralização”, é “o maior vitorioso desta reviravolta”.

“Este acordo mostra que os números iniciais propostos pelo Governo na área da educação eram uma brincadeira. Estes, sim, já são equitativos e razoáveis”, indicou igualmente Marques Mendes.

Sobre a guerra na Ucrânia, congratulou o acordo para o escoamento de cereais, apontando também o plano de poupança de energia que a Comissão Europeia vai aprovar na próxima quarta-feira e o 7º pacote de sanções à Rússia, agora no ouro.

Para Marques Mendes, a grande novidade é o desgaste político que a guerra e a inflação por ela gerada estão a ter nos líderes europeus: “Boris Johnson caiu” (Reino Unido), Mario Draghi demitiu-se esta semana (Itália) e Emmanuel Macron perdeu a maioria nas eleições recentes (França).

Em Espanha, Pedro Sanchez já está atrás do líder da oposição nas sondagens; na Alemanha, Olaf Scholz, apesar de eleito recentemente, está numa perda brutal de popularidade; Mark Rutte, na Holanda, é o primeiro-ministro mais impopular na UE; e António Costa passou a ter avaliações negativas nas sondagens, notou o comentador.

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