Três especiarias comuns que podem interferir com a medicação

Estas 3 especiarias comuns podem estar a interferir com a sua medicação — mas, à partida, só em doses elevadas.

Uma pitada de canela no pastel de nata; uma pitada de açafrão no arroz; um chá de gengibre.

Estas especiarias populares são ingredientes básicos na cozinha de todo o mundo.

Durante séculos, as especiarias não foram utilizadas apenas para dar sabor aos alimentos, mas também valorizadas na medicina tradicional Ayurveda e na China pelas suas propriedades curativas.

Mas será que algo tão inofensivo como uma colher de especiarias pode interferir com a sua medicação?

Canela

Olhemos para a canela, por exemplo. Proveniente da casca das árvores Cinnamomum, contém compostos ativos como cinamaldeído, eugenol e cumarina. O óleo de canela, derivado da casca ou das folhas, é frequentemente utilizado em aromatizantes alimentares, fragrâncias e remédios à base de ervas.

A canela tem sido associada a uma série de potenciais benefícios para a saúde: é rica em antioxidantes, pode reduzir a inflamação, ajuda a regular os níveis de açúcar no sangue, diminui o risco de doenças cardíacas e até melhora a função cerebral. Tradicionalmente, também tem sido utilizada para facilitar a digestão e prevenir infeções.

No entanto, um estudo recente da Universidade do Mississippi levantou preocupações de que a canela possa reduzir a eficácia de certos medicamentos.

Em testes laboratoriais, descobriu-se que o cinnamaldeído ativa recetores que aceleram a eliminação dos medicamentos do organismo, tornando-os potencialmente menos eficazes. Embora esta investigação ainda esteja numa fase inicial e ainda não tenha sido testada em seres humanos, levanta questões importantes sobre a forma como a canela interage com os medicamentos modernos.

O tipo de canela também é importante. A canela normalmente encontrada nos supermercados, a canela cassia, é mais barata, amplamente disponível e provém de partes da Ásia.

A canela do Ceilão, frequentemente rotulada como “canela verdadeira”, é originária do Sri Lanka e geralmente é mais cara. A canela cassia contém níveis mais elevados de cumarina, um composto natural que pode prejudicar o fígado em doses elevadas, de acordo com estudos.

A cumarina também é um anticoagulante conhecido, o que significa que ajuda a prevenir coágulos sanguíneos, o que é útil na medicina, mas arriscado quando combinado com medicamentos anticoagulantes como a varfarina.

Existem alguns relatos de casos que sugerem que os suplementos de canela podem aumentar o risco de hemorragia quando tomados com anticoagulantes. Isto deve-se provavelmente ao facto de a cumarina afetar as enzimas hepáticas responsáveis pela decomposição de medicamentos como a varfarina.

Algumas pesquisas também sugerem que a canela pode potencialmente interagir com outros medicamentos, incluindo analgésicos, antidepressivos, medicamentos contra o cancro e medicamentos para a diabetes.

Mas antes de deitar fora o seu tempero, é importante saber que os riscos vêm de doses elevadas, especialmente na forma de suplementos. Uma pitada de canela provavelmente não causará problemas.

Açafrão

Outra especiaria com promessa medicinal — e riscos potenciais — é o açafrão.

Conhecido pela sua cor amarela viva e uso na culinária e na medicina tradicional, o açafrão contém curcumina, um composto elogiado pelos seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes.

No entanto, as informações sobre as interações da curcuma com medicamentos ainda são limitadas. A maior parte do que sabemos vem de estudos em laboratório e em animais, que nem sempre se traduzem diretamente em humanos.

Ainda assim, há evidências de que a curcumina pode afetar a forma como alguns medicamentos são metabolizados, particularmente ao interferir nas enzimas do fígado. Isso significa que ela pode potencialmente interagir com antidepressivos, medicamentos para pressão arterial, medicamentos quimioterapêuticos e certos antibióticos.

A curcuma também possui propriedades naturais de anticoagulante, o que pode amplificar os efeitos de medicamentos como a varfarina ou a aspirina. Estudos em animais sugerem que a curcuma também pode reduzir o açúcar no sangue, o que significa que pode aumentar os efeitos de medicamentos antidiabéticos ou insulina.
Além disso, a curcuma demonstrou reduzir a pressão arterial, o que, quando combinada com medicamentos para a pressão arterial, pode causar uma queda excessiva.

Tal como acontece com a canela, estes efeitos estão mais frequentemente associados a suplementos em doses elevadas, e não às pequenas quantidades utilizadas nos alimentos.

O gengibre é outra especiaria celebrada pelos seus benefícios para a saúde, particularmente os seus efeitos anti-náuseas e anti-inflamatórios. No entanto, os seus compostos ativos, incluindo o gingerol, também podem influenciar a forma como o corpo lida com os medicamentos.

O gengibre pode atuar como um anticoagulante suave, o que significa que combiná-lo com anticoagulantes pode aumentar o risco de hemorragias.

As evidências são contraditórias quando se trata de gengibre e diabetes: embora alguns estudos sugiram que ele pode reduzir o açúcar no sangue, são necessárias mais pesquisas para compreender totalmente o efeito que pode ter quando tomado em conjunto com medicamentos antidiabéticos.

Calma: são doses elevadas

Embora estudos laboratoriais sugiram que estas especiarias podem afetar a forma como o corpo processa certos medicamentos, a grande maioria destes efeitos foi observada em doses elevadas — geralmente provenientes de suplementos, e não da culinária diária.

Se estiver a tomar medicamentos, especialmente anticoagulantes, medicamentos para diabetes ou quimioterapia, vale a pena conversar com o seu médico ou farmacêutico antes de iniciar qualquer novo suplemento à base de ervas.

Mas, para a maioria das pessoas, usar especiarias em quantidades culinárias típicas é seguro – e uma maneira deliciosa de adicionar sabor e potenciais benefícios à saúde às suas refeições.

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