Um novo estudo sugere que a estimulação elétrica do cérebro, cuidadosamente controlada, pode melhorar as capacidades matemáticas, sobretudo em pessoas com ligações mais fracas numa parte específica do cérebro.
Sinais elétricos impercetíveis transmitidos ao cérebro conseguiram melhorar as competências matemáticas de estudantes.
Foi o que mostrou um estudo publicado esta terça-feira na PLOS Biology.
Os investigadores recrutaram 72 estudantes da Universidade de Oxford, sobre os quais foram analisada as capacidades matemáticas, antes de serem divididos em três subgrupos com capacidades equivalentes.
Dois dos grupos receberam estimulação no córtex pré-frontal dorsolateral (dlPFC) ou no córtex parietal posterior (PPC) – áreas cerebrais ligadas à capacidade matemática em investigações anteriores. O terceiro grupo recebeu uma estimulação simulada.
Em seguida, como detalha a Live Science, a equipa aplicou a estimulação transcraniana por ruído aleatório (tRNS), que é apenas um dos muitos tipos de estimulação cerebral não invasiva, mas é conhecida por ser mais confortável do que outras opções.
“A maioria das pessoas não sente se está a ser estimulada ou não”, explicou, à mesma revista, o líder da investigação, Roi Cohen Kadosh, neurocientista da Universidade de Surrey.
Cada participante nos grupos tratados recebeu 150 minutos de estimulação, emparelhados com testes de matemática, durante cinco dias de testes.
Os investigadores descobriram que a estimulação do dlPFC estava de facto associada a uma melhor capacidade de cálculo, mas a estimulação do PPC não melhorou a aprendizagem de exercícios.
As pessoas com uma conetividade mais fraca que estavam no grupo da estimulação simulada tiveram mais dificuldade em lidar com os problemas de cálculo do que as pessoas com uma conetividade mais forte do mesmo grupo. Mas os indivíduos com conexões fracas que tiveram o seu dlPFC estimulado apresentaram as maiores melhorias nas suas pontuações.
Atenção aos experts
Um pequeno estudo anterior (de 2019) que a equipa realizou com um grupo de professores de matemática mostrou que a estimulação piorou o desempenho dos profissionais nos testes de matemática. Isto sugere que aqueles que já têm uma elevada capacidade matemática devem evitar a estimulação.
“É um sistema ótimo. Se introduzirmos um novo ruído nesse sistema, isso vai causar um efeito prejudicial“, disse Kadosh sobre os cérebros dos professores de matemática. “
Kadosh, cofundador da Cognite Neurotechnology, uma empresa de estimulação cerebral, afirmou que as pessoas nas universidades, locais de trabalho e centros de formação poderiam, em breve, beneficiar desta tecnologia.
À Live Science, Sung Joo Kim, psicólogo da Universidade de Binghamton que não esteve envolvido na investigação, alertou que, embora dispositivos de estimulação semelhantes já tenham sido autorizados para utilização em casa, as análises que analisam o seu funcionamento indicam que é necessária mais investigação.
“Quando se pretende estimular determinadas regiões do cérebro, pode não funcionar necessariamente tão bem, a menos que se tenha realmente em conta a estrutura anatómica do cérebro de cada pessoa”, afirmou Kim, recomendando que esses dispositivos sejam personalizados.