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Encontrado o local de descanso final do lendário Grande Exército Viking

(dr) Martin Biddle

Uma foto tirada em 1982 no local de escavações mostra o que podem ser vestígios do Grande Exército Viking

Uma vala comum gigante descoberta no norte da Inglaterra há quarenta anos é o lugar de descanso final do lendário Grande Exército Pagão que saqueou os reinos celtas da Grã-Bretanha durante a Idade Média.

Segundo um artigo publicado esta sexta-feira na revista Antiquity, a enorme vala comum descoberta no norte da Inglaterra há quarenta anos é o lugar de descanso final do Grande Exército Pagão, o lendário exército nórdico que invadiu e saqueou a Grã-Bretanha.

A datação correcta dos restos mortais desta vala é muito importante para nós. Não sabemos praticamente nada sobre as primeiras invasões dos vikings em Inglaterra, que foram a base para a criação das primeiras povoações escandinavas na ilha”, explica a arqueóloga Cat Jarman, investigadora da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Segundo a lenda Anglo-Saxónica, pequenos grupos de vikings começaram por invadir a costa oriental da Inglaterra no século VIII. Os escandinavos entenderam rapidamente que os mosteiros e igrejas britânicas eram presas fáceis cheias de riqueza, e o número de invasões aumentou significativamente nas décadas seguintes.

Quando os reis e senhores feudais anglo-saxónicos começaram a lutar contra os invasores, os vikings mudaram de táctica e enviaram para a Inglaterra um exército enorme, constituído por milhares de guerreiros originários da Dinamarca e da Noruega.

Atingindo a costa da ilha em 865, os vikings destruíram as forças da Nortúmbria e outros reinos anglo-saxões na costa leste, rumaram ao interior do país e conseguiram conquistar Mercia, um dos dois reinos mais fortes dos anglo-saxónicos. Após a vitória, os guerreiros decidiram passar o inverno na cidade de Repton, no actual condado de Derbyshire.

No final dos anos 70, os arqueólogos descobriram um grande sepulcro perto de uma igreja de Repton, no qual estavam sepultadas mais de 200 pessoas. Tendo em consideração a forma de enterro, os cientistas concluíram que essa vala comum era um vestígio do mítico Grande Exército Viking.

(dr) Martin Biddle

Escavações posteriores, como esta de 1986, revelaram que cerca de 300 pessoas estavam seputadas no local

No entanto, essas esperanças foram destruídas depois da abertura da vala. Segundo a análise por radiocarbono dos restos mortais, datavam do século VII ou VIII, tendo-se acumulado no local durante muitas décadas, e não do século IX.

Mas ao mesmo tempo, os fragmentos dos artefactos e armas tinham a idade ‘correcta’ que correspondia às datas da invasão do Grande Exército – o que causou uma grande polémica na comunidade científica.

Jarman e os colegas realizaram mais uma análise dos restos mortais, levando em conta um detalhe que os seus antecessores não sabiam: a ligação entre a dieta e a composição isotópica dos ossos e outros tecidos orgânicos.

“Se comemos apenas peixe ou outros mariscos, entra no nosso organismo uma grande quantidade de carbono cuja idade é ‘maior’ que a do carbono que entra pela comida terrestre. Isso influencia os resultados da análise”, explicou Jarman.

Levando em conta esse dado, os cientistas calcularam que todas as pessoas da vala tinham sido enterradas, quase simultaneamente, em 872-885 a.C., o que corresponde às datas em que os guerreiros do Grande Exército decidiram passar o inverno em Repton.

“Este foi o mais bem documentado erro de datação por carbono da história da ciência”, diz ao Sience Nordic o arqueólogo Søren Sindbæk, da Universidade de Aarhus. “Temos agora a oportunidade de corrigir esse erro. E apesar de não podermos concluir ainda com 100% de certeza de que este era o Grande Exército, parece agora muito mais provável”, conclui.

No futuro próximo, Jarman e os colegas planeiam verificar novamente a idade das outras valas comuns da alta Idade Média encontradas no leste da Inglaterra – para eventualmente descobrir novos vestígios do Grande Exército.

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