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Elas já são a maioria da população (mas ainda têm de trabalhar mais 51 dias para ganhar como eles)

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SXC

Portugal lidera o ranking dos países com mais mulheres empreendedoras na região euro-mediterrânica, com 37,2%, seguido da Croácia com 31,5%. Contudo, a desigualdade salarial aumentou durante a pandemia e as mulheres precisam de trabalhar mais 51 dias para igualar o salário dos homens.

O empreendedorismo na região euro-mediterrânica ainda tem “rosto masculino”, mas Portugal lidera nas mulheres empreendedoras.

De acordo com um relatório da União para o Mediterrâneo (UpM), divulgado esta semana, Portugal lidera o ‘ranking’ dos países com mais mulheres empreendedoras com 37,2%, seguido da Croácia com 31,5%.

Já em Marrocos, “as mulheres representam apenas 12,8% dos empresários e o seu número baixou no último ano”, lê-se no relatório.

Por outro lado, dados compilados pela base de dados Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, mostram que a desigualdade salarial entre homens e mulheres aumentou durante a pandemia de covid-19, de tal maneira que Portugal, Letónia e Finlândia são os únicos três países europeus em que isso aconteceu entre 2019 e 2020.

Para Portugal, o valor relativo à disparidade salarial de homens face mulheres situou-se nos 11,4% em 2020 depois de ter estado nos 10,9% em 2019.

Por outro lado, a disparidade salarial de mulheres face a homens chegou aos 14,1% em 2019, o que corresponde “a uma perda de 51 dias de trabalho remunerado para as mulheres”, refere a Pordata.

No entanto, a presença de mulheres no mercado de trabalho cresceu, passando de 59% em 1993 para 72% em 2020.

“Quando comparadas as taxas de emprego com a média da União Europeia a 27 verifica-se que há mais mulheres em Portugal a trabalhar do que a média europeia”, que está nos 66,8%.

Apesar de a taxa de emprego em 2020 ser mais elevada entre os homens (77,8%) do que nas mulheres (71,9%), foi entre elas que a evolução foi mais expressiva, tendo em conta que em 1993, só 59,2% das mulheres estavam empregadas enquanto entre os homens a percentagem era de 81,2%.

Mulheres já superam homens em profissões “tipicamente masculinas”

Os dados compilados pela Pordata permitem também verificar que “as mulheres já superam os homens em algumas profissões que, no passado, eram tipicamente masculinas”, como seja o caso de médicas (56,3%), advogadas (55%) e magistradas (61,9%).

“Também na investigação elas vão conquistando terreno: representam 42% do total de investigadores. Continuam a predominar na docência até ao ensino secundário e estão sub-representadas na polícia (8,4%)”, refere a Pordata.

Apesar de nascerem mais homens, as mulheres portuguesas vivem mais e por isso “representam a maioria da população”, havendo cem mulheres por cada 91 homens.

Vivem, em média, mais seis anos do que os homens, apesar de terem à nascença uma esperança média de vida saudável de 58 anos contra 61 dos homens.

Já a esperança média de vida aos 65 anos era em 2020 de mais 21,5 anos para as mulheres e 17,8 anos para os homens.

“Em 2021, apenas cerca de uma em cada 20 mulheres, dos 18 aos 24 anos, abandonou os estudos sem concluir o ensino secundário, enquanto entre eles foram dois em cada 20 que deixaram de estudar sem completar o secundário”, lê-se nos dados da Pordata.

As mulheres portuguesas casam-se, em média, aos 33 anos, enquanto nos homens é aos 35 anos, e têm o primeiro filho cada vez mais tarde, aos 31 desde 2019, uma realidade que tem vindo a agravar-se desde o início do século e que fez a idade média das mães aumentar em cerca de quatro anos.

