Um Agrupamento na Amadora publicou um código de vestuário que acendeu um debate nas redes sociais devido às regras que controlavam mais as raparigas. Entretanto, a escola já voltou atrás na decisão.
Segundo escreve o Jornal de Notícias, o Agrupamento de Escolas Cardoso Lopes, na Amadora, criou um código de vestuário para os alunos para este ano lectivo que agora começa. As regras aplicam-se mais às raparigas, que estão proibidas de usar minissaias, tops cai-cai e calções. Os decotes só são permitidos se tiverem um top por baixo e as jovens têm de usar golas pelo pescoço e saias pelo joelho.
Já os rapazes não podem usar calças descaídas. Os chinelos são também proibidos e em caso de incumprimento das normas, os estudantes podem ser impedidos de entrar na escola. O regulamento impõe que os alunos têm de ter roupas limpas, que não exponham demasiado o corpo e que se adequem à estação do ano, “cumprindo durante as estações frias a sua função de agasalho”.
O aviso remete para o Estatuto do Aluno, um enunciado oficial para todo o país que refere que o aluno deve “apresentar-se com vestuário e calçado adequados, em função da idade, à dignidade do espaço e à especificidade das atividades escolares, no respeito pelas regras estabelecidas na escola”. No entanto, o estatuto não especifica as peças de vestuário em causa.
Uma das escolas do agrupamento afixou um cartaz com as regras e desenhos do que é e não é permitido e a cantora Sónia Tavares, vocalista dos The Gift, mostrou-o nas redes sociais. “Uma amiga mandou-me esta fotografia. É o cartaz que estava afixado hoje de manhã na escola, quando foi levar a filha”, começa a artista.
“Então mas… eu, em 1993 ia para a secundária vestida de Luís XV, de canudos no cabelo, sapato de fivela, folhos e calções e nunca a minha individualidade foi posta em questão por qualquer professor ou docente”, recorda. “E AÍ???? Estou maluca, ou estamos verdadeiramente a andar para trás? Cristo, venha cá abaixo ver isto, please”, termina.
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Várias outras celebridades deixaram comentários na publicação de Sónia Tavares, que suscitou um debate sobre o controlo aos corpos das raparigas. “E só há regras para meninas. Isto é inacreditável“, lamentou a cantora Márcia. A locutora de rádio Ana Markl disse que não pode “crer” no cartaz e o modelo Luís Borges brincou, dizendo que ia ter de dar “toda a roupa” da filha.
No entanto, a publicação motivou também críticas, tendo a cantora mostrado uma mensagem que recebeu onde é insultada como “um ser marginal” que não acrescenta “nenhum valor à sociedade”. “Estou começando a segui-la para dizer que concordo com as regras de vestuário nas escolas. Os nossos jovens precisam de educação e limites para não se transformarem em seres abomináveis como você”, dizia a mensagem.
Alberto Santos, da Confederação Nacional de Associação de Pais, disse ao JN que acha que o código de vestuário não faz sentido. “Quanto maior a limitação, maior o incumprimento e espero que nenhuma rapariga seja impedida de entrar na escola se usar uma minisssaia adquirida em qualquer loja de roupa”, comenta.
Mas parece que a escola já voltou atrás na decisão. Segundo avança a TVI24, o Agrupamento de Escolas garante que o aviso tinha sido assinado pela anterior directora e que por causa disso já foi retirado. A nova direção assumiu o cargo em Agosto e não quis comentar as regras específicas do código de vestuário.
Sónia Tavares reagiu à retirada do aviso. “Hey teens e pre teens, já me pagavam um cafezinho, heim?, escreveu a cantora. “Agora, juízo, percebam que o que vos define é o que vos está no coração. Respeitem o vosso corpo, aceitem-no com orgulho, mas não se esqueçam que a vossa liberdade acaba quando invadem a do próximo”, aconselha.
“Os vossos chinelos e as vossas minissaias incomodam muitos adultos, vamos usá-los com dignidade e fazê-los engolir as palavras sujas. Viva a liberdade. A luta continua”, conclui.