António Pedro Santos / LUSA

Apartamento em Lisboa no dia do apagão
Espanha investiga 756 milhões de dados sobre o apagão que deixou a Península Ibérica às escuras na semana passada. É “manipulação” culpar as renováveis, diz Sánchez.
O primeiro-ministro de Espanha disse esta quarta-feira que levará tempo até haver uma explicação para o apagão da semana passada na Península Ibérica, por ser necessário analisar 756 milhões de dados fornecidos pelos operadores do sistema elétrico.
É um “processo que vai levar tempo”, disse Pedro Sánchez, no parlamento espanhol.
“A 29 de abril, solicitámos à REE e às empresas de eletricidade que analisassem os seus dados e foi criada uma comissão de análise técnica, que tem dois grupos de trabalho: um sobre cibersegurança e outro que investiga esta questão do ponto de vista técnico. Também solicitámos um relatório independente à Europa, embora parte dele só será conhecido daqui a seis meses“, disse Sánchez, apesar de o Governo espanhol ter três meses para reportar a Bruxelas as causas da crise energética, soube-se na semana passada.
O líder do Governo realçou que foram pedidos às empresas de geração e distribuição de eletricidade em Espanha todos os dados gerados e registados em 4.200 unidades do sistema entre as 12:15 e as 12:35 locais do dia 28 de abril.
Os cidadãos querem saber “e o governo também”
Sánchez voltou a prometer, como já fez várias vezes na última semana, que o Governo vai “chegar ao fundo” deste assunto para saber o que aconteceu, “assumir e pedir responsabilidades políticas” e adotar medidas para que não volte a acontecer. Insistindo em que se trata de um assunto complexo, exigiu e prometeu “rigor, cautela, prudência e absoluta transparência”.
“Posso assegurar que tudo que for descoberto se tornará público”, afirmou, depois de dizer que o executivo espanhol “está plenamente consciente” de que os cidadãos querem saber o que aconteceu “e o governo também”.
“Não vamos fechar qualquer debate em falso, não vamos precipitar-nos nas conclusões”, acrescentou, antes de sublinhar que “para fazer bem o trabalho, os técnicos precisam de tempo” e que “a responsabilidade do governo é respeitar a complexidade do assunto” e “não gerar ruído e debates interessados, como já estão a fazer alguns”.
Uma coisa é certa: não foram as renováveis
A este propósito, pediu aos espanhóis para desconfiarem dos discursos que tentam explicar o apagão com um debate entre energias renováveis e nuclear.
“Neste momento, não há nenhuma evidência empírica que diga que o incidente foi provocado por excesso de renováveis ou falta de centrais nucleares em Espanha”, afirmou, num discurso em que acusou partidos políticos de direita e extrema-direita de terem embarcado, sem dados ou provas, numa “agenda ideológica” e nos interesses de empresas que são proprietárias das centrais nucleares espanholas, que deverão encerrar todas entre 2027 e 2035.
Também Sara Aagesen, ministra da Transição Ambiental, garantiu que a eliminação total das centrais nucleares espanholas até 2035 e o recente aumento da energia limpa na rede não são os culpados.
“Nem mesmo os melhores especialistas conhecem as causas”, afirmou no Senado, citada pela Bloomberg. “É claro que analisaremos a hipótese de um ciberataque ou de uma falha na segurança dos sistemas digitais”, e garantiu que Espanha tem “trabalhado com a França, Portugal e a Comissão Europeia” para que interligações mais robustas cheguem o mais rapidamente possível.
Sánchez defendeu ainda a aposta nas energias renováveis, que disse não ser apenas do Governo de esquerda de Espanha, mas um vasto “consenso global” na Europa e no mundo.
O líder do governo espanhol sublinhou que estas energias aumentam a soberania nacional e europeia, são mais competitivas e permitiram baixar os preços da eletricidade na Península Ibérica nos últimos anos, além de responderem às alterações climáticas.
Espanha não vai mudar, por isso, nada na estratégia de aposta nas energias renováveis e continuará a investir e a promover o investimento em infraestruturas que permitam e melhorem a transição para a energia verde, garantiu.
O apagão, que deixou sem eletricidade todo o território de Portugal e Espanha continentais, ocorreu às 11:33 de Lisboa (12:33 em Madrid) e teve origem em território espanhol, segundo as autoridades dos dois países, sem que as causas sejam ainda conhecidas.
Sánchez reiterou que foram identificadas três falhas de geração de eletricidade segundos antes do apagão no sul de Espanha (a primeira) e depois mais duas no sudoeste do país, com a investigação a tentar apurar agora se estas perturbações estão relacionadas entre elas e por que motivo o sistema elétrico ibérico se desligou totalmente naquele momento.
ZAP // Lusa
Apagão na Europa
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Espanha admite demorar meio ano a apurar causa do apagão — mas não foram as renováveis
E continuam a mentir.
e qual será a verdade?
À espera que a malta se esqueça do assunto.