O relatório da UpM destaca algumas medidas de incentivo à igualdade de género implementadas nos 42 países que fazem parte da organização, destacando que Portugal foi um dos 11 países – juntamente com Algéria, Bósnia Herzegovina, Egito, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Montenegro e Tunísia – que aprovou legislação para equilibrar a representação de género no Parlamento ou nas estruturas regionais.

Portugal está entre os países da zona euro-mediterrânica com pelo menos 30% de mulheres no Parlamento (39,5%) e no Governo (40%).

Marcelo realça “o tanto que ainda há a conquistar”

O Presidente da República assinala hoje o Dia Internacional da Mulher com uma mensagem em que elogia o seu papel na sociedade e a luta pela igualdade, considerando “ainda insuficientes” os passos dados contra a discriminação neste âmbito.

“Neste dia, cabe reconhecer a todas e a cada uma das mulheres do nosso país o seu papel na liderança dessa luta em prol do tanto que ainda há a conquistar“, afirma Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet.

Marcelo “enaltece a entrega incansável das mulheres na sociedade portuguesa — na esfera pública e na esfera privada — enquanto personalidades, trabalhadoras, cuidadoras, nossas avós, mães, tias, irmãs, primas, amigas, companheiras, a quem devemos amor, educação, orientação, exemplo de vida e força nas nossas vidas e, não raro, vítimas, elas mesmas, nas suas casas e empregos, de violência, assédio e discriminação”.

“Os passos dados na nossa democracia para mitigar a discriminação contra as mulheres e salvaguardar a igualdade foram decisivos, mas são ainda insuficientes“, analisa ainda o Presidente da República.

Marcelo também estende a sua “admiração solidária, a sua gratidão sincera e uma palavra de esperança e coragem” a “todas as mulheres, particularmente àquelas cujas existências são pautadas pelo desalento e pelo medo silenciosos”.

No início do seu segundo e último mandato como Presidente da República, Marcelo aumentou para mais de 60% as mulheres na sua nova equipa.

Planos da Estratégia para a Igualdade em consulta pública

O Governo vai colocar em consulta pública os três planos de acção para 2022-2025 que integram a Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação.

O gabinete da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, divulga, no Dia Internacional da Mulher, que vão estar em consulta pública, entre os dias 9 e 22 de Março, o Plano de Acção para a Igualdade entre Homens e Mulheres, o Plano de Acção para a Prevenção e o Combate à Violência Contra as Mulheres e a Violência Doméstica e o Plano de Acção para o Combate à Discriminação em razão da Orientação Sexual, Identidade e Expressão de Género, e Características Sexuais.

Estes planos incluem “medidas, indicadores e metas concretas nas áreas da promoção da igualdade entre mulheres e homens, da prevenção e combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica, e do combate à discriminação em razão da orientação sexual, identidade e expressão de género, e características sexuais”.

“Terminado o primeiro período de vigência destes Planos de Ação (2018-2021), importa proceder à sua revisão para o período 2022-2025, com base em prioridades assentes nas metas da Estratégia até 2030, que consolidem os progressos alcançados e que tenham em conta o diagnóstico entretanto realizado bem como os impactos da crise pandémica”, refere o gabinete de Rosa Monteiro.

A versão que vai agora para consulta pública já inclui as propostas recebidas na primeira fase de recolha de contributos, que decorreu entre 17 de Janeiro e 7 de Fevereiro, e realizada pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG).

Todas as pessoas que queiram deixar o seu contributo devem fazê-lo através da plataforma ConsultaLEX, sendo obrigatória a inscrição de quem queira exercer o seu direito de participação, seja cidadão ou empresa.

ZAP // Lusa

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1 Comment

  1. Artigos como este deixam no ar a suspeita que as diferenças salariais entre homens e mulheres se deve a discriminação. Porém, a causa não é essa.
    Tal como explica Christina Hoff Sommers no vídeo “There Is No Gender Wage Gap” (pesquisar no YouTube e ativar legendas em português), essa diferença salarial existe mas não é causada por discriminação.

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