Escritor Joel Neto denuncia ameaças após livro sobre a pobreza nos Açores

Joel Neto / Facebook

O escritor Joel Neto de óculos e boné cinzento, com ar sério.

O escritor açoriano Joel Neto.

O escritor Joel Neto apresentou uma queixa contra o chefe de gabinete da secretária da Educação e Assuntos Culturais do Governo dos Açores, acusando-o de ameaças e ciberbullying após o lançamento de um livro sobre a pobreza na região.

Joel Neto diz ter sido alvo de ‘ciberbullying’, através do envio de uma “série de mensagens hostis, que incluíram uma longa lista de acusações e insultos, concretizada com uma ameaça expressa” por parte de António Bulcão, segundo a queixa entregue no Departamento de Investigação e Acção Penal de Angra do Heroísmo.

António Bulcão chefia o gabinete da secretária regional da Educação, Sofia Ribeiro.

Contactado pela agência Lusa, Joel Neto recusa comentar a situação, mas confirma a queixa.

Nessa queixa, Joel Neto refere que chegou a ter com António Bulcão uma “relação cordial, formalmente de amizade”, mas que, após o lançamento do livro “Jénifer ou a Princesa de França”, em Fevereiro passado, o chefe de gabinete da secretária regional começou a enviar uma “série de mensagens insultuosas“.

Uma vez que a obra “denuncia a má prestação dos Açores na generalidade dos indicadores nacionais e europeus de desenvolvimento”, o escritor supõe que António Bulcão sentiu-se “acossado pelo que nessa denúncia pudesse ser assacado ao Governo Regional”.

Joel Neto diz “recear pela sua segurança e da sua família” devido ao “ódio que todas as mensagens enviadas evidenciam” e pelo acesso que o chefe de gabinete da secretária da Educação tem a “meios de agressão física“.

“Não se pode excluir a possibilidade de António Bulcão estar a referir-se, antes, ao uso da máquina do Estado, a que tem acesso enquanto membro de primeira linha da equipa que acompanha o Governo Regional, para me atingir”, aponta Joel Neto na queixa.

Com esta acção, o escritor e antigo jornalista diz que pretende também “defender o exercício da opinião livre nos Açores“.

“É difícil aceitar que o Governo dos Açores seja aquele em que se pode recorrer a tais métodos de coação, bem como que os Açores sejam a região onde um governo pode recorrer a tais métodos de coação”, lê-se na queixa dirigida ao Procurador da República da Comarca açoriana.

Joel Neto é escritor, comentador e membro do Conselho Regional de Cultura, órgão consultivo do Governo Regional.

A secretaria da Educação e Assuntos Culturais do Governo dos Açores não quis, para já, fazer comentários sobre o assunto.

Livro de Joel Neto mostra os “Açores ignorados”

“Jénifer, Ou a Princesa da França” é uma “reportagem de ficção” que mostra “um retrato dos Açores ignorados, uma paisagem humana ausente das fotografias turísticas”, como se explica no site oficial de Joel Neto.

O escritor nota que “é também uma tentativa de intervenção cívica de um homem só, pregando no deserto da escassez, da exclusão e do conformismo, e clamando por mudança”.

A história de Jénifer está centrada “num bairro social dos Açores, a região mais pobre de Portugal” e “terreno fértil para o abuso sexual e o incesto, o alcoolismo e a violência doméstica, a exclusão social, o tráfico de droga, o insucesso escolar, a pobreza persistente ou o suicídio jovem”, vinca-se ainda no site.

“Voltar as costas ao problema é ser co-responsável”

Esta questão da pobreza nos Açores foi abordada, recentemente, na reportagem “Paraíso Perdido” exibida no programa “Linha da Frente” da RTP1. O escritor foi um dos testemunhos ouvidos na peça jornalística.

No seu perfil do Facebook, Joel Neto comentou o assunto, salientando que “não pode deixar de envergonhar-nos e também não vai libertar nenhum de nós de tentar fugir com o rabo à seringa, tapar o sol com a peneira, enfiar a cabeça na areia & demais expedientes de negação”.

O escritor reforçou ainda que os Açores surgem em primeiro lugar em “mais de 30, até mais de 40 indicadores de subdesenvolvimento humano” a “nível nacional ou mesmo europeu”.

“Voltar as costas a este problema, seja por cinismo, seja por medo, seja por indiferença, é ser co-responsável por ele“, apontou ainda.

ZAP // Lusa

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