As eleições alemãs são já este domingo. Mais do que com a imigração, grande parte dos eleitores alemães estão profundamente preocupados com a economia – e com razão.
A economia alemã está em recessão e tem vindo a diminuir há dois anos consecutivos.
Os eleitores estão preocupados. Sofreram uma estagnação dos rendimentos reais e permanecem pessimistas. A perspetiva para os próximos tempos é que o poder de compra continue a diminuir.
Mas o que pode explicar este mal-estar económico da Alemanha?
A Guerra
Em primeiro lugar, a política orçamental na Alemanha é mais restritiva do que noutros países, o que significa impostos mais elevados e despesas públicas mais reduzidas.
Devido ao “travão da dívida” consagrado na sua Constituição, a Alemanha está severamente limitada na execução de défices orçamentais, exceto quando o governo declara uma emergência, como aconteceu devido à Covid-19.
O último governo de coligação entrou em colapso devido a uma disputa sobre a possibilidade de declarar outra emergência devido à guerra na Ucrânia, a fim de aumentar a capacidade de endividamento.
Tal não aconteceu e, consequentemente, o défice orçamental da Alemanha manteve-se relativamente moderado.
Como explicam os economistas alemães Ralph Luetticke e Gernot Müller, num artigo publicado no The Conversation, o argumento é que um défice maior poderia ter impulsionado o crescimento económico.
Os Novos Tempos
Em segundo lugar, durante décadas, a Alemanha dependeu da procura externa para sustentar o crescimento económico interno. Nas duas primeiras do século XXI, beneficiou fundamentalmente da integração da China na economia mundial.
Por seu turno, para desenvolver a sua capacidade produtiva, a China dependia fortemente da maquinaria produzida na Alemanha e comprou um número significativo de automóveis alemães. No entanto, esta situação já não se verifica.
Entretanto, a China avançou para a fronteira tecnológica e já não depende tanto dos automóveis ou das máquinas alemãs.
No entanto, explicam Luetticke e Müller, estes dois fatores não são suficientes para explicar a estagnação da economia alemã. Porque se a procura – interna ou externa – é demasiado fraca para sustentar o crescimento, isso deveria refletir-se na queda dos preços. Só que os preços têm estado a subir fortemente. A inflação na Alemanha tem sido elevada nos últimos dois anos.
O desemprego é outro indicador relevante também sugere que a falta de procura não deverá ser a principal razão para a estagnação da Alemanha. A taxa de desemprego é baixs na Alemanha, inferior ao da maioria dos países europeus e dificilmente superior ao registado em 2019.
Em vez disso, as condições adversas da oferta são fundamentais, tal como refletido nas expectativas das famílias de queda dos rendimentos e de aumento da inflação.
Em termos gerais, a oferta é simplesmente a combinação de mão de obra e de capital (por exemplo, a dimensão da força de trabalho e a maquinaria ou instalações disponíveis), juntamente com a produtividade ou tecnologia, que nos diz qual a quantidade de produção que obtemos a partir da mão de obra e do capital. A Alemanha está a enfrentar uma tripla crise neste domínio – energia cara, fraca oferta de mão de obra e baixo crescimento da produtividade.
Em primeiro lugar, há os preços da energia, que foram empurrados para cima em todo o lado pela invasão russa da Ucrânia. No entanto, o efeito foi particularmente forte na Alemanha, devido à sua dependência direta do gás russo.
O governo cessante, no qual os Verdes têm sido um ator-chave, é amplamente reconhecido por ter tentado acelerar a transição ecológica da Alemanha. Este facto fez aumentar os custos da transição para além dos causados pelo sistema europeu de comércio de licenças de emissão, segundo o qual os poluidores pagam pelas suas emissões.
Embora seja difícil determinar os contributos exatos da guerra e da transição ecológica para o aumento dos preços da energia, ambos funcionam claramente como um entrave ao crescimento, em especial do lado da oferta (ou seja, do potencial de produção).
A Produtividade
A terceira questão é o crescimento da produtividade (ou a falta dele). Consideremos o aumento do PIB por hora trabalhada nos EUA, que subiu mais de 10%, superando a evolução registada na Alemanha e no Reino Unido.
Entre as causas comuns do fraco crescimento da produtividade contam-se o envelhecimento das infra-estruturas, o baixo investimento do sector privado, a falta de empresas em fase de arranque e o número reduzido de novas empresas que se transformam em líderes multinacionais.
Uma reviravolta exige melhorias profundas nas condições de oferta. Em termos de energia, a Alemanha deve evitar medidas como a introdução de mais regulamentação sobre o aquecimento ou o isolamento de casas novas e existentes e, em vez disso, confiar no regime de comércio de licenças de emissão a nível da UE para reduzir as emissões.
No mercado de trabalho, é necessário aumentar a participação ou a migração qualificada, apoiada por políticas que incentivem as pessoas a reformarem-se mais tarde e que atraiam mais mulheres para o mercado de trabalho.
O crescimento da produtividade continua a ser a questão mais difícil. Um bom começo seria aumentar o financiamento das universidades e reduzir a regulamentação, em especial no que respeita à tecnologia de IA.
Aprofundar o mercado único da UE, por exemplo, eliminando as restrições ao comércio transfronteiriço de energia para permitir que as empresas tenham acesso a eletricidade mais barata, aumentaria a concorrência e impulsionaria o crescimento da produtividade. Desta forma, as empresas poderiam expandir-se e criar empregos bem remunerados.
Por último, o aumento das despesas com a defesa pode dar um impulso adicional, não só para melhorar a segurança externa da Alemanha, mas também porque está provado que aumenta a produtividade.
Embora a imigração possa ser um dos principais pontos de discussão para o eleitorado alemão nas próximas eleições, a economia – como sempre – será um fator importante para medir o estado de espírito do país.
As eleições antecipadas na Alemanha realizam-se este domingo (dia 23).
ZAP // The Conversation