115 milhões de euros: o maior empréstimo da história do futebol português. “Passo histórico” para os azuis e brancos, diz sucessor de Pinto da Costa. João Koehler, no entanto, descreve acordo como “uma anedota”.
O prometido é devido. André Villas-Boas renegociou a dívida do FC Porto com emissão de obrigações de 115 milhões de euros nos Estados Unidos e cumpriu assim mais uma das suas promessas eleitorais com o maior empréstimo da história do futebol português.
A SAD portista anunciou o empréstimo obrigacionista esta quinta-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) onde afirma que o clube conseguiu financiar-se no mercado norte-americano através da emissão de obrigações, com uma taxa de juro fixa de 5,62% ao ano e um prazo de 25 anos.
“Trata-se de uma operação inovadora a nível nacional e internacional”, disse o administrador financeiro da SAD, José Pedro Pereira da Costa: a taxa de juro “é muito vantajosa para o FC Porto“.
0,26% ao ano do valor total da emissão
A emissão de obrigações foi coordenada pelo J.P. Morgan, enquanto a Key Capital Partners atuou como consultora financeira. O processo também contou com o apoio jurídico das firmas Clifford Chance e PLMJ, que “atuaram como assessores legais do FC Porto”.
O J.P. Morgan “atuou como agente colocador das obrigações, surgindo a Key Capital Partners como advisor financeiro do FC Porto”.
Segundo a SAD azul e branca, os custos totais destes serviços, incluindo a agência de rating, representam apenas “0,26% ao ano do valor total da emissão”.
Prometido é devido
A operação estava prometida desde a campanha eleitoral para a presidência do clube.
Durante a campanha, aquele que viria a ser o novo presidente do FC Porto após 42 anos de Jorge Nuno Pinto da Costa deixou a garantia de que as coisas iriam mudar.
Entretanto, os adversários, nomeadamente João Rafael Koehler, questionavam como é que Villas-Boas alcançaria uma taxa inferior a 5%.
Garantias reais no acordo que PdC assinou com Koehler
O fundo ligado ao mesmo Koehler, Quadrantis, tinha acordado em fevereiro com o FC Porto um empréstimo de 75 milhões de euros com obrigação do pagamento do custo da dívida à cabeça com 25 milhões, avança o Record. O acordo foi alegadamente assinado por Pinto da Costa e Fernando Gomes, ex-presidente e administrador da SAD.
O FC Porto ficaria como fiador nesse empréstimo destinado a pagar a construção da Academia de Futebol na Maia. A garantia seriam os passes dos jogadores Otávio e Alan Varela, mais o pagamento de 15 milhões em todos os meses de setembro durante 5 anos. Neste empréstimo, Koehler cobraria juros de 13%.
“Não há limite para a vergonha?”
Koehler foi dos primeiros a reagir ao empréstimo já considerado “histórico” por Villas-Boas: o aliado de Pinto da Costa diz que o novo presidente vai “hipotecar o clube”.
“Não haverá limite para a vergonha?”, questiona o empresário numa publicação no X em reação ao empréstimo.
“Ainda não se conhecem os detalhes todos do financiamento hoje anunciado, mas já há aspetos muito óbvios: o FC Porto não se está a financiar mais barato nem melhor, está é a financiar-se a um prazo maior, para quem vier a seguir tenha de resolver”, começou por escrever o “ex-tubarão” do programa “Lago dos Tubarões”.
“Em poucas palavras, o financiamento atual é semelhante em taxas a anteriores, mas é imensamente pior em termos de prazo. Não é só pior, é terrivelmente pior”, adiantou, antes de descrever o novo acordo como “uma anedota”.
“Por outro lado, não vai parar de aumentar o prazo em que este Presidente promete resolver os problemas? Primeiro falava-se num mandato, depois eram precisos 12 longos anos, e já vamos em 25 anos? Um quarto de século? Não haverá limite para a vergonha?”, questiona o investidor.
“Em 2049 estarão os nossos filhos a pagar este financiamento apresentado como se fosse uma solução, quando mais parece a criação de problemas maiores e com prazos que, sobretudo com este nível de juro acumulado, parecem mais uma anedota do que uma proposta séria”, projeta: “será que já se percebeu que estamos a falar de pagar quase 100 milhões só em juros?”.
A emissão de obrigações conseguida por Villas-Boas não exige, por sua vez, garantias reais: é baseada nos dividendos gerados pela Porto Stadco, subsidiária que detém 70% dos direitos económicos do FC Porto nessa sociedade.
A procura pelas obrigações atingiu os 170 milhões de euros. Durante os primeiros três anos, serão pagos apenas os juros anuais e, a partir de 2028, os reembolsos de capital e juros serão feitos em prestações constantes, com uma maturidade média ponderada de 16,5 anos.