Espanha quer a água do Alqueva (e alega que Portugal tem o dever de a ceder)

10

Fernando Moital / Flickr

Barragem do Alqueva

A seca está a deixar os agricultores de Huelva, no sul de Espanha, “desesperados” e, por isso, há planos para pedir a Portugal a transferência de água da barragem do Alqueva – é uma questão de “reciprocidade”, alega-se.

“O campo não pode esperar mais”. É desta forma que organizações agrícolas de Huelva pedem medidas drásticas para uma “situação de urgência”, como referem num comunicado conjunto citado pelo jornal espanhol La Vanguardia.

Assim, olham para a barragem do Alqueva, no Alentejo, e querem “a partilha temporária dos direitos de água” deste que é o maior lago articial da Europa, para poderem regar as explorações agrícolas de Huelva e abastecer o aquífero natural de Doñana.

A ideia é recorrer ao Convénio de Albufeira que contempla a possibilidade de recorrer à água do Alqueva que está situada no rio Guadiana, em situações de seca extrema.

Conversações Portugal-Espanha já começaram

Portugal e Espanha assinaram há 25 anos o Tratado ou Convenção de Albufeira para regular o uso da água nos rios partilhados pelos dois países (Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana).

A barragem do Alqueva está, nesta altura, a 70% da sua capacidade enquanto as duas maiores reservas da região de Huelva, Chança e Andévalo, estão a 38% e a 25%.

Mas além desse argumento, do lado de Espanha sustenta-se que, uma vez que o Alqueva tem milhares de litros de água que vêm de Espanha, “parece razoável” que Portugal permita o transvase de 40 a 50 hectómetros cúbicos até Huelva.

E já se iniciaram conversações com Portugal, como confirma ao portal de notícias Viva Huelva o delegado do Governo espanhol na Junta da Andaluzia em Huelva, José Manuel Correa.

Mas para implementar o Convénio de Albufeira é preciso que se confirmem “certas condicionantes” e é nisso que se está a trabalhar, explica Correa.

O Partido Popular da região deverá apresentar uma proposta nesse sentido no Parlamento da Andaluzia.

E o jornal La Vanguardia assegura que as organizações agrícolas estão a fazer “estudos com dados técnicos que demonstram a viabilidade” da pretensão dos agricultores espanhóis.

“Boa vontade” e um dever moral de Portugal

Em Portugal, o gabinete de comunicação do Ministério do Ambiente e da Acção Climática (MAAC) não confirma quaisquer conversações.

Até ao momento, “não foi recebido qualquer pedido” ou contacto por parte das autoridades espanholas para autorizar o envio de água para Huelva, destaca o MAAC numa nota citada pelo Público.

“Portugal tem em curso com Espanha uma negociação para a definição do regime de caudais na secção de Pomarão no rio Guadiana“, realça ainda o Ministério liderado por Duarte Cordeiro sem fazer qualquer referência ao Alqueva.

O Público também consultou um documento da Região Autónoma da Andaluzia que inclui uma intervenção do ex-director da Confederação Hidrográfica do Guadalquivir, Juan Saura, que aponta que acredita na “boa vontade de Portugal” para aprovar o envio de água para Huelva.

Afinal, é uma questão de “reciprocidade”, argumenta Saura, notando que Portugal tem o dever de o fazer devido aos “serviços que Espanha presta” ao nosso país, “ao prevenir inundações com o seu sistema de barragens que regulam o caudal dos rios transfronteiriços no caso de tempestades”.

Susana Valente, ZAP //

 

10 Comments

  1. Estes espanhóis, nem bons ventos nem bons casamentos..
    Quando estão a transbordar, abrem as barragens e inundam-nos sem pedir licença, agora querem a ~partilha de água?
    Qualquer dia, também fazem uma operação militar em Portugal, como os outros!
    Mundo às avessas…

  2. Não basta a slgumas companhias de agricultura de espanha terem sembradios de abacateiros a consumirem imensas quantidades de agua senão que também estamos obrigados a partilhar?

  3. Como se os espanhóis prevenissem inundações do lado de cá! Não nos fazem qualquer favor. A água sempre passou de lá para cá, e passa cada vez menos porque lhes é conveniente, não porque nos ‘querem ajudar’. O Espanhol é um bicho manhoso e muito conveniente.

  4. Os espanhóis podem alegar que necessitam muito de água e que essa água provém de Espanha. Até está correcto. No entanto devem ser recordados que eles tanto controlam.a água que a desviam quase na totalidade do Tejo para a suas necessidades. Por isso o tejo.tem zonas quase mortas. E por aí fora… Por mim até lhes dava mas a conta gotas. Como eles fazem quando lhes convém. Os nossos irmãos são os manhosos e por isso muito cuidado com os manhosos.

  5. Que os espanhóis queiram água até percebo e queiram enganar Portugal com retórica enviesada. O que receio é a capacidade de Portugal de se defender. O governo está eivado de oportunistas gananciosos, que põem os seus interesses pessoais e partidarios acima de tido. Não os vejo a agir com patriotismo. Receio que hajam como “Migueis de Vasconcelos” nesta questão da partilha da água com Espanha.

  6. Quantos euros investiram na barragem? Terão a água em proporção do investimento que fizeram…nada.
    Já abusam na margem espanhola de Mourão e agora querem água….gastem menos. E no Algarve, os grupos hoteleira que se unan e construam estações dessalinadoras.

  7. Os espanhóis fecham os rios, cortam a água as nossas barragens, interrompendo o curso e por vezes desviando o mesmo dos rios que vêm para Portugal e agora querem exigências, ok quando equivaler a água que já cortaram mais juros, talvez se possa ponderar sobre o assunto…

  8. Pelo teor dos comentários dá para ver que o preconceito bacoco existe e que se tenta justificar a falta de solidariedade com o que outros fazem. Tristeza. Se os Espanhóis pensarem assim então nada os impede de fecharem as suas barragens e deixar-nos literalmente à seca. Antes de comentar era bom que certos iluminados pensassem. Ou já se esqueceram da ajuda que vem de Espanha no combate aos fogos, por exemplo?

  9. Ó Daniel, bacocos e bem bacocos! tem toda a razão! Os espanhóis quando querem construir uma central nuclear encostam-na à nossa fronteira e nós, por não sermos solidários, construimos barragens, junto da dita fronteira, fazendo com que metade da albufeira fique do lado deles!! Do nosso lado, a maior parte dos terrenos que circundam as barragens, no Alentejo, graças à inoperância do nosso governo, foram comprados por eles para o plantio de olivais intensivos que esgotam a nossa água , levam a mais valia para Espanha e deixam muitas das nossas aldeias inundadas de pesticidas e comprando ainda por cima a nossa azeitona fazendo subir de uma forma absurda o preço do azeite em Portugal!!! Isto é que se chama ser solidário ou antes ser colonialista? Além disso quem tem que se preocupar com a gestão da água dos seus rios é o ministério da agricultura espanhol!!! SE não tinham água porque é que permitiram aquelas culturas intensivas desordenadas com com o aparecimento de milhares de metros quadrados de estufas que lhes esgotam os aquíferos? A água do Tejo foi desviada por um sistema de transvase para alimentar essa loucura de regadio e o Tejo em alguns troços do seu percurso está praticamente seco. E eles preocupam-se com isso? Não! cada vez tem mais culturas plastificadas! Mas afinal o que é isto?

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.