Uma polinização insuficiente das culturas representa um risco para a saúde humana, ameaçando a vida de centenas de milhares de pessoas.
Três quartos das variedades de culturas agrícolas são polinizadas por animais, tais como insetos, aves e morcegos. Muitas populações de polinizadores-chave, como as abelhas, estão em declínio e a sua perda resulta numa menor produção de fruta e vegetais.
Num artigo publicado recentemente na Environmental Health Perspectives, uma equipa da Universidade de Harvard utilizou dados sobre polinizadores, 63 culturas dependentes, comércio internacional, alimentação e doenças crónicas para estimar a mortalidade devido à perda de alimentos saudáveis.
Os investigadores calcularam que 3 a 5% da produção mundial de fruta, vegetais e nozes está a ser perdida devido a carências de polinizadores, causando 427.000 mortes a mais por ano – um número comparável às condições associadas ao consumo de drogas e ao cancro da próstata.
As conclusões da equipa sugerem que o impacto económico da produção alimentar perdida afeta mais profundamente os países com rendimentos mais baixos, enquanto os efeitos das doenças relacionadas com a alimentação são sentidos com mais intensidade nas regiões do mundo com rendimentos médios e superiores.
“É bem aceite que os polinizadores são uma parte importante da preciosa biodiversidade da Terra e a maioria das pessoas tem realmente levado a sério que desempenham um papel fundamental no apoio ao fornecimento de alimentos e dietas alimentares”, indicou Matthew Smith, um dos autores do estudo.
“Acrescentar a dimensão extra da saúde introduz um imperativo ainda mais urgente para os decisores políticos: proteger e aumentar a população polinizadora robusta não só ajuda a proteger alimentos essenciais, mas também apoia a saúde pública. Há também um argumento económico convincente a ser apresentado”, referiu.
O estudo baseia-se num trabalho anterior, no qual estimou-se que um quarto da diferença de rendimento entre os campos de alta e baixa produção se devia a um défice de polinização.
“Se, no futuro, os agricultores aumentarem os rendimentos através de métodos tradicionais enquanto os polinizadores continuarem a diminuir, a diferença de rendimento total atribuível a polinizadores insuficientes seria superior a 25%, o que significa que subestimámos o efeito”, acrescentou o investigador.
Vários estudos apontam estratégias eficazes para melhorar a polinização, incluindo o aumento da abundância e da diversidade das flores nas terras agrícolas, a redução da utilização de pesticidas e a preservação dos habitats naturais.
“Os polinizadores ajudam a agricultura a produzir um terço da dieta humana e estes são os alimentos mais nutritivos, que nos mantêm saudáveis”, disse Kelly Bills, da Pollinator Partnership, uma organização norte-americana sem fins lucrativos. “Esta investigação sublinha quão críticos são os serviços de polinização para a saúde e bem-estar humanos”.