Eduardo Uram, o “Jorge Mendes canarinho” que é dono de um clube “barriga de aluguer”

Tombense / Twitter

Jogadores do Tombense a festejar um golo.

Jogadores do Tombense.

Eduardo Uram gere o Tombense, clube por onde passam vários jogadores geridos pelo empresário brasileiro. O emblema que conseguiu a promoção à Série B brasileira é visto como um clube “barriga de aluguer”.

No final de agosto deste ano, a FIFA divulgou um estudo sobre o mercado de transferências internacionais na última década. Na lista de clubes que mais jogadores empresta surge um nome, no mínimo, inesperado: o Tombense. O emblema da Série C, a terceira divisão brasileira, emprestou um total de 73 atletas de 2011 a 2020.

O que faz um clube como o Tombense, que luta pela promoção ao segundo escalão canarinho, ceder tantos jogadores?

Desde 1999, o Tombense, clube presidido por Lane Gaviolle, tem parceria com o empresário Eduardo Uram, dono da empresa de gestão de carreiras desportivas Brazil Soccer Sports Management. Aliás, o principal patrocínio das camisolas do Tombense é da Brazil Soccer.

Recentemente, o negócio de Caio Paulista entre o Fluminense e o Tombense deu que falar. Paulista foi inicialmente cedido ao Fluminense, que viria a comprar 50% dos direitos desportivos do avançado por cerca de 1,2 milhões de euros. O presidente do Flu, Mário Bittencourt, disse que não pôde incluir uma cláusula de opção de compra porque o empréstimo foi feito a custo zero.

Em declarações ao portal Netflu, o advogado Victor Campos, que trabalha em direito desportivo, diz que o negócio acabou por ser mais vantajoso para o clube do empresário Eduardo Uram, que gere a carreira de Caio Paulista e de outros três jogadores do Fluminense.

Além disso, desmentiu Bittencourt, dizendo que não há nada na legislação brasileira que impeça contratos de empréstimo de terem preço fixado, até mesmo quando ocorre sem custos.

Quando o Fluminense anunciou a contratação do lateral-esquerdo Danilo Barcelos, em setembro, viu as suas redes sociais serem invadidas por críticas. Os adeptos acusavam o presidente ‘tricolor’ de ser influenciado por Eduardo Uram para contratar um jogador seu cliente.

“A minha relação com o Mário [Bittencourt] é extremamente profissional. Não é porque temos bom trato e respeito mútuo que haveria qualquer tentativa de ganho de vantagem que viesse a prejudicar o Mário ou o clube em algum tipo de ‘sacanagem'”, disse Eduardo Uram, contactado pela Globo.

“Eu não posso concordar que achem que ter quatro representados num plantel de mais de 20 jogadores seja um número elevado, indicando que eu tenha qualquer aliança com o clube e a sua direção”, acrescentou, sacudindo a água do capote.

No Brasil, o longo historial de empréstimo do clube, faz com que este seja conhecido como “barriga de aluguer”, visto como meramente uma ponte para que Uram fugisse às normas da FIFA que impedem uma pessoa de ser dona dos direitos económicos de um atleta.

O Ministério Público português está inclusive a investigar um suposto esquema ilegal envolvendo o Porto e o Tombense na compra de Evanilson, que custou 8,78 milhões de euros.

O esquema pode envolver comissões irregulares no valor de milhões de euros. João Marcelo, Wesley e Caíque também deixaram o Tombense para assinar pelo Porto B.

Pinto da Costa garantiu que “não há nada de estranho” na ligação entre os dois clubes. Segundo o presidente portista, as transferências foram feitas segundo os trâmites legais. “Vamos enviar os contratos ao Ministério Público”, garantiu Pinto da Costa.

“O Evanilson foi comprado ao Tombense, porque era do Tombense, mas estava emprestado ao Fluminense. Foi com o Tombense que o FC Porto negociou, num contrato claríssimo, que frisa que o jogador rescindiu no Fluminense para vir para o FC Porto. Os outros jogadores, o João Marcelo, o Caíque e o Wesley, vieram a custo zero, por empréstimo, sem qualquer comissão. Vão apenas custar estadia aqui e ordenado”, disse o líder ‘azul e branco’.

“Não envolveu comissão de empréstimo seja para quem for. Vamos enviar contratos ao Ministério Público para, se for verdade, não perderem tempo e confirmarem a veracidade do documento e que todas as transferências foram feitas legalmente”, acrescentou.

“Todas as operações ligadas ao Tombense estão registadas em todos os sistemas eletrónicos de transferência. Podem investigar se quiserem porque que não tem nada de anormal”, disse Eduardo Uram ao jornal Globo.

Através da Brazil Soccer Sports Management, Uram recebe comissões relacionadas com a transferência de jogadores envolvendo o Tombense, clube que gere. Nas redes sociais, o denunciante português Rui Pinto disse “esperar que seja tudo devidamente investigado”.

Na gíria financeira, um kickback é um pagamento ilegal que visa compensar o tratamento preferencial ou qualquer outro tipo de serviço indevido recebido.

Num outro episódio, em julho, o Cruzeiro chegou a acordo com Eduardo Uram, oferecendo os lucros obtidos na loja do clube para saldar dívidas que tinha relativamente ao pagamento de comissões ao empresário, escreve o Globo.

As dívidas acumuladas referem-se a serviços de intermediação das transferências de Willian e Rafael Marques, além de dois contratos de intermediação da contratação e renovação de Egídio.

Para garantir o pagamento do acordo com a Brazil Soccer, o Cruzeiro colocou os royalties “recebidos da loja oficial do Barro Preto” à disposição. O montante em causa ronda os 765 mil euros.

Dos 48 jogadores agenciados por Eduardo Uram na Brazil Soccer, segundo o portal Transfermarkt, 32 estão ou já estiveram no Tombense.

Os resultados da investigação conhecida como Swissleaks mostraram que Eduardo Uram tinha uma conta no banco HSBC, na Suíça, compartilhada com outras três pessoas do mesmo sobrenome. Aberta a 14 de junho de 1989, em 2006/2007 tinha 343 mil dólares.

Uram defendeu que nunca teve a referida conta e declarou que o vazamento de dados era um “absurdo”.

Daniel Costa, ZAP //

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