Professores aparecem publicamente contra os trabalhos de casa, uma rotina na maioria das escolas há décadas.
O jornal USA Today lança a pergunta: é altura de acabar com os trabalhos de casa? Muitas crianças e jovens iriam agradecer – mas muitos professores estão do seu lado.
A pandemia colocou a saúde mental nas conversas diárias e agora pode ser a altura ideal para ter em atenção as consequências que os trabalhos de casa trazem. Quer a nível mental para os alunos, quer a nível do convívio familiar.
Um professor tornou-se famoso nas redes sociais (vídeo com mais de um milhão e meio de visualizações e com muitos apoios) ao lançar algumas ideias: toda a premissa do trabalho de casa “é um falhanço” e lembra que os contextos caseiros/familiares dos alunos são muito diferentes. Num ambiente de conflito constante, é difícil ter a concentração necessária para responder a perguntas em casa; num ambiente tranquilo, “os alunos querem realmente gastar o seu tempo com trabalho agitado?”.
Os trabalhos de casa, sobretudo quando são muitos ou muito complicados, podem ser prejudiciais para os alunos e causar “um grande impacto na sua saúde mental, física e emocional“, avisa Emmy Kang, conselheira de saúde mental da Humantold.
A especialista indica que “mais de metade dos alunos diz que os trabalhos de casa são a principal fonte de stress“. Quando os alunos ficam acordados até muito tarde para terminar as tarefas, pode surgir sono interrompido e exaustão.
Cynthia Catchings, da Talkspace, acrescenta que os alunos poderão sofrer problemas de saúde mental a longo prazo, como ansiedade e depressão, por terem muitos trabalhos de casa para fazer.
Cynthia elogia a rotina em França: não há trabalhos de casa, no geral, e isso permite aos estudantes franceses “desligarem-se realmente da escola durante um bocado”.
Benefícios e pandemia
E os próprios trabalhos de casa não são muito benéficos para os alunos de qualquer ano do ensino obrigatório. Aviso de Nicholas Kardaras, psicólogo: “O trabalho escolar deve ser realizado apenas na sala de aula“.
Emmy Kang não defende a eliminação dos trabalhos de casa. Mas defende o fim dos trabalhos de casa “sem sentido e sem propósito”.
Este assunto surge agora com mais frequência por causa da COVID-19, que foi um “desastre” no que diz respeito às estruturas. “Tudo ficou deteriorado. A escola funciona como uma âncora para muitas crianças, como uma força estabilizadora – e isso desapareceu”, reforça Nicholas Kardaras.
Depois de muitos meses em regime de tele-escola, o regresso às aulas presenciais deverá originar problemas a muitos alunos, no que diz respeito aos seus horários e rotinas de sono.
E os trabalhos de casa podem dificultar esse processo: “Os alunos deveriam avisar os professores: ‘Olhe, demorei muito a fazer este trabalho de casa, ou era muito difícil para eu fazer sozinho'”.
